De retaliação em retaliação, o Oriente Médio avança numa insana e perigosa escalada que pode arrastar o mundo para um conflito militar global de graves consequências. Numa retaliação desproporcional ao terror do Hamas, Israel destruiu a Faixa de Gaza, para eliminar o poder inimigo, aniquilou as cidades e matou milhares de cidadãos palestinos. Em solidariedade ao Hamas, o Hezbollah fustigou o território norte de Israel, iniciando troca de agressões que evoluiu agora para o bombardeio do Líbano e a invasão israelense por terra do território libanês, numa brutal agressão a um país soberano que não está em guerra, violando o direito internacional e os fundamentos das Nações Unidas. A retaliação da retaliação veio agora do Irã, disparando mais de 200 mísseis sobre o território israelense numa represália pela invasão do Libano por Israel e o ataque aos Hezbollah, incluindo a morte dos principais líderes da organização xiita. Único país não árabe da região (além de Israel, claro), o Irã financia e arma o exército do Hezbollah, mais poderoso que as forças armadas do Líbano, e reagiu à agressão de Israel mesmo sem ter sido atacado diretamente, manifestando sua proteção ao grupo xiita implantado em território libanês, seu braço político e militar no Oriente Médio. Na verdade, o Irã é único país da região que vem protestando e até reagindo perigosamente às agressões de Israel em Gaza e no sul do Líbano.
O mundo respira fundo esperando a resposta de Israel aos misseis iranianos, torcendo por um gesto de moderação que interrompa o ciclo de retaliações. O Irã reagiu, e reagiu com força, mas não quer uma guerra com Israel, tem muitos problemas internos, principalmente econômicos, para entrar num conflito militar com o poderoso exército israelense. Israel também deveria conter a insensatez e o impulso agressivo de Benjamin Netanyahu, impedindo que o país mergulhe numa aventura militar, abrindo uma nova frente de combate com um inimigo também muito poderoso. Como diz o jornalista Thomas L. Friedman (New Yrok Time), “Estamos prestes a entrar no momento mais perigoso da história do Oriente Médio moderno: uma guerra de mísseis balísticos entre Irã e Israel, que quase certamente arrastaria os EUA e poderia culminar em um esforço total para destruir o programa nuclear iraniano”. Todo mundo sabe que Israel vai retaliar. Resta torcer para que um sopro de sensatez cubra os céus de Tel-Aviv.
1) “retaliação desproporcional”. Primeiro, não há nenhuma evidência de que se trata de retaliação. Israel precisa destruir o grupo que prometeu em todas as instâncias formais (seu estatuto) e informais (suas declarações) que seu objetivo é destruir o Estado de Israel, repetir a invasão do 7/10 e matar judeus em todo o mundo. Sem exceção, esses são os objetivos declarados pelas lideranças do grupo terrorista que governa Gaza, desde que venceu as eleições lá e deu um golpe de estado após a retirada total de Israel daquele território. Nenhum exército no mundo em nenhuma guerra jamais se esforçou tanto quanto o exército de Israel para evitar o sofrimento dos civis, mas nenhum exército usou tanto os civis de escudo quanto o Hamas. Esconderam-se em túneis e usaram escolas, hospitais e mesquitas como bases militares de onde continuaram agredindo o exército de Israel. Então Israel lutou a guerra que não pode deixar de lutar porque não destruir o Hamas significa aceitar que continuará sendo destruído.
Em segundo lugar, não se aplica o conceito de proporcionalidade. O que seria uma resposta proporcional? Escolher aleatoriamente 1200 civis e estuprá-los e queimar os bebês vivos em fornos como o Hamas fez? Ou passar ANOS jogando foguetes aleatoriamente para aterrorizar a população? Quem escolheu como a guerra seria foi o Hamas, não Israel. Quem desviou bilhões de dólares das doações internacionais para bem estar da população para uma rede de mais de 500Km de túneis militares não foi Israel. Quem roubou alimentos durante a guerra para estoques abarrotadas nos túneis? Quem preferiu manter reféns como escudos ao redor de um líder fanático a encerrar a guerra? Quem continuou atirando foguetes (esta semana mesmo choveu alguns vindos do sul de Gaza!)? Quem continuou na TV jurando que vai repetir outros ataques?
