Minha intenção hoje seria tratar de um tema de  forte impacto socioeconômico e que também me incomoda bastante: saneamento básico. Sem dúvida, um item que, na minha influência bachaniana, ao enxergar o Brasil de hoje como uma certa “Luxemália”, deixa-nos com o pé na alarmante pobreza da Somália. Ostensivamente, atolado na vergonha dos dejetos que apontam para a falta de esgotamento sanitário.

No entanto, movido pela pressão dos meus pares, que se atreveram a fazer cultura e dela se nutriram para adquirir tanta resiliência, vejo que também é preciso retirar tal setor do atoleiro que lhe foi metido, justo pela ausência de políticas públicas. Portanto, cabe-me a busca por esgotar esse assunto, para daí mostrar que sanear a cultura é algo possivel. Mesmo que se saiba, de pronto, que os desafios serão de soluções compexas, tamanho é o estrago em 4 D: desconhecimento, desinformação, descrédito e destruição.

De fato, saber lidar agira com a  “reconstrução” é tarefa incomum para os inexperientes e os que vivenciaram outros tempos – os da bonança. Experiência para uma gestão de crise, com capacidade técnica de promover uma inflexão, representa o real sentido do avanço que se espera . Assim, a cultura terá um triplo desafio, que bem represente o peso da responsabilidade de uma gestão que reconstrua e não perca a visão de futuro. Tudo junto e misturado.

Num primeiro plano, está a pesada tarefa do resgate orgânico e institucional. Isso implica não só em recriar o Ministério como órgão gestor. É preciso retomar as politicas públicas que deram certo, corrigir erros passados e ajustar-se à realidade. Pela experiência de quem está no setor há 30 anos e que já esteve nessa esfera orgânica, isso é exercício árduo e que poderá consumir até metade do tempo de governo.

Nesse compromisso, saber-se da diferença conceitual entre incentivos e fundos. Por exemplo: não dá para apostar no resgate do velho PROCULTURA, nem muito menos dar guarida ao desenho semelhante de sinal invertido, que tramita no Congresso por proposição do governo que finda. São  conceitos errôneos e com traços intervencionistas.

Tão importante quanto isso será  o esforço incomum de reconstruir uma imagem setorial que foi destruída. Se considerarmos a massa de eleitores do derrotado, composta por um estrato representativo do topo da pirâmide, temos aí a expressão do desdém que esses agentes sociais têm hoje pela cultura. Tornaram-se contrários aos nossos mecanismos de custeio e sequer sabem do sentido econômico e identitário que garantem ao setor um papel estratégico para o desenvolvimento. Foram anos de “fakes” e “criminalizações”, que deixaram a cultura em terra arrasada.

Por fim, não obstante o peso da reconstrução dada pelos dois pontos iniciais, precisaremos construir o novo. E isso impõe visão de futuro e pensamento estratégico, para entender que o setor cultural precisa fazer parte do eixo dinâmico, que fará rodar a engrenagem econômica. Isso é compreender um pilar responsável por um modelo de desenvolvimento sustentável, que considere a humanização como núcleo operativo. Isso é fazer não só valer a expressão econômica da cultura. Mais do que isso, é integrá-la ao projeto de desenvolvimento socioeconômico que o Brasil carece. Para começar, será preciso dar consistência métrica ao setor, que tenha respaldo em órgãos públicos respeitáveis, como o IBGE e o IPEA.

Por isso tudo, bem mais que nomes, o setor precisa de uma nova pauta. Algo capaz de entender e superar os desafios, para que se conquiste, definitivamente, uma outra forma de encarar a cultura: com relevância econômica e o mérito de ser um dos eixos dinâmicos do modelo de desenvolvimento.