O drama dos palestinos

O drama dos palestinos

Depois de mais de um ano de elevado grau de violência e destruição, o Estado de Israel e o Hamas assinaram um acordo de cessar fogo que inclui a liberação dos poucos israelenses sequestrados pelos terroristas que ainda vivem e, como contrapartida, a libertação de vários militantes palestinos presos por Israel, assim como a saída paulatina das tropas israelenses de Gaza, abrindo caminho para um esforço mundial de reconstrução de Gaza (não existe nada definido sobre as responsabilidades e as fontes dos estimados quarenta bilhões de dólares necessários). O acordo é um primeiro e importante passo para uma paz muto difícil que, além do mais, carrega um rastro de destruição quase total da Faixa de Gaza (pelo menos dois terços das estruturas) e mais de 46 mil palestinos mortos nos bombardeios, 90% da população do território desalojados ou desabrigados e uma população esfomeada. O massacre da Faixa de Gaza, condenado pela comunidade internacional como crime de guerra, foi a dura e desproporcional resposta do Estado de Israel aos ataques terroristas do Hamas no território israelense, em outubro de 2023, matando 1.200 pessoas e fazendo 250 reféns, hoje  em boa parte  já mortos. 

O cessar fogo é um grande alívio. Mas demonstra a dimensão da insanidade dos dois lados – palestinos e israelenses – em um conflito que se arrasta por décadas e que, volta e meia, explode em uma guerra de grandes proporções. O acordo abre esperanças de negociações políticas que levem a uma paz duradoura e, quem sabe, à formação de dois Estados independentes na região, condição para a estabilidade regional. A violência do Hamas e a brutal reação de Israel, o rastro de destruição e morte do ataque terrorista, do bombardeio e da invasão de Gaza, vão deixar marcas profundas de ódio e desprezo no inconsciente coletivo de várias gerações de palestinos e israelenses, aumentando o já enorme ressentimento dos dois povos. 

Como desejava Benjamim Netanyahu, o Hamas foi quase destroçado pelo exército de Israel, tendo sido levado a negociar depois que foi jogado na lona. Segundo fontes militares, o último grande batalhão do Hamas, que atuava em Rafah, foi derrotado em setembro e, desde então, o grupo terrorista está desarticulado. Apesar de condenado pela comunidade internacional e julgado como criminoso de guerra, Netanyahu ganhou a guerra. Além de destroçar o Hamas, desmontou o exército do poderoso Hezbollah no Líbano e quebrou a capacidade ofensiva do Irã. Com esta paz de cemitério, Israel emerge como força hegemônica na estrutura de poder do Oriente Médio. Esta nova configuração política na região pode facilitar as negociações de Israel com os países árabes, mas deve reforçar a arrogância do Estado de Israel e os segmentos mais radicais da política israelense, reduzindo a disposição a concessões significativas que levem a um Estado Palestino reunindo Gaza e Cisjordânia.