O governo Lula da Silva mal começou e teve que enfrentar uma ameaça de golpe e as tensões dramáticas da invasão e destruição das principais instituições democráticas do país. Mas parece que o próprio presidente Lula não percebeu ainda que tomou posse há vinte dias. Ele continua no palanque. Depois dos seus discursos de posse no dia primeiro de janeiro (no Congresso e no púlpito do Palácio do Planalto), o Brasil esperava que o presidente Lula da Silva descesse do palanque, reduzisse o tom dos seus pronunciamentos e se concentrasse na definição da estratégia de governo e na condução do país. No entanto, ele gosta mesmo é de palanque, de falar para plateias, as mais diversas, sempre ajustando o tom das suas falas aos ouvintes, esperando arrancar aplausos. Embora seja um grande negociador, nestes 20 dias de governo, Lula tem feito sempre discursos populistas que, no fundo, atrapalham as negociações e o próprio desempenho do governo. Atuou muito bem na costura da reunião dos governadores em defesa da democracia, com a emblemática descida da rampa do Palácio. Mas, antes de descer a rampa, na sua fala anterior para os governadores e políticos, ele subiu no palanque e, entre outras preciosidades, voltou a chamar de golpe o impeachment da ex-presidente Dilma, uma impropriedade repetida apenas por petistas.
Seus arroubos populistas dificultam o trabalho dos seus ministros. Fernando Haddad e Simone Tebet anunciaram, esta semana, um pacote de medidas para recuperar o equilíbrio fiscal, dando uma sinalização positiva de que pretendem buscar o equilíbrio fiscal. Dois dias depois, na panfletária entrevista à Globonews, Lula criticou a independência do Banco Central, reclamou da meta de inflação e ainda repetiu sua indignação com o pagamento da dívida pública, a velha história da “ganância dos ricos” contra os pobres, tão ao gosto do populismo mais rasteiro. Embora tenha dito, mais de uma vez, que queria pacificar o Brasil, nos seus repetidos discursos Lula fala para agradar aos petistas, ignorando as lideranças e forças políticas que viabilizaram a sua vitória e que podem garantir a governabilidade.
É verdade que os dramáticos eventos de 8 de janeiro obrigaram o governo a redirecionar parte das suas energias para impedir o golpe de Estado que estava sendo preparado por Bolsonaro e vários militares da reserva e da ativa. Mas este é um motivo adicional para que presidente desça do palanque, fale menos e negocie mais, precisamente o que sabe fazer de melhor. Nos assuntos mais delicados, como da conspiração nas Forças Armadas, de novo, Lula expõe sua incontinência verbal, sempre que tem um microfone e uma câmera à sua frente. O comandante supremo das Forças Armadas dizer que não confia nos militares, como falou na entrevista, é, ao mesmo tempo, uma demonstração de fraqueza e uma provocação ao estamento militar, dominado por um forte ranço antipetista. Em vez de distensionar as relações, ele acentua a desconfiança mútua com os militares.
O certo é que presidente ainda não desceu do palanque e tem concentrado seus discursos para agradar à sua bolha de simpatizantes, se afastando e, muitas vezes, estigmatizando amplas parcelas da população brasileira que, embora não tenham votado nele, podem apoiar um programa de reconstrução nacional e desenvolvimento do Brasil. Para o bem do seu governo e, claro do Brasil, é urgente que Lula desça do palanque.
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