“Existe petróleo no Oriente Médio e na Noruega. No entanto, as distribuições de renda são distintas. As instituições escolhidas por essas sociedades, em razão de diferentes histórias sociais e políticas, resultam em variações de magnitude nos níveis de desigualdade”.
Thomas Piketty, em Natureza, Cultura e Desigualdade, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2024.
Desigualdade não é condenação econômica. Nem é desastre social. É opção política. Em consequência da existência de instituições. Que estimulem ou bloqueiem a igualdade.
Os países do Oriente Médio são o maior produtor de petróleo do planeta. Apresentam algumas das piores distribuições de renda da economia mundial. São autocracias. Por sua vez, a Noruega é um dos quatro maiores produtores de óleo do universo. Exibe uma renda per capita invejável. E bem distribuída. Integra o conjunto das democracias europeias. O que os diferencia? As instituições sociais e políticas.
A desigualdade entre países decorre de suas trajetórias. De seu percurso político e cultural. Na prática, a realidade é mutável. Está em perpétua mudança. Fruto de relações de forças econômicas. De compromissos políticos. De estagnação institucional. Ou de avanço social.
Por exemplo: compare-se as experiências políticas e sociais da Suécia e da Índia. Os suecos promoveram um processo de transformação econômica no segundo terço do século 20. Mobilizados pelo Partido Social Democrata da Suécia de Olof Palme, contaram com intenso programa de escolaridade da classe operária. Resultando numa sociedade de esperado grau de igualdade social.
Por sua vez, a Índia vive programa de notável aceleração econômica. Modernizando empresas do setor terciário, principalmente na inovação e na computação. É, hoje, uma das dez maiores economias do mundo, medida pelo PIB. Mas, acentua desigualdade ofensiva. Por causa de cultura estratificada de castas sociais. Em que a mobilidade vertical é impedida por padrão de tradições impeditivas da ascensão profissional.
Na América Latina, a desigualdade na Argentina é menor do que no Brasil. Porque o período Peronista favoreceu o surgimento de um estado social consequente. Com um esforço de melhoria educacional relevante. Já no continente africano, o caso da África do Sul ressalta característica específica. A desigualdade é fruto do apartheid que, por décadas, afetou os direitos humanos da população sul-africana.
De outra parte, a Europa Ocidental destaca um dos cenários mais igualitários da modernidade. Tome-se os casos da Alemanha, Reino Unido, França e Suécia. São nações de evolução bastante similar. Porque nesses países a concentração patrimonial, entre 1913 e 2020, foi menor do que nas nações neolatinas. Nos países anglo-saxões mencionados, prevaleceu a existência de uma classe média patrimonial. Caracterizada pelo seguinte fato: 40% da população não faz parte nem dos 10% mais ricos; nem integram os 50% mais pobres. É um grupo que representa 40% da população que detém 40% do patrimônio total daqueles países. O patrimônio médio de cada pessoa desse grupo gira em torno de 200 mil euros. É aí que mora o equilíbrio social naqueles países.
Entre instituições sociais, que mais apoiam a igualdade, está a educação. Diversos estudos científicos em vários países o comprovam. Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-18), o gasto nacional médio com educação era 0,5% da renda do país. O sistema era estratificado. E apenas uma minoria alcançava o segundo grau. Hoje, o investimento educacional representa, em média, 6% da renda nacional.
Observa-se que o fator que mais claramente favorece a prosperidade é a educação. Na década dos 1950, 90% das crianças norte-americanas frequentavam o ensino médio. No caso da Alemanha, França e Japão, esse número era de 20%. A maior elevação comparada da produtividade estadunidense deveu-se a tal fato.
Nos anos dos 1940, o escritor franco-argelino, Albert Camus, viajou ao Brasil. Ganhou o prêmio Nobel de literatura de 1954. Visitou o Rio de Janeiro, a Bahia e o Recife. Daí resultaram anotações, conferências e um livro: O Viajante (Editora Record, Rio de Janeiro, 2019).
Na página 11, ele escreveu: “O contrário de um povo civilizado é um povo criador. Tenho a esperança insensata de que esses bárbaros que se estiram descuidadamente nas praias, talvez estejam, sem saber, modelando o rosto de uma cultura em que a grandeza do homem encontrará por fim seu verdadeiro rosto”.
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