Manifestação pró Bolsonaro na Paulista

Manifestação pró Bolsonaro na Paulista

No famoso livro “A Arte da Guerra”, o estrategista chinês Sun Tsu advertia (500 anos antes de Cristo e mil anos antes de Maquiavel) que o conhecimento do adversário é uma condição essencial para a vitória. Ele chamava de inimigo, já que se tratava de guerra, dizendo: “aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas”. Por isso, subestimar a força e desconhecer as características do bolsonarismo é um caminho seguro para a derrota política contra a extrema-direita no Brasil. E tentar desqualificar a manifestação dos bolsonaristas do último domingo, na Avenida Paulista, um equívoco imperdoável. Na avaliação mais moderada do Monitor do Debate Político Digital da USP, Bolsonaro levou 185 mil pessoas para a avenida, numa tarde ensolarada e muito quente de domingo, e contou com a participação de quatro Governadores de grandes Estados brasileiros, especialmente São Paulo e Minas Gerais. Tudo isso, tendo como único elemento mobilizador a defesa do ex-presidente de uma propalada perseguição política. 

Gostemos ou não, a manifestação de domingo mostrou que o bolsonarismo continua forte, que Jair Bolsonaro, um personagem político medíocre e autoritário que tornou o Brasil um pária internacional, ignorou a morte de brasileiros pela Covid-19, e tentou dar um golpe de Estado, ainda tem capacidade de mobilizar forças conservadoras do Brasil. Quem são esses que ainda apoiam Bolsonaro, mesmo depois de todas as denúncias e processos administrativos e criminais? De acordo com pesquisa realizada pelo Monitor no evento, os participantes são declaradamente conservadores, quando se trata de valores, predominantemente homens (62%), brancos (65%), com idade acima de 45 anos (67%), e com renda familiar de três a dez salários-mínimos (51%). E ao contrário do que seria de esperar, a maioria dos participantes do evento é católica (43%), e não evangélica, com apenas 29% dos manifestantes. Em síntese, a classe média conservadora que, mesmo sem ser de extrema direita, é capturada pelo bolsonarismo.

E por que Bolsonaro continua com esta capacidade de mobilização das forças conservadoras do Brasil, sem poder, e mesmo depois do evidente fracasso do seu governo, de desmascaradas as suas malandragens com joias e seus intentos golpistas? Entre muitas causas (nunca é uma única), a aposta do governo e do presidente Lula no reforço da polarização política ajuda a fortalecer a posição de Bolsonaro como o adversário do projeto petista. E, diante do conservadorismo dominante na classe média brasileira, a ênfase do governo e da esquerda petista no discurso e nas medidas identitárias empurra vários segmentos sociais para o bolsonarismo. Se o governo e o PT continuarem neste caminho, Bolsonaro pode manter a sua influência nefasta sobre os conservadores e a direita civilizada do Brasil.