Crossroad – autor não identificado.

 

Os que conspiram contra a emergência de uma candidatura da chamada terceira via, como os inescrupulosos caciques do MDB, Renan Calheiros e Eunício Oliveira, estão jogando a favor de Bolsonaro, mesmo que defendam o apoio a Lula no primeiro turno, para impedir a reeleição de Bolsonaro. O movimento para detonar a candidatura da senadora Simone Tebet não vai transferir votos do centro-democrático para o candidato petista, e pode, na verdade, ter o efeito contrário. A ausência de candidatos alternativos à polarização tenderia a deslocar grande quantidade votos conservadores para Bolsonaro já no primeiro turno, o que, em parte, já está ocorrendo, como mostra o recente crescimento das intenções de voto em Bolsonaro, particularmente depois da retirada da candidatura de Sérgio Moro. Como uma vitória de Lula no primeiro turno é muito pouco provável, um resultado apertado na primeira rodada eleitoral, devido à falta de alternativas, deve ampliar as incertezas em relação ao segundo turno, e o risco de uma tentativa golpista de Bolsonaro. 

Vale lembrar, por outro lado, que Renan e companhia não estão muito preocupados com a eleição de Lula. Para estes falsos lulistas, o fundamental, agora, é o acesso ao fundo eleitoral, que será mais robusto se o MDB não tiver candidato próprio a presidente, e atrelar suas candidaturas ao nome do ex-presidente Lula, indiscutivelmente o maior eleitor no Nordeste, particularmente nas Alagoas e no Ceará. Comportamento semelhante ao do Centrão, liderado por outro alagoano, Arthur Lira, que apoia Bolsonaro, mas não se importa com quem será o futuro presidente da República, porque o seu poder, em qualquer governo, será do tamanho da sua bancada no Congresso. 

Em tese, a fragilidade da terceira via, reforçando a polarização, não é bom para a democracia brasileira. Excetuando Ciro Gomes, com um discurso eivado do mesmo nacional-desenvolvimentismo e voluntarismo de Lula, qualquer outro candidato de centro, como Simone Tebet, tende a atrair eleitores conservadores e reformistas (favoráveis às reformas estruturais e à rigorosa gestão fiscal) que não aceitam Bolsonaro, mas rejeitam Lula. Por isso, no primeiro turno, a fragilidade da terceira via favorece mais Bolsonaro do que Lula, e contribui para uma disputa muito acirrada, já no primeiro turno das eleições. Por todas as pesquisas recentes, mesmo antes dos recorrentes desmantelos dos seus discursos, tudo indica que Lula bateu no teto das intenções de voto, podendo atrair apenas uma parcela maior dos eleitores de Ciro Gomes, que resiste no terceiro lugar. 

É verdade que a chamada terceira via está se inviabilizando pelas suas próprias trapalhadas, e pela indisposição dos partidos e potenciais candidatos para um acordo em torno de uma candidatura capaz de atrair os eleitores desalentados e dispersos do centro democrático. Em todo caso, é precipitado declarar inviável uma candidatura alternativa, a seis meses das eleições, com nomes que nunca tiveram a evidência publicitária de Lula e Bolsonaro, não se apresentaram ao eleitorado com alguma história política e com propostas de governo. Ninguém neste país tem um nome mais lembrado, para o bem ou para o mal, que Lula e Bolsonaro, nem mesmo João Dória, que governou o maior Estado do Brasil e ganhou destaque na produção de vacina e na luta contra o negacionismo bolsonarista. Se não existe confiança para apostar muitas fichas nos nomes que estão sendo colocados no cenário eleitoral, menos ainda existe para afirmar, de partida, que são inviáveis, antes mesmo de iniciada a campanha eleitoral, e nivelado o grau de exposição dos diversos candidatos. Torcer contra, ou pior ainda, tentar desmontar as articulações que poderiam levar a uma candidatura alternativa, é um desserviço à democracia e um movimento que pode favorecer mais a Bolsonaro do que à oposição a este governo demolidor da nação brasileira.