2) “Em solidariedade ao Hamas, o Hezbollah fustigou o território norte de Israel”. Nos últimos dias Israel publicou as provas que o Hezbolah planejou uma invasão com 6500 soldados fortemente armados para ocupar o norte de Israel e foi passado para trás pelo Hamas. Iria atacar no dia 08 e foi a ação preventiva israelense que frustrou. Além disso, “fustigou” parece leve para o nível dos ataques que simplesmente expulsou a população do norte gerando 67 mil refugiados internos. Destruiu propriedades, tocou fogo nos campos e matou muita gente, incluindo as 12 crianças drusas. Mais uma vez o Hezbolah nunca deu uma única declaração que procurava algum acordo com Israel. Pedir cessar-fogo quando é atacado não é proposta de paz. O Hezbolah, assim como os outros grupos promovidos pelo Irã, promete invariavelmente, a destruição de Israel e a morte dos judeus onde quer que estejam. Já mostraram que falam sério na Argentina e a Polícia Federal mostrou que estavam dedicando recursos a um atentado no Brasil. Se Israel não atacar o Hezbolah, está aceitando ser destruído.
3) “brutal agressão a um país soberano que não está em guerra”. Então de onde vêm os foguetes que atacam Israel desde 2006? Se vêm do Líbano, o Líbano está em guerra. Se não está, que não permita os terroristas de operarem de seu território. Se não estivesse em guerra por que o governo do Líbano permitiu ao Hezbolah criar uma enorme estrutura de túneis, fortalezas e mísseis escondidos em residências? Israel não pode ser responsabilizado pela política interna libanesa, onde o Hazbolah é parte do governo. Se o ataque vem do Líbano, Israel deve atacar o Líbano porque não há nenhuma outra forma de impedir os ataques a Israel.
4) “O Irã reagiu, e reagiu com força”. Reagiu a que? Israel não atacou o Irã na medida do ataque realizado em abril pelo Irã. Se Israel e seus aliados sabem se defender, isto não reduz a agressão de enviar centenas de foguetes, drones e mísseis. Além de fomentar, armar, financiar, orientar, coordenar e tudo o mais os proxies, o Irã declara que quer eliminar o estado judeu. Simples assim, sem vergonha.
5) “a insensatez e o impulso agressivo de Benjamin Netanyahu”. Se alguém se importa, sou judeu e radicalmente contrário a Netanyahu, assim como quase metade da população israelense, que não vota nele. Mas o parlamentarismo e a democracia são uma marca da sociedade israelense, por isso ele governa. Pior ainda, por isso existe no governo dele pessoas racistas, odiados pela grande maioria dos israelenses e dos judeus do mundo. Infelizmente, foram eleitos e têm votos para fortalecer a coalização que conseguiu formar uma maioria no parlamento. Netanyahu fez muito mal a Israel porque perdeu oportunidades de isolar politicamente os terroristas e se aliar aos árabes que aceitam um formar mais um estado palestino árabe ao lado do estado palestino judeu. Verdade que esses são poucos, e seu comportamento decepcionou repetidas vezes quando tiveram essa chance com Rabin no poder, ou com Ehud Barak ou com Ehud Olmert. Mas política é assim, sempre vale a pena tentar de novo para obter o compromisso da paz. Netanyahu preferiu favorecer os assentamentos na Cisjordânia, uma vergonha para a história de Israel. Dito tudo isso, Netanyahu é conhecido por sua covardia, por fugir dos conflitos e das guerras. A esquerda em Israel sempre foi mais corajosa e agressiva, senão não haveria Estado de Israel hoje, teria sido eliminado nas décadas de 40, 50 ou 60, antes mesmo da criação do que hoje entendemos como povo palestino. Importante entender que a ação em Gaza para impedir o Hamas de continuar seu projeto de destruição de Israel foi consensual entre as várias vias políticas. Até mesmo, partidos árabes apoiaram, com exceções, claro. De resto, o direito de defesa de Israel foi apoiado por governos árabes também, que ora ficaram quietos, ora gritaram para sua opinião pública interna, mas agiram a favor do estado judeu, seu antigo inimigo.
