Tenho recebido muitas mensagens de solidariedade. Amigos e ex alunos me ligam perguntando como está a situação em Israel e se tenho parentes lá. Agradeço e informo não ter parentes, mas poucos amigos e muitos filhos de amigos. Minha preocupação com a situação e possíveis desdobramentos, situação que acompanho com muito interesse faz tempo, é algo de meu cotidiano.

Lembro de uma visita que fiz ao país e um encontro com um pernambucano emigrado a quem muito respeito. Ele me dizia da dificuldade de defender suas ideias, mesmo de poder expô-las. 

Tinha a firme convicção de que as atividades belicosas jamais cessariam se não houvesse uma mudança de postura. Ia na direção da existência de dois países livres e independentes, um judeu e outro palestino, da necessidade de uma Zona de Desmilitarização e da importância de diminuir ou eliminar os assentamentos em áreas de conflito. Faz mais de dez anos.

Jamais se podem admitir atos terroristas, mas, para evitá-los, é fundamental entender o que lhes dá combustível para serem cada vez mais incendiários. A morte de mais de mil e duzentas pessoas em dois dias aponta para isso.

Domingo de manhã. Abro um jornal local. Um colunista, em letras garrafais, apresenta um artigo cujo título me assusta. “Chocado com ataques terroristas, Lula suaviza para o lado do Hamas”. 

Faço um esforço e vou lê-lo. Baseia sua argumentação em uma declaração do Presidente da República que vale reproduzir:

“O Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Conclamo a comunidade internacional a trabalhar para que se retomem imediatamente negociações que conduzam a uma solução ao conflito que garantam a existência de um Estado Palestino economicamente viável, convivendo pacificamente com Israel dentro de fronteiras seguras para ambos os lados.”

Com isso como base, conclui que “ao contrário do governo brasileiro, a embaixada israelense em Brasília acusou o Hamas de ser um ramo do regime dos aiatolás do Irã”. Não consigo ver a relação. O uso da palavra “contrário” parece trazer o que o colunista gostaria de ver, não o que foi dito.

Acredito que o Senhor Presidente está correto. Procurar um caminho da paz mais segura e duradoura parece ser correto. Com preocupação, vejo as afirmações de Bibi Netanyahu, ou do embaixador de Israel no Conselho de Segurança, que apontam para uma escalada de violência, com retaliações de grande monta.

Essa postura aponta para o enraizar da polarização atroz e da impossibilidade de convivência pacífica. Em nada ajuda para uma estabilização da região e para o desenvolvimento em bases seguras de Israel. 

Lembrar que políticos como Shimon Peres e Itzak Rabin conseguiram avanços significativos que, se continuados, poderiam ter dado nova perspectiva para a Região. Verdade que a morte de Rabin por ato tresloucado interrompeu a possibilidade de paz. Uma pena insistir em beligerância e em medidas que só levam a uma maior insegurança da população civil. Digo isso de ambos os lados.

O Brasil pode ajudar em muito nesse processo. Principalmente como mediador que tem bom relacionamento com as duas partes. E, nessa direção, manter uma postura equilibrada se faz necessário. Não aderir a movimentos intempestivos de violência, em que a força momentânea seja a única arma de negociação. 

Reagir, sim, a qualquer atitude terrorista que coloque em risco vidas civis, sem partir para o extremismo de tornar a situação em uma guerra convencional, onde a destruição e morte imperarão.

Opinião de um judeu por religião, nascido no Marrocos, país árabe, que tem muito orgulho de ser brasileiro.