A China é a segunda potência econômica mundial e o maior parceiro comercial do Brasil. A potência asiática é destino de mais de um quarto das exportações brasileiras e cerca de 34% das exportações do agronegócio do Brasil. E, embora seja também um grande importador de produtos chineses, o Brasil tem tido um elevado saldo da Balança Comercial, ao contrário da sua relação deficitária no comércio com os Estados Unidos. O comércio Brasil-China é muito desigual quando se trata do perfil dos produtos comercializados; as exportações brasileiras praticamente se concentram em commodities de baixo valor agregado, ao contrário das nossas importações da China, com predomínio de produtos industriais de alto valor agregado (à exceção das “bugigangas” do comércio de sites de ecommerce). O Brasil é o maior receptor de investimentos externos da China em todo o mundo (dados de 2021), com presença importante das empresas chinesas em projetos de infraestrutura no país. 

A visita do presidente Lula da Silva deve consolidar e ampliar as relações econômicas e comerciais, assinando acordos em várias áreas, incluindo cooperação na área de tecnologia, de grande interesse para o Brasil. O Brasil aposta em “negócios da China” e a China está focada em “negócios do Brasil”. Como a maior economia da América Latina e liderança econômica regional, o Brasil deve intensificar as negociações e construir parcerias com as grandes potências globais, Estados Unidos, China e União Europeia. Entretanto, no meio de uma acirrada disputa geopolítica e geoeconômica internacional, a diplomacia brasileira deve evitar alianças e compromissos políticos. O perigo reside na mistura dos interesses nacionais com supostas identidades ideológicas de parceiros, como o americanismo simplista de Bolsonaro, que o levava a desprezar o parceiro asiático, e o antiamericanismo de parte da esquerda brasileira, que ainda parece ver a China como o “farol da revolução socialista”, e Xi-Jinping como o “grande timoneiro” do capitalismo de Estado chinês no século XXI. Algumas passagens do discurso de Lula em Xangai, como a condenação do dólar como moeda de referência, contêm um pouco do ranço antiamericanista. 

Na crescente bipolaridade geopolítica de Estados Unidos e China, os norte-americanos tentam manter e aumentar sua área de influência, e a China, com a nova “Rota da Seda” (Belt and Road), está avançando rapidamente na extensão da presença econômica e diplomática em vários continentes, principalmente em países de médio e baixo desenvolvimento. O Brasil faz bem em não apostar num alinhamento automático aos Estados Unidos e aproveitar as oportunidades abertas pela China. Mas também não pode se apresentar como o aliado privilegiado da China.