Nessa noite de Todos os Santos, véspera do Dia de Finados aqui em Coimbra, Portugal, recebi a notícia do falecimento do ex-Deputado Oswaldo Coelho. Se a morte é quase banal em seu abraço inevitável – segundo alguns, ainda é a mais democrática das instituições -, só nos cabe, nessa hora de recolhimento, singularizar a vida de cada um à luz da obra que construiu. No caso dele, Pernambuco e o Brasil haverão de reconhecer que foi imensa e, certamente, lhe sobreviverá por gerações.
Político veterano de onze mandatos (três estaduais e oito federais), Dr. Oswaldo tinha estado com o Governador Paulo Câmara na semana passada, a quem levara uma invariável pauta de preocupações com sua região. Ademais, movido pela tenacidade que lhe era habitual, negociava uma autorização médica para se deslocar de Recife até Petrolina onde já agendara compromissos. Falar aos jovens e propagar seu Evangelho sobre o Semiárido era uma constante.
Conheci Dr. Oswaldo há trinta e cinco anos e, por um tempo, tivemos bastante proximidade. Por muitas ocasiões, recebi-o em São Paulo e, por outras tantas, privei de seu convívio em Brasília, Recife e Petrolina. Sequer diferenças de natureza ideológica, muito comuns à época, eram fortes o bastante para obliterar a admiração que todos lhe tinham, inclusive eu que o via tão de perto.
Incansável no dia a dia, o dínamo que o animava não lhe concedia trégua. De resto, é um traço de família. Nesse contexto de perfis obstinados, Oswaldo se reservava o direito de ser quase discreto. Não causava o impacto inicial de Nilo, nem destilava o carisma universal de José – não por acaso, ambos Senadores e irmãos mais velhos. Era, contudo, de uma eloquência solar nos gestos. Longe de ter o perfil do político oportunista, tudo nele emanava do exemplo vivido. O que legitimava seus atos e aspirações.
Nas ocasiões em que viajamos de carro pelos sertões de Pernambuco e da Bahia, me chamava a atenção o interesse genuíno que ele devotava à vida do homem comum. Siderado pelo compromisso – segundo ele, a raiz da atividade política -, traduzia em atitudes o que para muitos só ficava na intenção ou se volatizava no verbo. Avesso a frivolidades, recordarei sempre as tardes com o amigo Mário Clemente, em Higienópolis, a quintessência de um homem de trabalho – outra palavra que venerava.
Desses anos de convívio, tampouco esquecerei a menininha que sofreu queimaduras em ambas as mãos no interior da Bahia. Nos labirintos de sua bondade genuína, incomum em homens tão ocupados, ele tomou para si a tarefa de ajudá-la. E não o fez passando cheques nem se valendo da influência para marcar consultas. Levou-a para casa e lá brindou-a com o carinho que daria a uma filha. A cada progresso cirúrgico que ela fazia, ele sorria o sorriso dos bons. Isso, decididamente, é para poucos.
Assim sendo, são muitas as pessoas que tiveram os rumos de suas vidas impactadas pela presença desse sertanejo de boa cepa. O alcance de sua atuação só poderá ser medido com o passar de anos e, tenho certeza, Petrolina e região haverão de reverenciar alguém que se encaixava na máxima do inglês quando disse que “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”. Madrugador, fino ouvinte e sábio nas ponderações, gostava de citar o filósofo alemão ao dizer que “a coruja de Minerva só levanta voo no fim da tarde”.
Como todo líder de envergadura, criou seguidores. Não somente colaboradores abnegados como Chico Granja, Cantalício, Honório Rocha e o meu próprio tio, o falecido Hélio Lucena – que o adorava -, mas foi também um farol para políticos mais jovens que se notabilizariam no cenário nacional. Poderia citar Marco Maciel, Gustavo Krause, Joaquim Francisco, José Jorge e já nem falo dos expoentes que vieram à baila nesses últimos vinte anos, quando os sobrinhos galgaram degraus.
Por fim, tenho uma admiração especial por Dr. Oswaldo porque ele viveu à sua maneira. Apesar dos vaticínios médicos, quase os desafiava ao mostrar que a chama do ideal supera quaisquer limitações. A motivação trazida por um novo dia era quase patológica e a agenda esteve cheia até o último suspiro, aos 84 anos de vida profícua. Oswaldo Coelho viveu com um olho na História. Que isso conforte seus familiares. Muito em particular, os irmãos Geraldo, Adalberto e Augusto – remanescentes de uma dinastia briosa que honra Pernambuco.
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Amigo Fernando,
Muito bonito e maravilhoso o seu artigo homenageando a memória do nosso Tio Oswaldo,figura adorável que deixara uma grande lacuna na familia.
Nossos parabéns e até breve.
Rogério,Ines,Ro e Bê.
Queridos Rogério e Família,
Agradeço a presença de vocês aqui. Mais do que uma homenagem minha – por insignificante que possa ser -,se trata também de uma homenagem do Núcleo Editorial da Revista Será a Dr. Oswaldo.
Dito núcleo – formado por Teresa Sales, Sérgio Buarque e João Rego – julgou o fato relevante e, generosamente, abriu espaço para a publicação de meu pequeno artigo fora das datas regimentais. A eles, portanto, obrigado.
