A taxa de juros do Brasil é muito alta e a economia brasileira tem dados sinais de melhora. Além disso, o governo, sob a liderança do ministro Fernando Haddad, está avançando na aprovação de uma nova regra fiscal, que demonstra a sua preocupação com o equilíbrio das finanças públicas. Por isso, na sua grande maioria, os analistas políticos esperavam que, na reunião desta semana, o Banco Central tivesse, ao menos, sinalizado para o início de um ciclo de declínio da taxa Selic. Mas o COPOM-Conselho Monetário Nacional decidiu manter a taxa em 13,75% ao ano e ainda antecipou que “a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros dependerão da evolução da dinâmica inflacionária”. Diante do rigor (talvez excessiva parcimônia) do Banco Central, é compreensível que o Governo e setores do empresariado se sintam incomodados com a manutenção das mesmas taxas de juros, ao longo de quase um ano. 

Se a insatisfação do Governo é compreensível, a guerra do presidente Lula da Silva e dos seus seguidores contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é exagerada, inócua e contraproducente. O presidente Lula esquece que, no primeiro governo do PT, quando Henrique Meirelles era presidente do Banco Central nomeado por Lula (e não tinha mandato), a taxa de juros reais da Selic chegou a 10,65% ao ano, acima da atual (9,59%, se forem considerados os últimos 12 meses). A guerra política também é equivocada, porque fixa o combate sobre o presidente Roberto Campos, transformado no inimigo número um do PT, ignorando que o COPOM é um órgão colegiado de mais oito membros da Diretoria. Por outro lado, é uma guerra inócua, porque o COPOM tem demonstrado, ao longo dos meses, que não vai ceder a pressões políticas, insistindo na análise técnica, mesmo quando mostra um excessivo rigor na perseguição da meta de inflação. E a guerra é contraproducente, porque cria incerteza no mercado e transmite aos agentes econômicos desconfiança em relação à política macroeconômica; principalmente quando está associada à politização, afirmando que Campos Neto teria uma estratégia para detonar o governo Lula, e propondo, abertamente, a sua demissão da presidência do Banco Central. Se Roberto Campos atuasse contra o governo Lula não teria elevado a taxa de juros para 13,75% ao ano, em agosto do ano passado, precisamente quando se intensificava a campanha eleitoral, ignorando os protestos do então presidente Bolsonaro, preocupado com o efeito da contração da economia no eleitorado. 

Em vez de uma guerra política para desqualificação do presidente do Banco Central, ou mesmo para encaminhar a sua demissão, o governo deveria intensificar a negociação técnica, ressaltando os sinais positivos da economia e o seu compromisso com o equilíbrio fiscal, de modo a convencer a diretoria do Banco de que as condições estão dadas para o início de um movimento de declínio da taxa de juros. O resto são bravatas que servem apenas para poluir o ambiente político do Brasil, já suficientemente polarizado e fanatizado.