people diversity - autor desconhecido

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O Brasil atravessou o Rubicão do golpe. Como foi possível?

A história do Brasil tem episódios que trazem pedagogia democrática. Vou lembrar dois deles. Em que o Exército mostrou sua face legalista. O primeiro em 1955. E o segundo, agora, em 2022.

Em 1955, o vencedor da eleição presidencial foi Juscelino Kubitschek (PSD). Derrotando Juarez Távora (UDN) e Ademar de Barros (PRP). A campanha foi marcada por uma frase do então deputado Carlos Lacerda (RJ-UDN): Juscelino não pode ser candidato. Se for, não pode ganhar a eleição. Se ganhar, não pode tomar posse. Se tomar, não pode governar.

Nada a ver com a situação atual, não é ?

O fato é que, dias antes da posse, uma ala golpista tentou impedir o processo democrático. Então, o general Henrique Dufles Teixeira Lott, ministro da Guerra (assim chamado à época), e o chefe do Estado Maior, Odylio Dennis, tomaram as rédeas do poder. E garantiram a posse de Juscelino. Que fez um dos governos mais frutuosos e democráticos do país.

Em 2022, Jair Bolsonaro, no curso da gestão, empreendeu discurso golpista. Agredindo instituições, ameaçando a imprensa, praticando estilo de clã, interferindo inapropriadamente em corporações profissionalizadas, questionando sem argumento a segurança da urna eletrônica. Fez a mais espetacular mobilização de recursos públicos para se reeleger. E não conseguiu.

Conforme noticiário da imprensa, no dia seguinte à derrota, fez uma série de contatos com autoridades civis e militares. Avaliando a hipótese de testar o resultado das urnas. Os presidentes da Câmara, seu aliado, Artur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, responderam que iriam obedecer ao definido pelo eleitor. Igual resposta Bolsonaro obteve com oficiais do Exército.

Ou seja, tanto a casa civil quanto a caserna deixaram claro que a Constituição seria, como foi, cumprida. O Tribunal Superior Eleitoral – TSE diplomou os vitoriosos. Que, depois, foram empossados.

A democracia é um pacto em cima de uma regra. Como se fosse uma casa. Erguida, tijolo a tijolo. Sob sol e chuva. Com participação de arquiteto, engenheiro e operários. A casa da democracia precisa de quem calcule, de quem construa, de quem limpe, de quem pinte. De quem cuide. Permanentemente.

Agora, respondo à pergunta do início: como foi possível ? Porque o povo votou de modo seguro. Porque o tribunal contou os votos de maneira transparente. Porque o poder civil, Legislativo, colocou o selo de legitimidade popular no resultado. E porque o poder militar ficou onde deveria: cumprindo a Constituição. Ignorando o canto de sereia do derrotado.

A transmissão de cargo foi mais bela. Porque não teve intermediário. Na ausência do trânsfuga. O povo, ele próprio, o indígena, a mulher, o catador, a pessoa especial, colocaram a faixa no eleito.

Acordei hoje e fiz ligeiro balanço da semana. O governo reuniu-se com sindicalistas, reitores de universidade e vai reunir-se com chefes do Exército. Que coisa salutar. Um governo que conversa. Que chora, Que ri. Ai que saudades de JK.