Inflação

Inflação

Não é ainda uma grande reação popular, incluindo uma parte de eleitores republicanos decepcionados, mas surgem os primeiros sinais, nos EUA, de descontentamento com o governo de Donald Trump. É o fim do estado de graça, assinalam alguns comentários na imprensa, e o início da oposição contra a desencontrada avalanche de decretos trumpistas.

Os primeiros sintomas se fizeram sentir com o aumento da inflação nos supermercados, agravado com o desaparecimento dos ovos num país onde fazem parte tradicional do breakfast. Os gestos de mão de Trump, jogando a responsabilidade no governo anterior do velho Biden, não estão convencendo a todos.

Uma sondagem Reuters-Ipsos mostra estar mudando o humor da população, desaprovando os impactos das medidas de Trump no custo de vida. Em outras palavras, surgem as primeiras decepções e o resultado não deixa dúvidas: mostram 57% dos estadunidenses descontentes nos supermercados, outros 51% não aprovam sua política econômica e 40% aprovam sua política de demissões.

Esses primeiros resultados em dois meses são maus presságios, diante das próximas repercussões do aumento dos preços dos produtos importados. Porém, não se pode esquecer a força de penetração da TV Fox, repercutida nas redes sociais apoiadas pela plataforma X de Elon Musk, mais o reforço dominical dos pregadores fundamentalistas, no sentido de tranquilizar o rebanho trumpista. Nas redes sociais da globosfera da direita e extrema direita estadunidense, tudo foi culpa da gripe aviária, já sob controle, ou do Joe Biden. Logo toda situação estará sob controle, garantem.

Senão, no caso de crescerem as críticas, existe a hipótese não descartável de Trump jogar a culpa sobre Elon Musk com seu Departamento de Eficácia Governamental, DOGE, responsável pela série de demissões em massa de funcionários federais, mesmo se muitos deles votaram em Trump.

Outro setor começando a temer a política protecionista de Trump é o
mercado financeiro, apesar de o presidente estadunidense, alertado pelas más repercussões, ter juntado a frase “haverá flexibilidade nos direitos aduaneiros”. Essa frase mostrou uma reavaliação pela Casa Branca, diante dos temores criados pelo aumento dos direitos aduaneiros recíprocos, e provocou uma alta na bolsa de Nova York. Essa marcha-à-ré diminuiu os impactos da anunciada guerra comercial prevista para 2 de abril. Trump irá realmente flexibilizar as tarifas aduaneiras e mesmo anular algumas, num retrocesso bem recebido pelas bolsas?

Essa tática do quente e do frio poderá ser adotada também em outros setores, diante do risco de perda de apoio? Embora sensível ao mercado financeiro, Trump deverá manter suas medidas relacionadas com a imigração, cultura e universidades, por agradarem ao seu eleitorado conservador.

Entretanto, existe um setor externo importante, cujas reações às medidas de Trump poderão provocar crises dentro dos EUA. É o relacionado com o turismo, pois um número crescente de viajantes está decidindo não mais viajar aos Estados Unidos, numa espécie de boicote não organizado, por divergir da política trumpista, por temer uma alta de preços com a inflação e mesmo para evitar as exigências para o visto de entrada nos EUA.

Está prevista uma queda de 5% na entrada de turistas nos EUA, quando se previa um acréscimo de 8,8% neste ano de 2025, ou seja, somando-se as previsões de aumento com a diminuição das entradas, a estimativa é de uma queda de mais de 13% de turistas nos EUA, afetando os setores de hotéis, restaurantes, diversões, áreas turísticas e comércio em geral. E mesmo nos transportes aeroviários e locação de carros.

A linguagem e as medidas racistas de Trump contra a imigração, mais as medidas comerciais protecionistas e as ameaças ao Canadá, Panamá, Groenlândia e a suspensão do apoio militar à Ucrânia estão criando um clima de animosidade e rejeição com relação aos Estados Unidos nos países latinos, no Canadá e países europeus, com rejeição da compra e consumo de produtos importados dos EUA. Essa rejeição inclui uma importante baixa de venda, na Europa, dos carros elétricos Tesla do multimilionário Elon Musk.