O governo vive falando em política industrial, o presidente Luíz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, publicaram, na semana passada, um artigo no Estado de São Paulo defendendo uma neoindustrialização, mas o voluntarismo populista de Lula sai na frente, atropelando tudo, com a proposta descabida de reedição de um carro popular. O neo-lulista Geraldo Alckmin, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, assumiu a ideia de concessão de mais subsídio à indústria automotiva para baixar os preços dos automóveis, de modo a alimentar o consumismo da classe média brasileira, na expectativa de agradar a esta parcela do eleitorado. Nada a ver com uma política industrial que deve, ao contrário, apostar no aumento da produtividade, na diversificação da estrutura industrial e na redução do custo Brasil (o que, aliás, é referido no artigo do presidente). E vai na direção oposta ao esforço do Ministério da Fazenda para aumentar a receita e reduzir a renúncia fiscal, de modo a melhorar as finanças públicas e aumentar a capacidade de investimento governamental.
O governo, felizmente, ainda tem uma reserva de racionalidade no Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem conseguido filtrar as propostas soltas e impensadas do presidente, formando uma barreira de contenção do voluntarismo lulista. Não deve ser fácil ser ministro do governo Lula, obrigado a correr atrás para consertar as suas impertinências e sua incontinência verbal (o Ministro das Relações Exteriores também não deve ter vida fácil). Como não dava para abandonar completamente a proposta do carro popular – ninguém consegue mesmo mudar a ideia fixa de Lula – coube ao ministro da Fazenda baixar a bola, reduzir o prejuízo nas contas públicas, fixando um limite de R$ 1,5 bilhão de crédito tributário, e compensando a perda de receita com a reoneração do diesel. Além disso, para melhorar a imagem do programa, passou a contemplar incentivos para ônibus e caminhões, e a diferenciar o valor do crédito para os veículos de menor emissão de CO2.
Curioso que quase todos os analistas políticos imaginavam que Haddad seria um ministro frágil, e que Lula seria o verdadeiro Ministro da Fazenda. Ele provou o contrário. Tem conseguido conter os impulsos voluntaristas do presidente da República e garantir a responsabilidade fiscal ao seu governo. Além disso, na confusão do governo Lula, incluindo a enorme dificuldade de negociação política com o Congresso, Fernando Haddad tem se destacado como um hábil e competente negociador, o que foi comprovado na aprovação do marco fiscal consistente e confiável.
“Hoje, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o 3º presidente mais rejeitado desde a volta das eleições diretas no Brasil. O petista é considerado “ruim” ou “péssimo” por 35% dos seus eleitores, segundo o PoderData.”
Aconteceu com Rogério Ceni: assim como uma torcida reage ao desempenho recente de seu time e, no limite, rejeita sem dó nem piedade seus ídolos caso não apareçam os resultados esperados, o mercado financeiro está preocupado com o equilíbrio das contas fiscais, ingrediente central de um ambiente atrativo aos investimentos, necessários para a criação de trabalho e renda para 20 milhões de desempregados. Não adianta espernear: o “técnico” Lula que se cuide e entregue as vitórias. Os arrependidos de terem votado nele aumentam a cada dia que passa e Lula não cumpre com suas promessas de campanha. (Fernando Ribeiro de Gusmão).
Criticar erros evidentes do governo Lula não é sinônimo de arrepndimento por ter voltado em Lula. Votar em Lula serviu o propósito de afastar Bolsonaro, o político mais escroto que o Brasil já teve.
Verdade. Fernando Haddad é a surpresa positiva de Lula III, fazendo o que pode, com elegância, por um mínimo de racionalidade na política econômica. Já Mauro Vieira deixou se atropelar pela boquirrota “diplomacia presidencial”.