Os sete meses do governo Lula da Silva devem ser avaliados positivamente em quase todas as áreas de atuação, do meio ambiente à economia, passando pela política social. E apesar da condenável postura que tem assumido diante das ditaduras autodeclaradas de esquerda e da sua visão tendenciosa na guerra da Ucrânia, Lula teve o mérito, indiscutível, de trazer o Brasil de volta ao cenário internacional e apagar a sua imagem de pária internacional. Alguém pode dizer, com razão, que depois do desastre generalizado do governo de Jair Bolsonaro, qualquer presidente seria uma redenção para o país. É mais do que apenas isso. Os sucessos são méritos do presidente Lula, no mínimo pela escolha dos seus ministros, e o apoio que tem dado a iniciativas corretas, nem sempre consistentes com o ideário petista, como a nova regra fiscal e a reforma tributária. 

Entretanto, o sucesso das iniciativas do governo Lula é desmontado, quando ele abre a boca e começa a agredir os adversários e ensinar ao mundo soluções para tudo, quando manifesta sua antipatia pelo presidente Joe Biden, que teve um papel fundamental na contenção da aventura golpista de Bolsonaro, o seu preconceito contra alguns aliados europeus, e a leniência com os países dos BRICS, a começar pela Rússia. Quando lê os discursos, Lula é um estadista. No improviso, ele libera os conceitos anacrônicos da velha esquerda brasileira, mostra as garras autoritárias, e deixa escapar as suas amarguras e ódios pessoais. Lula fala em generosidade e paciência quando defende os governos ditatoriais da América Latina, Venezuela e Nicarágua, mas trata o presidente Gabriel Boric, do Chile, emergente liderança de esquerda do continente, com grosseria e total desrespeito. Diante das divergências de Boric em relação ao teor do documento final do encontro CELAC-EU, Lula foi muito deselegante, tentando desqualificar o presidente do Chile, tratando-o como um jovem inexperiente e impaciente, que estaria nervoso por participar pela primeira vez de uma reunião internacional. Mesmo quando ele condena o ódio e a violência da Direita, como a recente agressão ao ministro Alexandre de Moraes na Itália, Lula fala em “extirpar essa gente”, palavras semelhantes às manifestações de virulência de Jair Bolsonaro. Seria muito bom para o Brasil se o presidente Lula se concentrasse nas atitudes, nos projetos e nas políticas, e não falasse mais de improviso.