Bruno Maranhão foi um nobre. Não exatamente pela sua origem de classe. Ele foi um nobre na generosidade e na enorme afetividade. Um homem da elite pernambucana que dedicou sua energia e seu talento às lutas políticas, ao socialismo e, principalmente, ao movimento camponês do Brasil. Filho de um grande usineiro e de uma tradicional família pernambucana, Bruno abandonou um projeto profissional e pessoal promissor e a vida social na alta burguesia, para se entregar à militância política, à vida clandestina durante a ditadura e à organização dos trabalhadores sem terra nos anos recentes. Bruno foi um nobre camponês. Nobre por um acidente genético e camponês por uma opção política. Não é necessário concordar com os métodos e as posturas políticas de Bruno para respeitar e admirar sua coragem pessoal e sua ousadia política na entrega às lutas sociais, à paixão das ideias e à coerência nas ações. A adesão socialista de Bruno lembra Friedrich Engels, filho de um grande capitalista alemão, que dedicou sua vida à luta contra o capital e por uma sociedade socialista, do estudo crítico da situação miserável dos trabalhadores de Manchester à atuação na organização da Internacional Socialista. Bruno foi o nosso nobre socialista. Mais do que isso, para os que tiveram o privilégio de conhecê-lo, Bruno foi um grande e afetuoso amigo.
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bruno voce e tudo de bom ! e de gente como voce que precisamos no mundo sem egoísmo pensando sempre no próximo.
Uma grande perda para todos nós que o conhecemos e para o Brasil. Sem nenhuma duvida poucas pessoas tem ou tiveram durante sua vida a generosidade e dedicação do Bruno. Ele era feito do bom barro. Uma alma boa, e sem dúvida nobre. Nobre, nem tanto pela origem, mas postura, pela atitude na vida, pelo gesto carinhoso, simples. Sem dúvida uma grande perda.
Imaginei a cara do Bruno lendo este texto. Ele daria aquele sorriso sincero, matreiro, encantador, e tavez até gostasse do adjetivo de nobre.
Sem dúvida ele foi um dos mais impactantes personagens de nossa geração. O editorial foi muito feliz.
Cristovam
Vi o Bruno Maranhão umas duas vezes, apenas, no inicio dos anos 80, quando todos estavam formando o PT, e eu dava meus últimos passos dentro da ¨esquerda perene¨, aquela onde muitos não são, mas não querem sair e, tem um registro de identidade para o resto da vida. Mas a sua militancia é muito registrada e divulgada, de forma que podemos falar dela sem tecer comentários às suas características pessoais de afetividade, generosidade, e outras, comentados em em alguns artigos acima. A impressão que tive foi de que o Bruno sempre mandava, e todos obedeciam – afinal ele era o comandante de uma loucura coletiva que tinha chegado ao fim na época, e tinha saido ileso, embora um dos principais responsaveis pela precoce adesão do PCBR à luta armada. A grande maioria dos militantes na época, do PCBR (hegemonicos na região) ou não, tentavam um novo caminho filosófico/ideológico, existencial até, o que representava uma autocrítica na prática. Eu conversava muito com o Marcelo Mário de Melo, que com suas poesias gozava os formalismos e a cultura puritana presente na esquerda. Com Chico de Assis, tive rápidos contatos mais na frente, mas admirei sua coragem de participar dos governos estabelecidos.
Bruno, no entanto, parecia continuar com a mesma perspectiva stalinista. Participa da criação de um órgão camponês e com ele invade o congresso, promovendo um grande quebra-quebra. A revolução socialista estava em curso, acredito. Precisava apenas de gente corajosa para fazê-la. E coragem não era o que faltava a ele – era tudo o que tinha.
Muito bem, Bruno não repensou, ao que parece, os caminhos da luta política. Bruno queria o socialismo revolucionário, mesmo com violencia. Como podemos chamar, em 2014, este pensamento como sendo de um nobre camponês? Não me interessa a origem de Bruno, e seu grande despreendimento na adesão às lutas revolucionárias – não estamos falando de sua passagem emocional, psicológica. Estamos falando de uma perspectiva política, que continuou essencialmente stalinista, anti-democrática. Respeito-o como pessoa, mas não lhe tenho nenhuma devoção como personagem político. Para mim foi um porra-louca, como se dizia na época. Muito diferente de seus pares Apolônio de Carvalho e Jacob Gorender, por quem tenho grande admiração, e que, com a redemocratização, repensaram os caminhos passados e os que passaram a trilhar.