6) “Estamos prestes a entrar no momento mais perigoso da história do Oriente Médio moderno”. Alguém devia ter percebido isso quando Israel denunciava que o Irã estava armando o Hezbolah até os dentes. Nos últimos 15 anos isso aconteceu e o “momento mais perigoso” é a culminância inevitável de um processo de agressão constante. Conheço pernambucanos que moram no norte de Israel e a vida é insuportável. Também conheço pernambucanos que moram no Sul próximo a Gaza e passaram a vida correndo para os abrigos. Isto não começou em 7 de outubro.
7) E, por favor, não me venha culpar o bloqueio israelense pela ação do Hamas, nem os assentamentos pela ação do Hezbolah. (i) Se o Hamas teve dinheiro para formar um exército de 40 mil homens com +500Km de túneis, +30 mil foguetes, bastava ter destinado esses recursos ao bem estar da população e Gaza seria um paraíso. Aliás, nem haveria bloqueio, porque quando Israel se retirou de Gaza as fronteiras estavam abertas, inclusive marítima. O bloqueio nunca impediu ajuda internacional de chegar lá em volumes ridicularmente maiores que chegavam na Somália ou na Etiópia. O que destruiu a vida em Gaza foi o governo teocrático e fascista do Hamas. (ii) Hamas, Hezbolah e demais grupos terroristas nunca declararam que seu objetivo é um estado árabe em paz com os estado judeu. Nunca, nenhuma vez. A esquerda ocidental pode sonhar com isso, mas não quem tem lugar de fala nesse caso. As poucas lideranças que ousaram iniciar uma negociação com Israel, como a Fatah dos anos 1990 e 2000, foram atacadas, fisicamente eu quero dizer, mortas mesmo. Eles não dão a mínima para os colonos da Cisjordânia, porque para eles qualquer judeu é um invasor, morando em Tel Aviv (cidade criada por judeus sobre o deserto) ou em Jerusalém (cidade que sempre teve judeus nos últimos 2.400 anos). (iii) Os ataques árabes à população judaica da região da Palestina são anteriores à criação do Estado de Israel e, portanto, anteriores aos assentamos da Cisjordânia. (iv) Se um Estado Palestino for criado na Cisjordânia e Gaza, os assentamentos podem ser compensados mudando a geografia das fronteiras ou judeus podem se tornar cidadãos do Estado Palestino, assim como árabes são cidadãos no Estado Judeu. Ou ninguém acredita que um estado muçulmano pode ser democrático? Bem, a julgar pelo tratamento histórico que cristãos e judeus tiveram nos países árabes e pelas expulsões em massa de judeus dos países muçulmanos no século XX deveríamos duvidar mesmo. Mas a esperança é a última que morre mesmo. Eu até tenho esperança que alguém me leia até esse ponto…
Análise impecável de Ismar, sempre baseado em fatos. É triste que tantos inocentes tenham perecido, e continuem perecendo. Inaceitável é o financiamento bilionário do Irã a vários grupos terroristas, ao longo de anos, com claro objetivo de atacar Israel e o sistema ocidental. Sem esse financiamento, nada disso estaria acontecendo.
Ismar levanta aspectos bem intereessantes no seu comentário, principalmente quando destaca que Hamas e Hezbollah têm como estratégia e pretensão a destruição do Estado de Israel. Mas, mesmo manifestando ser “radicalmente contra Netanyahu”, termna justificando os ataques massivos sobre os territórios de Gaza e do Líbano porque os grupos terrotiristas se protegem por trás dos cidadãos. Em dois pontos, Ismar, você precisa reconhecer que, em nenhum momento, o editorial acusa o povo judeu, concentrando a crítica ao “impulso agressivo de Benhamin Netanyahu e, na verdade, esperando que os israelenses parem este impulso do primeiro ministrro. O outro ponto: quando fala do ataque do Irã a Israel, mesmo tratando como uma reação ao conflito com o Hezbollah, o editorial acrescenta que a reação iraniana ocorreu sem que tivesse sido “atacado diretamente”. O mais importante é que o texto de Ismar abre um bom debate.
