Incômodo – autor desconhecido.

 

Dependendo dos sinais das pesquisas eleitorais na última semana, posso até votar em Lula no primeiro turno, para evitar o prolongamento da agonia até a derrota definitiva do demolidor geral da nação. Se for este o caso, votarei muito incomodado e preocupado. A preocupação decorre da suspeita de que a polarização vai contaminar a vida política brasileira nos próximos anos, até porque Lula emula o bolsonarismo. E por que o incômodo no caso de uma eventual antecipação do voto em Lula no primeiro turno das eleições?

Tenho duas razões diferentes e complementares, uma que remete à postura política do PT, suas atitudes na relação com o poder e com as outras forças políticas, e a outra trata da divergência política em relação aos caminhos e propostas para o desenvolvimento do Brasil. O PT e Lula se movem na política com uma postura hegemonista, arrogante e manipuladora. Hegemonismo entendido como a tentativa permanente de assumir o controle total do poder e isolar as outras correntes políticas, mesmo e principalmente, seus possíveis aliados, que tentam manter como subalternos. São inimigos até que possam aderir aos seus candidatos e decidirem apoiar seus governos.

Foram o PT e Lula que inventaram a segmentação política do país em dois blocos antagônicos – nós e eles – numa versão do bem contra o mal, que antecede as provocações de Bolsonaro. São contra tudo que não parte deles e tentam mobilizar a sociedade para derrubar qualquer proposta ou iniciativa das outras tendências políticas. Vamos recordar as posturas que assumiram no passado recente, o que já antecipa minha divergência política. O PT recusou assinar a Constituição de 1988, embora tenha participado da sua confecção, supostamente porque era conservadora. O PT e Lula fizeram uma campanha acirrada contra o Plano Real, o plano que sustou o processo inflacionário que corrói a renda da população e provoca pobreza e, como consequência, reduziu a pobreza e as desigualdades sociai. Rejeitaram as iniciativas de privatização de empresas que impediam a prestação de serviços de qualidade, como a telefonia, e que, por último, alimenta o desperdício e a corrupção. Se levantaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal porque preferem a liberdade de ampliação das despesas correntes de forma irresponsável, como fizeram em grande parte dos seus governos (Lula e Dilma). Tentaram impedir a reforma da Previdência com argumentos falaciosos, que favorecem os privilégios de algumas categorias de servidores públicos. Mais recentemente, rejeitaram o Teto de Gastos, que tinha o propósito de conter a tendência de elevação continuada das despesas primárias que sufoca a capacidade de investimento público. E foi precisamente o descontrole de gastos do governo Dilma Rousseff, a fantasia da “nova matriz econômica” que gestou a crise econômica que se arrasta desde 2015.

O PT e Lula são mestres na manipulação de fatos com narrativas propagadas para confundir a opinião pública. Quando assumiu a presidência, em 2003, Lula insistia que tinha recebido uma “herança maldita” embora, nos primeiros anos, tenha mantido as bases da política macroeconômica do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, como se fosse sua invenção. Foi bom para o país, mas o sucesso da economia no seu primeiro mandato foi possível apenas porque a política macroeconômica herdada de FHC preparou o Brasil para surfar num ciclo de acelerado crescimento da economia mundial e, desta forma dinamizar a economia brasileira. O discurso ufanista do “nunca antes na história deste país” além de pretencioso, falsifica os fatos: não foi a distribuição de renda do Bolsa Família que fez o “milagre” de redução da pobreza. Foi, principalmente, o crescimento da economia com taxas em torno de 4% ao ano, elevando o emprego e a renda da população, particularmente, dos mais pobres.

O que Lula promete agora para o seu futuro governo não é muito diferente desta visão imediatista para lidar com os grandes problemas nacionais, construindo gambiarras que ganham a simpatia da população, mas não resolvem a essência dos problemas nacionais. O pior é que as propostas do passado, são completamente inviáveis e inadequados para o futuro.

Alguém que tenha tido paciência de ler o artigo até agora pode perguntar: “Mas, Bolsonaro não é pior”. Eu acho que nem sequer se pode comparar os dois candidatos, seria uma injustiça com Lula tentar compará-lo com um político pervertido como Bolsonaro, um postulante a ditador que tenta, sistematicamente, destruir as instituições democráticas, que degrada o meio ambiente e torna o Brasil um pária internacional. De Lula e do PT tenho discordâncias, posso divergir e criticar com a certeza de que não há qualquer ameaça à democracia. Bolsonaro, por paradoxal que parece, levaria o Brasil a uma Venezuela de direita (se é que a dicotomia direita-esquerda ainda serve para classificar as tendências políticas). Sua estratégia será igual à de Hugo Chavez e de Nicolas Maduro: aumentar o número de juízes do STF-Supremo Tribunal Federal, aprovar o direito a nova reeleição para se perpetuar no poder, armar os seus militantes, estrangular a imprensa, perseguir jornalistas e intelectuais. Destruindo a democracia por dentro. Bolsonaro costuma declarar guerra ao bolivarianismo. Mas vai se inspirar nas reformas de Chavez para destruir a democracia brasileira.

Por isso, voto contra Bolsonaro. Num eventual segundo turno, com certeza. No primeiro turno? Talvez.