Quando o Ocidente começou a desconstruir seus valores ? Certamente nos anos de 1930, na Europa. Quando o nazifascismo invadiu parte do Mediterrâneo. E o totalitarismo deflagrou a Segunda Guerra.
A dimensão material da sociedade é apenas uma face dela. A outra face é o pensamento, a produção intelectual, a arte, o humor, a inteligência. Por isso, os nazifascistas queimavam livros. E fechavam universidades. Daí o ceticismo de Nietzsche. E o pessimismo de Spengler.
Na alvorada do século 21, o mundo toma um susto. Com o solavanco obscurantista da extrema direita. Nos Estados Unidos e no Brasil. Lá, houve o sinal do Tea Party, há duas décadas. Aqui, nem isso. O despreparo e a pobreza de espírito chegaram numa espécie de incredulidade.
Esse movimento na América tem cruzamento com o atentado a Salman incredulidade.
Esse movimento na América tem cruzamento com o atentado a Salman Rushdie. Autor de Versos Satânicos. Com a morte decretada pelo fundamentalismo de aiatolás. Ele sobreviveu. Mas a ideia de democracia saiu ferida. Por isso, é essencial defender o sistema democrático. Criar institucionalidades que resistam ao capacho que se dobra ao capitão do dia. Atualizar a formulação genial tri-partite de Montesquieu. Com instâncias coletivas que reduzam o arbítrio de poderistas.
Também não foi por outra razão que o governo Bolsonaro praticamente zerou as verbas da universidade. De pesquisas em ciência e tecnologia. Por isso, tentou desfazer o IPHAN. Por isso, esqueceu a Biblioteca Nacional. Os totalitários, extremistas, temem livros, relatórios, ensaios, humor, arte, poesia. Tudo que diga respeito à inteligência, sensibilidade, ao que arrepiar a pele. Como não gostam de debater, só gostam de impor, procuram esterilizar tudo que suscite a reflexão social, a escolha política.
A alma humana tem qualidades e defeitos. No ângulo de qualidades, está a profundidade da filosofia. Daí a perpetuidade de Aristóteles. A arquitetura do romance e a força de Cervantes. A ironia do humor e a capacidade de estimular a dúvida de Millôr Fernandes. É a filosofia, o romance e o humor que dão o selo de civilizatório à sociedade.
Estava, ontem, vendo tv. E passaram a apresentar a Quarta Sinfonia de Beethoven. Na sala de concertos Bayreuth, na cidade de igual nome. Construída por Wagner. Eu nunca tinha prestado atenção ao interior de Bayreuth. Um monumento da arquitetura renascentista. Uma obra de arte. Fiquei pensando: é ambiente digno para ouvir Beethoven. É sinal civilizatório. De comunidade que alcançou nível de compreender o significado existencial e cultural da música.
Há duas barreiras ao grau civilizatório: o paroquialismo religioso e o fanatismo político. Ambos, resultam da ignorância. Não a ignorância alfabética. Mas a ignorância cidadã. Que morre com a desinformação. Ignorantes de civilização. De educação. De pensamento. Medrosos de pensar, de enfrentar dúvidas. Temerosos das incertezas que são o sal da vida.
Não há nada que fortaleça mais o homem do que a filosofia política que vem de Locke. O humanismo cristão que vem de Maritain. O humor cético que vem de Wood Allen. Neste universo de criatividade, não há temor. Há troca de ideias. Não há armas. Há persuasão.
Os extremistas são reféns da violência. Mostram rendição à anarquia. Seduzidos pelo absolutismo do tudo que é nada, o mito. Como disse Fernando Pessoa. Não há salvação fora da democracia.
Este ano, a turma de 1969 da Faculdade de Direito do Recife, completa 54 anos de formada. O grau foi certificado pelo prof. Mario Neves Baptista, diretor, e pelo prof. Gilberto Marques Paulo, secretário da faculdade. Gratidão.
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