“justificando os ataques massivos sobre os territórios de Gaza e do Líbano porque os grupos terroristas se protegem por trás dos cidadãos.”
É isso mesmo. Não há outra opção para Israel que não seja atacar quem promete destruí-lo. Por compromisso moral, deve fazê-lo. Por igual compromisso moral deve evitar ao máximo que inocentes sejam vítimas do ataque. É o que aconteceu. Matematicamente: se mais de 60% dos prédios foram derrubados, seria razoável supor que pelo menos parte da respectiva população fosse vítima, nem que seja por acidente. Mas “apenas” 1% da população morreu (uma tragédia? sim, mas a culpa exclusiva do Hamas), então a operação de destruir as bases militares em prédios civis foi muito cautelosa, certo? Se Israel conseguiu matar 18 mil terroristas que se escondem atrás de civis, quantos civis se espera que morram nessa operação? No fim, morreram centenas de soldados israelenses. Se fosse para massacrar palestinos, essa seria uma guerra de drones, aviões e robôs contra o Hamas, mas não foi. Seria como russos fizeram na Chechênia ou agora na Ucrânia, como russos e americanos no Afeganistão, como qualquer dos massacres recentes na Síria, Iraque ou norte da África. Não foi. Para evitar um massacre, os israelenses se puseram em perigo. Qualquer um que leia os jornais israelenses entende o valor que a sociedade israelense dá a cada família, individualmente, independente de etnia e religião.
O que parece enganar os ocidentais é imaginar que Israel tem as obrigações que uma polícia teria ao operar no seu próprio território. Não tem. Gaza é território inimigo, GOVERNADO pelo Hamas, Israel se retirou de Gaza em 2005. O Hamas não é um grupo de traficantes numa favela. O Hamas é quem tem a obrigação de defender sua população, não de usá-la como escudo. Israel deve evitar até onde for possível as vítimas civis, mas não pode renunciar a atacar quem promete lhe destruir e continua fazendo atentados e lançando foguetes até hoje. Impedir Israel de lutar a guerra como qualquer país tem o direito de lutar quando atacado é afirmar que o único papel para judeus é o de vítima, que nunca deveriam se defender. Todos sabemos como se chama quando um único povo é julgado de forma diferente de todos os outros.
Brilhante argumentação. Só não vale dizer que é contra Netanyahu, para não cometer o pecado da hipocrisia.
E os pobres israelenses que se manifestam quase diariamente pela negociação para libertar os reféns, que esperem. Até que seus parentes morram nas mãos do Hamas.
Não há solução militar para o caso palestino. A não ser que sejam TODOS exterminados pelos sionistas. Não se destrói uma ideia. A solução, na linha dos dois estados independentes, só virá com uma composição com os palestinos moderados da Cisjordânia, e o respeito às fronteiras definidas pela ONU,
Desgraçadamente, inocentes nessa guerra continuam morrendo. Espero que os defensores da política do Primeiro Ministro Netanyahu leiam o relatório do Tribunal Penal Internacional (ICC na sigla em inglês) da ONU que serve de base ao pedido de prisão, por crimes de guerra e contra a humanidade, de Yahya Sinwar, Mohammed Diab Ibrahim Al-Masri e Ismael Hanniyeh, lideres do Hamas, bem como de Benjsamin Natanyahu e Yoav Gallant, respectivamente Primeiro Ministro e Ministro da Defesa de Israel. Desgraçadamente, senhores de guerra de todos os lados desrespeitam a ONU.
icc-cpi.int/sites/default/files/2024-05/240520-panel-report-eng.pdf