A entrada em massa dos deputados evangélicos na Comissão de Diretos Humanos da Câmara de Deputados parece indicar uma estratégia política desses religiosos para ocupar espaços e desviar o debate político do Brasil para aspectos comportamentais com as posições quase medievais dos seus líderes. Os disparates do presidente da Comissão, deputado pastor Marco Feliciano, para quem Deus anda por aí matando os ateus e descrentes, propaga uma guerra religiosa contra o sistema laico e republicano do Brasil. Na grande massa da população pobre das cidades, na ausência do Estado, os movimentos evangélicos, com sua mensagem conservadora e salvacionista, contribuem para retirar os seus adeptos – tementes do castigo divino – das drogas, da violência e da degradação dos valores. Não se pode ignorar esta atuação das igrejas, mesmo quando associado ao fanatismo religioso e, em vários casos, com o uso comercial do reino dos céus, iludindo a população. No entanto, no momento em que os líderes evangélicos tentam, através do mandato parlamentar, promover mudanças na legislação para impor a todos os brasileiros os seus princípios e valores primitivos e retrógrados, representam uma ameaça às liberdades humanas e às regras republicanas. Os evangélicos e religiosos em geral têm todo direito de exercer sua catequese e convencer as pessoas a seguirem suas regras e doarem o dízimo. Mas não podem pretender transformar seus valores em regras para todos os brasileiros.
Conselho Editorial
O artigo não esclarece sobre a verdadeira causa do setor mais regressita, com assento no Congresso, assumir o contrôle da Comissão de Justiça da Câmara. Na verdade, isso só ocorreu porque os partidos majoritários -PT e PMDB -permitiram. Isso porque não têm interesse nos temas discutidos naquela comissão.
Prezados,
é um prazer voltar a falar com vcs. a questão é realmente controvertida, mas penso que cabem mais algumas considerações. em primeiro lugar, as crises brasileiras são ciclicas, já que ninguem fala mais em renan ou em sarney,lula ou rosemary, portanto, feliciano só dura até a próxima crise, depois volta para o anonimato. em segundo lugar, antes de feliciano, não tenho lembrança ou mesmo conhecimento que essa tal comissão existia. continuando, é bom observar que feliciano, de fato, é uma mala e suas posições agressivas não lhe dão muita empatia com as pessoas, mas é bom lembrar que isso também ocorre com bolsonaro e, nessa ordem, ambos já garantiram a reeleição. e, por último, é bom cabe observar que jabuti não sobe em árvores e, se ele está lá, alguem o colocou, portanto,no caso do pastor felciano, sendo eleito por seus pares, ele passa a ter legitimidade. é o preço da democracia, gostemos ou não.
Abraços.
Concordo com José Arlindo, pois a comissão não envolve diretamente o ecnômico /financeiro, aspectos de interesse imediato para esses partidos. Os temas da Comissão , contudo, envolvem temas relevantes na formação moral de um povo, que só podem ser avaliados a longo prazo , o que não interessa aos líderes atuais.
O Brasil se orgulha de ser um país democrático e laico. Neste caso o que a maioria decide é o que vai ser executado. Se o congresso está composto por deputados e senadores evangélico é o simples resultado das eleições que expressa a vontade dos brasileiros. Os valores que temos na sociedade brasileira ainda são aqueles oriundos do cristianismo (portugueses, jesuítas). Valores esses que são bons para a sociedade e para cada pessoa. Essa acusação de que os evangélicos querem impor suas idéias é uma falácia. Também não há nenhum fundamentalismo (do tipo islâ – que quer governar – estado não laico) na mensagem do evangelho. Aos críticos sugiro a leitura da Bíblia e comprovarão a mensagem de paz que ela prega. Mas, parece que o fundamentalismo vem dos grupos contrários à mensagem. Então…
Oh meu Deus!
Seu comentário é muito primário, meu amigo. Quem lhe assegura que o povo brasileiro vota livremente e conscientemente? muitos desses pastores recebem o voto de seus mansos cordeiros bradando o medo do inferno e vendendo o céu em prestações de 10 por cento. Os demais eleitores, vendem suas almas por um saco de cimento, uma passagem de ônibus, o aviamento de uma receita médica e até com o famigerado BOLSA-FAMÍLIA.
