O nosso sempre querido Barão de Itararé já proclamara: “Há algo no ar além dos aviões de carreira”. Pois bem, semana passada, os ares nacionais receberam oficialmente uma nova fragrância: o perfume “Jair Bolsonaro”, criado e comercializado por Agustin Fernandez, amigo e maquiador da ex-primeira-dama Michelle.
Segundo matéria de Luísa Marzullo (“O Globo”, 18.03.24), “[…] o perfume é descrito como uma mistura entre laranja, limão-taiti e tangerina. Flores como jasmim e rosa também estão na fragrância, ao lado de especiarias como alecrim e noz-moscada”. Segundo a jornalista, a descrição continua assim: “Por fim, mergulhe nas profundezas sedutoras de um fundo amadeirado e sensual, onde o âmbar e o patchouli se entrelaçam com a riqueza do cedro e a suavidade do almíscar branco, envolvendo você em uma aura de mistério e elegância duradora”.
Ao que parece, as frutas inspiradoras (laranja, limão e tangerina), todas azedas, combinam com o azedume do homenageado, o que não combina muito bem com a “riqueza do cedro e a suavidade do almíscar branco”. Não combina? Ora, direis, “suavidade”? Sim, algo perfeitamente encontrável em personalidades duras, rígidas e “imbrocháveis”. Sim, tudo está lá nas “profundezas sedutoras”. Só os comunistas e os “melancias” duvidam. Ah, gostei muito da frase final: “[…] aura de mistério e elegância duradoura”, onde o termo “elegância” é, como se vê, de máxima fidelidade ao ex-presidente, elegância que, por sugestiva osmose aromática, não mais desgrudará de você, caro admirador do inelegível, desculpe, quis dizer do “inesquecível” ex.
As redes sociais não deixaram por menos o lançamento da nova essência. Explodiram, aos milhares, os comentários, todos eles embebidos de trocadilhos e de alusões à figura do ex-presidente. Registro aqui alguns dos mais inspirados: “Fleur de Prison”, “Colônia Penal 22”, “Aquele perfume que prende você”, “AVONtade de dar um golpe”, “Fragrância: lavanda de dinheiro”, “Novo lançamento do Bosticário”, “Eau de tolete”, “Prefere escapar fedendo ou ser preso cheiroso?”, “Cheiro: chifre queimado”, “Verdinho igual ao capim”, “Suave fragrância de esterco”. Bom, desejo que o perfume não seja reneGADO e que não venha a sofrer qualquer BOIcote. Vida longa ao novo bálsamo, ao perfumista e, por que não, aos bons narizes sempre atentos ao que vai no ar.
Permito-me lembrar aos mais jovens que já tivemos um presidente militar que gostava mais de cheiro de cavalo do que de povo. Governou, por assim dizer, sobre quatro patas. Disse que prendia e arrebentava quem fosse contra a abertura democrática. Uma franqueza equina. Agora, com mais refinamento e avanço civilizatório, temos um ex que perfuma o País. Acredito que a referida criação aromática seja da melhor qualidade, superando cheiro de povo, de cavalo, de pobre e até de golpe. Aliás, quem curtiu no ar um cheiro de golpe deve se dar ao luxo de usar essa aquartelada (sic) essência.
Imagino que muita gente agora vai repetir, à brasileira, o que Marylin Monroe disse, ao ser indagada sobre o que “usava para dormir”: que dormia com algumas gotas do perfume Chanel nº 5. Portanto, abaixo os pijamas de listas verdes e amarelas, abaixo cuecas e camisetas, você, elegante eleitor do ex-presidente, dormirá nu, feliz e em paz, apenas com algumas gotas de “Jair Bolsonaro”. Olha, esse uso secreto do produto será talvez a “aura de mistério” já mencionada na sua descrição! Acredite, serão gotas balsâmicas, e mais não digo, e nem precisa! Ou, melhor, digo num discreto eufemismo: essas gotas trarão seu amor de volta nas caladas da noite!
Com sua exuberante fórmula, sua coloração verde-oliva, seu elegante frasco e seu aroma inexpressivo (maldito corretor!), inesquecível, você, consumidor, pode estar seguro de que sua pele vai estar patrioticamente cheirosa, refrescada e pronta para esse calor que assola o País. No mais, você dará uma odorífica lição aos mais fedorentos comunas. Que a esquerdalha se prepare: vem mais por aí. O ar vai se tornar irrespirável para essa gente!
Fico com boas lembranças da juventude nas Noites Olindenses e do Forró Cheiro do Povo.
Viixxee! Não acredito! Quem vai usar um troço desses? A Damares? Ou aquela pistoleira dos Jardins, Kicis, ou algo assim, usará para lubrificar a pistola na próxima vez que correr atrás de alguém em ruas elegantes de São Paulo? Ou será que a pastora Michelle vai andar por aí com mais cheito ainda de “Jair Boslonaro”? Esse ex é mesmo a cafonice elevada à enésima potênicia. Pior que é cafonice de vândalos.
“Ridendo castigat mores”.
Nada melhor que a ironia e o humor inteligente, para demolir mitos.