Há quatro anos, publiquei em algumas revistas eletrônicas “Revista Será?” e “Uma coisa e outra” um artigo sobre os poemas longos do meu conterrâneo W. J. Solha: “Trigal com Corvos”, “Marco do Mundo”, “Esse é o Homem”, e também “DeuS e Outros Quarenta PrOblEMAS”. Agora, ele nos surpreende com mais um: “Vida Aberta – Tratado Poético-Filosófico”. E me vejo diante do desafio de comentá-lo, sem repetir as análises e os louvores daquele texto, em que, julgo, fui bem sucedido, a começar pelo título, em forma de anúncio: “Poeta na Pátria Paraibana!”.
Solha faz uma espécie de “poesia filosófica”, que não está ao alcance de qualquer versejador. Os principais mestres nesse campo são, ao meu juízo, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa. Drummond e Bandeira, apenas ocasionalmente. O título do livro, portanto, ajusta-se bem ao conteúdo.
Em um voo aparentemente errático, o autor vai sugando, como um colibri, o néctar da poesia nas mais raras e imprevisíveis flores: na Antiguidade Greco-Romana, na moderna “cultura pop”, no sertão nordestino, em Nova York, no cinema, na pintura, na escultura, na geografia, na história, em qualquer manifestação do espírito humano. As rimas, esparsas mas assíduas, apenas emergentes ou garimpadas, vão guiando o leitor por uma floresta de sensações poéticas e reflexões filosóficas, sem lhe causar qualquer fadiga.
É certo que a poesia é a forma mais elevada de literatura. Ariano Suassuna, que fez sucesso com suas comédias e seu romance farsesco, declarou, na maturidade, considerar sua obra mais importante a poética – que ele só trouxe a público no final da carreira. Fazer da poesia, que de regra se lê devagar, voltando para captar melhor suas múltiplas significações, um texto que rivaliza com o romance no prender a atenção do leitor, é tarefa de gigante. E é o que faz Solha, cujo livro percorre-se de um só fôlego.
Muita erudição, muita memória, além da fina sensibilidade, são os ingredientes de “Vida Aberta”, que nos oferece a oportunidade de revisitar, poeticamente, as grandes interrogações filosóficas que inquietam o espírito humano, desde o alvorecer da civilização. Como o racionalista convicto que hoje sou, confesso que tais questões já não me atormentam. Proclamo que a vida é obra do Acaso e da Necessidade, e seu único sentido é o que lhe atribuirmos. Afirmo também que a harmonia da natureza é um mito conveniente, que a nossa razão tem limites e antinomias intransponíveis, e que a alma, apenas uma função mais elevada do cérebro, extingue-se com o corpo. Como disse Neruda, “creo que no nos juntaremos en la altura, creo que bajo la tierra nada nos espera”.
Para concluir, entendo que Deus não é mais que uma criação dos homens, em resposta aos seus temores e seus anseios de transcendência. Mas gostei do “tratado político-filosófico” de W. J. Solha, talvez o mais brilhante dos intelectuais e artistas que a Paraíba conquistou, e tem como seus filhos.
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