Em 1935, John Maynard Keynes disse que “o mundo é governado pelas ideias”. Boas. E más. Depois dessa frase, vieram a demagogia de Hitler, o histrionismo de Mussolini. Mais perto, o autoritarismo de Chavez e Maduro. E o estelionato político de Bolsonaro.
Antes de Keynes, o planeta contou com ideias democráticas de George Washington, no federalismo; de Montesquieu, na República; de Roosevelt, no New Deal; de Churchill, na resistência ao nazismo.
Democracia é um valor da sociedade. Populismo é uma distorção da política. Entre uma e outro, as massas balançam (entre les deux mon coeur balance).
Populismo é conjunto de práticas políticas que revelam apelo direto ao povo. Minimizando o papel de mediação do Parlamento. E acentuando voluntarismo do chefe do Executivo. Sua característica básica é o contato direto entre líder carismático e a massa popular. Usando discurso demagógico e inflamado.
O século 20 foi marcado pelo extremismo de esquerda e de direita. Com a matança promovida por dois ditadores: Stalin, à esquerda, mais de 2 milhões de russos. E Hitler, à direita, mais de 6 milhões de judeus. Este foi o saldo criminoso do extremismo no século passado. Dos dois lados. Que terminou alimentando a ambição hitlerista na Segunda Guerra Mundial (1939-45).
No século 21, o populismo de direita cresceu no rastro da decepção popular com o desemprego. Principalmente na Europa. Na França, na Noruega, na Turquia, na Hungria. Mas também nos Estados Unidos, com a direita radical de Donald Trump. E, no Brasil, com extremismo anticientífico de Jair Bolsonaro. O populismo no Brasil teve seis momentos agudos:
Vargas, de 1951 a 54; Jânio Quadros, em 1961; Jango Goulart, entre 1962 e 63; Fernando Collor, entre 1990 e 92; Luiz Inácio Lula da Silva, de 2002 a 2010: Jair Bolsonaro, de 2018 a 2022.
As experiências populistas, na 1ª República (1889-1930) e na 2ª República (1946-64), provocaram duas consequências: crises políticas continuadas com derrota da democracia; e falta de solução para problemas sociais de desigualdade, pobreza, educação e violência que permanecem afetando, até hoje, o país.
Em 1950, eleito presidente pelo voto direto, Vargas dissera: “Governo popular, ministério conservador. Ainda terá que ser assim”. Esta é a contradição no ventre do populismo brasileiro. Uma contraposição entre massa e elite. Equação ainda com incógnita.
Bolsonaro quer transformar o Estado numa casa-grande. Que agrega anexos. Centrão, Procuradoria Geral da República, Forças Armadas. Como se fosse antigo fazendeiro, no primitivismo da colonização, açoitando verbalmente seus escravos. No entanto, estamos no século 21. E a nação começa a reagir. As instituições iniciaram a trilha do cumprimento da lei.
O Brasil não é uma casa grande. Que o dono vai anexando subserviências. Não. O Brasil resiste. E começa a surgir, no horizonte da cidadania, a solidão do autocrata. Bolsonaro está só. O Judiciário se impôs. A votação, com derrota para o governo, do voto impresso demonstrou fato. Que o governo não tem base parlamentar para afiançar insensatez.
Ouvem-se rumores do constrangimento de setores do Exército. Generais e oficiais mais lúcidos, comprometidos com o profissionalismo, estão dispostos a resistir a alinhamento ao governo. Porque a força armada é instituição de Estado.
Repito o México de Frida Kahlo nos versos de Octavio Paz:
“O passo das horas e seu peso. A madrugada, mais que luz, é facho de claridade transformado em gotas grávidas sobre vidros e folhas. Brota o dia”.
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