Os evangélicos constituem hoje a direita fundamentalista cristã no país.Pouco inteligente, dogmática e de fácil apelo às massas constituem uma ameaça aos valores republicanos e democráticos se assumirem posição de peso na institucionalidade politica brasileira quer por leniência dos outros partidos políticos que não valorizam o tema, quer pela nossa incapacidade de desarmá-los pelo voto ou pelas idéias. Precisamos de uma direita cerebral no país mas não precisamos ouvir tolices medievais e primais fundadas ingenuamente no temor ao castigo divino.
Há evangélicos e “evangélicos”, como há islâmicos e “islâmicos” como houve, em priscas eras, cristãos fundamentalistas queimando na fogueira da inquisição milhares de fiéis, para o bem das suas (deles os culpados por heresia) próprias almas.
A culpa disso tudo é de Deus que sem existir, ex-sistere, um ser fora de si sustentado no imáginário do homem.
Explico: o sujeito humano tão logo toma consciência da sua humanidade – a constituição do seu Eu – esbarra, com angústia, diante do significante da morte, incógnita universal que a todos nos afeta. E de fato, é uma tremenda de uma pulha filosófica: de onde viemos, para onde vamos, blá, blá, blá….Nosso narcisismo não aceita – ou pelo menos para muitos – é difícil de aceitar a fragilidade da existência humana, ou sua falta de sentido.
As religiões primitivas surgem como uma necessidade de tamponar, estancar, essa angústia tão bem definida por Heidgger – o ser humano é fundado na angústia – assim, todo o processo civilizatório é uma envoltória dessa pulsão primitiva tentando – nem sempre com sucesso – dar conta deste humano desamparado diante de sua frágil existência.
Deus e as religiões são construções elaboradas impostas – a ferro e fogo – pelos homens sobre todos nós.
A Bíblia, O Alcorão e outros livros sagrados são os “livros cartoriais” dessa luta incessante do homem e sua história de abandono diante do Universo.
O Estado laico é um avanço extraordinário sobre as religiões, pois sustenta o poder em sociedade – principal fator de estruturação social – separado dos valores espirituais e morais das religiões.
No caso do Brasil sim, é preocupante o avanço dos religiosos “evangélicos” dentro do congresso – embora reconheça ser um direito que a democracia lhes outorga – porque mais do que darem sua contribuição para as questões da república veem como um espaço para impor – a lei – seus valores morais retrógados, posto que fundado na certeza religiosa, onde não há espaço para a dúvida ou a controvérsia.
A Revista Será? Alerta, e muito bem fundamentada, para este perigo de evangelização radical do Político em nossa sociedade, ameaçando às liberdades humanas e às regras republicanas.
Enquanto se fala tanto de Feliciano, o governo se cala diante do descalabro dos preços nas feiras e supermercados. Daqui a pouco, o deputado evangélico vai dizer que isso é coisa do satanás e de Mãe Menininha do Patuá.
A explicação para essa situação é simples: “cada povo tem o governo que merece”.
SÔNIA GUILLIOD,querida,onde você anda e como vai sua filha?Abraços com saudade de alice franca leite/EX CAFEZEIRO…. graças aos deuses!Lembra de meus camarões?Estou com 79 anos e boa das idéias…
[email protected] Laranjeiras/RJ
O surgimento do protestantismo, com Lutero,trazia uma caracterísitca nova na relação com o sagrado. Contra as indulgências da igreja católica, que vendia o perdão dos pecados e garantia o reino de deus, reppresentava uma nova visão da vida na terra, onde o homem deveria, pelos seus atos, procurar o seu destino, depois da morte.O crescimento cada vez mais acelerado de adeptos às novas seitas protestantes no Brasil, hoje, representa, em grande parte, não uma nova opção salvacionista, em busca da compra de um pedacinho do céu, e da formação de soldados para a guerra santa, mas, e principalmente, está apegada ao aqui a agora, ao mundano. Aceitar “jesus” distancia-se da esperança de prêmios no reino eterno, mas, de soluções fáceis e mágicas na terra e no curto prazo.É a cura para uma doença, é a esperança de um emprego, é a casa nova. “Eu dou um tijolo para o templo e recebo em troca a minha moradia terrena”. O pastor abençõa um cofrinho de plástico comprado pelos fiéis que esperam fortuna rápida (eu vi uma cena destas na televisão). O brasileiro tem, tradicionalmente, um pé no sagrado e outro no mundano. E é esta linha que orienta o grande interesse que membros religiosos vem apresentando nas alçadas de poder. O discurso acompanha o que o segmento popular menos informado acha que pensa e torna-se, assim, forma de dominação. As bancadas religiosas crescem e seus membros se unem em busca das vantagens que o poder traz (diferentemente dos comunistas que, como se diz “só se unem na prisão”). neste sentido, ela representa, sim, um retrocesso e um risco ao livre pensar necessário à democracia.
