O calendário eleitoral prevê eleições presidenciais para outubro do próximo ano. E os políticos de todas as tendências não pensam em outra coisa e, naturalmente, dedicam as suas energias à montagem de diferentes candidaturas. No entanto, não é exagero temer pelo pleito presidencial de 2022. Considerando as condições políticas do Brasil, as ameaças do presidente da República e, principalmente, o seu ensaio de golpe do dia 7 de setembro, as eleições não parecem asseguradas.
Até lá, tudo indica que vamos ter graves problemas que podem tumultuar, ou mesmo inviabilizar o pleito eleitoral. Na melhor das hipóteses, uma campanha eleitoral carregada de ódio e recheada de agressões e violências, um tumulto social e político que ameace as eleições. No meio desse tumulto, que seria acentuado com uma eventual derrota eleitoral, Bolsonaro promoveria nova tentativa de golpe, que poderia suspender eleições e implantar um regime ditatorial.
Diante deste prognóstico bastante plausível, a grande prioridade das forças democráticas do país neste momento deveria ser a realização de eleições democráticas, limpas e seguras, e a garantia da posse do candidato eleito. Não é razoável esperar que os potenciais candidatos suspendam suas articulações políticas para as eleições com pouco mais de um ano de antecedência. Mas é fundamental que todas as tendências e forças políticas, independentemente das suas eventuais candidaturas, articulem-se numa Frente Democrática para deter os impulsos golpistas de Bolsonaro. Do contrário, não teremos eleições, ou o vitorioso no pleito, seja lá quem for, pode ser impedido de assumir o cargo.
O que parece uma obviedade, que levaria naturalmente ao entendimento para a formação da Frente Democrática, a organização conjunta de reações, manifestações e propostas de medidas de contenção da fúria autoritária, desmancha-se no meio dos interesses e dos desvios eleitorais. Em vez de discutir a formação da frente, e de providências de cooperação, cada grupo de interesses já tem o seu candidato, e não está minimamente preocupado com o caminho tortuoso que teremos até outubro de 2022. Ou, como tem sido mais comum, as discussões são desviadas para a escolha entre os candidatos que, supostamente, já estariam no segundo turno, como se não houvesse um primeiro. Com o risco desta insensatez política, esta miopia eleitoral, pode vir a impedir a própria realização das eleições, e destruir a democracia brasileira.
A propósito das manifestações. Não existe isso de “Frente Democrática” que acha de excluir uma parte dos democratas. O movimento “Diretas Já” não excluiu ninguém das manifestações. “Frente Democrática” é união pela democracia, tem que incluir todos os que defendam a democracia contra o golpismo e projetos ditatoriais evidentes. A “Frente Democrática” hoje não pode excluir nem lulista que é contra o bolsonarismo por seu caráter autocrático, nem ex-eleitores de Bolsonaro que hoje criticam o bolsonarismo por ser um movimento ditatorial. Eu acrescentaria que a “Frente Democrática” também deveria deixar claro e explicar a todo mundo que essa polarização raivosa e cega que assola o país, qualquer que seja seu lado, fará com que o Brasil permaneça um país atrasado em todas as frentes: na economia, na sociedade, na cultura, na saúde.