O Editorial da semana passada, antes do segundo turno das eleições parlamentares na França, anunciava que “ninguém duvida mais de que o Reagrupamento Nacional, de extrema-direita, será o maior partido no Parlamento”. Embora chamasse a atenção para o entendimento do presidente Emmanuel Macron e do seu partido (En Marche!) com a Nova Frente Popular, para concentrar votos nos adversários da extrema-direita, no segundo turno, o editorial subestimou os resultados que surpreenderam o mundo: o Reagrupamento Nacional perdeu para a esquerda e, mesmo, para Macron, ficando em terceiro lugar, com 25% das cadeiras da Assembleia Nacional. Para um leitor da revista, especialista em relações internacionais, não foi uma surpresa: “A França é sempre assim, deixa a extrema-direita aparecer, depois vai lá e derrota”. Mas foi necessária a responsável união de forças da esquerda (Nova Frente Popular) com o Centro de Emanuel Macron, criando uma onda antifascista para impedir que a extrema-direita chegasse ao poder na França. Este foi o fato mais relevante destas eleições: a disposição de adversários políticos, com programas bem diversos, se aliarem no segundo turno para evitar a supremacia do partido de Marine Le Pen.
Passadas as comemorações pelo resultado eleitoral, a governabilidade da França depende agora da arte política, e da capacidade de negociação das lideranças para a construção da governabilidade. Nada fácil, num parlamento dividido em três pedaços que não concordam em quase nada, quando se trata das políticas públicas e da gestão macroeconômica. A aliança eleitoral que parou a direita radical dificilmente levará à formação de um governo de centro-esquerda, considerando as profundas divergências em torno da política macroeconômica. O programa de governo da esquerda é um festival de gastos públicos, que se choca frontalmente com o esforço do presidente Macron para a redução do déficit orçamentário. Um terço do eleitorado francês, vale dizer, apostou na proposta da esquerda. Mas é importante lembrar, por outro lado, que a França já estourou em muito os limites de déficit orçamentário definidos pelas regras da União Europeia. Esse é um dos grandes desafios da França que emerge das eleições.
Não consigo pensar em Editorial melhor. Mas anda tão dificl permanecer otimista. Melenchon é quase tão nacionalista anti-Europa quanto Le Pen. Ou não?