Concordo plenamente com Zé Arlindo. O triste é que bandeiras que foram emblemáticas na construção da identidade de Partidos ditos progressistas são abandonadas tão facilmente. Deixa-se de lado princípios na barganha para manutenção do Poder. Vale a pena???
Senhores:
Os cultos evangélicos,como bem acentuou o editorial, tem um lado de integração e proteção aos seus fiéis que a igreja católica nunca sequer desenvolveu, quando muito adotando uma visão assistencialista.
Os evangélicos orgulham-se de suas crenças que devem ser respeitadas, pois se o Estado é laico é para melhor proteger TODOS OS CREDOS.
Se a posição do deputado não é palatável a algumas correntes políticas, que a ele façam oposição.
Não deve ser aceito, entretanto, que grupos extremados entrem no congresso aos gritos vociferando ofensas pessoais.
Por derradeiro,não vejo guerra santa, imposição de idéias nem fundamentalismo nos evangélicos. O que fica patente é que o editorial, sob a capa do progressismo, tenta impor conceitos e fórmulas.
Em tempo: não professo nenhuma religião.
Ednardo Melo
Os comentários de José Arlindo Soares, Nelly Carvalho e Abraham Sicsu demandam, corretamente, uma análise da causa do poderio assumido pelos religiosos conservadores na Comissão da Câmara. Mas o foco do “Opinião” da semana era mais geral, procurando manifestar preocupação com uma aparente estratégia de algumas igrejas evangélicas para forçar seus valores no Estado laico. Na verdade, no “Opinião” da sexta-feira 15 de março – O pastor racista e o Congresso brasileiro – a Revista Será? tratou das tais causas políticas no controle da comissão dizendo: “O Sr. Marcos Feliciano foi eleito pelos deputados. Não foi um acidente (ou um milagre) a eleição de um fundamentalista quase medieval para a presidência da Comissão de Direitos Humanos. Por oportunismo ou desinteresse pelo tema, na negociação para controle das Comissões, os partidos relevantes da Câmara de Deputados – PT, PSDB, PMDB, PR, PCdoB e PSB – cederam vagas na Comissão e cederam a sua presidência ao PSC. Com maioria e direito à Presidência, os fundamentalistas do PSC podem até afastar o deputado Feliciano, mas continuam dominando a Comissão de Direitos Humanos”.
O comentário de Alfredo Luiz Mosena questiona a abordagem afirmando que não existe fundamentalismo na mensagem do evangelho, procurando se diferenciar do islamismo. Parece certo que a Biblia, no novo testamento, não prega violência mas não estamos analisando os textos e sim as declarações e a prática de muitos pastores, particularmente este deputado Marcos Feliciano. Afirmar que John Lennon e os Mamonas foram mortos por Deus porque não respeitavam a religião não é igual à perseguição dos muçulmanos ao escritor Salman Rushdie por ter escrito um livro chamado Versos Satânicos que nem sequer agredia a religião? Ora, se ele diz que Deus matou estes infiéis, não duvido que peça ao seu Deus para eliminar os homossexuais, os ateus e todos os pecadores da humanidade. Neste sentido, caro Alfredo, como cristão que parece ser, deveria se distanciar dos fanáticos e fundamentalistas das igrejas cristãs.
Os Editores