Quanto a vocês, um abraço saudoso e até breve. Haveremos de viver juntos momentos felizes como merece nossa velha amizade.
FD
Amigo Fernando,
Muito bonito e maravilhoso seu artigo homenageando a memória do nosso Tio Oswaldo figura adorável por todos e que deixara uma imensa saudade a todos nós.
Nossos parabéns até breve.
Rogério,Ines,Ró e Bê.
Fernando
Grande perda para Pernambuco e o Brasil !!! Passaram pela minha cabeça lembranças de alguns momentos que passei com ele, poucos infelizmente. Desde a caixa com as uvas de Petrolina ,que ele exibia tão orgulhosamente, com que me presenteou quando o conheci, até a ultima vez que o encontrei em Sorocaba, quando dividimos as frugais refeições do SPA Medcampos. Não tenho o telefone da Patricia mas quando encontrar com ela, por favor, transmita o meu pesar pela perda e a admiração que tinha pelo seu pai.
Abraços
Alberto
Alberto,
Tenho nítida lembrança da primeira vez que vocês se encontraram e engrenaram uma conversa longa sobre as culturas irrigadas da Califórnia – objeto de interesse de um cliente teu.
Outras pessoas estão mais autorizadas do que eu para comentar a respeito, mas presenciei em idos tempos inúmeras conversas em que gente ilustrada como você era fisgada numa noite para a causa do Semiárido nordestino. E nunca mais esqueceu aquele momento.
Creio que Dr, Oswaldo sabia dar um tom universal ao que era local. O que – alguém já disse – é próprio dos que falam do amor às suas aldeias.
Abraço,
FD
Querido Fernando ,
Que belíssima homenagem a tio Osvaldo !
Fiquei emocionada com as palavras generosas com que você descreveu esse grande político e tio muito querido! Ele realmente deixará um vazio na política pernambucana e brasileira! E muitas saudades naqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele!
Com o carinho e gratidão ,
Lídia
Querida Lídia,
O mérito é todo de Dr. Oswaldo. Cada dia me convenço mais de que pessoas singulares como foram seu tio e seu próprio pai – o também saudoso Senador José Coelho – deixam um legado que só se adensa com o passar do tempo.
É só com a ajuda dos anos que nos damos conta de muita coisa que eventualmente não estávamos à altura de perceber quando elas de fato aconteciam à nossa volta. É inerente à vida, somos filhos do aprendizado.
O que não dizer daqueles que foram superlativos? Dia desses eu subia no elevador com seu irmão Duca e um senhor que ele não conhecia. Quando eu o apresentei como filho de Zé Coelho, o homem prorrompeu em lágrimas e nos puxou para o apartamento dele. Tivemos trabalho para sair de lá.
Um abraço em Cezar e obrigado pela sua amizade de todos esses anos,
FD
Fernando querido,
É sempre muito bom ter o privilégio de compartilhar seus textos sempre tão bem escritos e ricos em seu conteúdo.
Nesse caso, mais especial ainda, por voce ter descrito tão bem a real personalidade de nosso querido tio Osvaldo.
Voce soube ressaltar com perfeição a sua personalidade, a sua permanente preocupação com os menos favorecidos e as suas atitudes concretas para reverter essa situação.
Desejamos que o seu exemplo seja seguido e que a História possa reconhecer a sua importância e dimensão da sua contribuição em mudar uma região antes inóspita e esquecida, em um grande polo de desenvolvimento e progresso.
Beijos,
Tequinha
Querida Tequinha,
Não há grande mérito em realçar uma personalidade tão exuberante quanto a de seu tio Oswaldo. O mesmo se aplica a seu pai, o saudoso Senador Nilo Coelho, cujo centenário de nascimento se celebrará dentro de mais cinco anos.
Da junção dos filhos de seus avós, brotou um lar simplesmente único, quase mítico. Percorrendo essa mitologia nas minhas andanças de hoje, aqui nas lonjuras da Serra da Estrela, na cidade de Covilhã, Portugal, recebi um texto de um primo seu que sintetiza tudo que poderia ser escrito sobre a casa de Dona Josefa.
Sem a autorização dele, logo sem identificá-lo, eu o reproduzo abaixo, tal e qual ele o redigiu:
“Agora entendo: a Casa não é grande, nem é pequena – ela é imensa! Vovó e Vovô construíram um celeiro que abrigou gigantes! Um mundo novo foi gerado deste lar. Na sua sala, está o marco zero da estrada que liga Petrolina a Recife. Naquela casa nascem as tomadas d’agua dos projetos de irrigação; é lá a pedra fundamental da Universidade, de todas as escolas técnicas. Nela começaram a girar as turbinas de Sobradinho. Na sua mesa, o sertão bebeu a água do São do Francisco e tantos sertanejos transformaram seu destino pela educação e prosperidade. Ninguém saía de lá sedento ou faminto! Era o lugar onde se aspirava e conspirava pelo bem e prosperidade desta terra e da sua gente! Fui tolo – em algum momento pensei que a casa fosse importante porque recebera os poderosos. Mas desde sempre tio Osvaldo entendeu que a força e a energia da casa não estava em receber os poderosos, mas em acolher os necessitados”.
Pode-se dizer mais alguma coisa depois disso?
Um beijo e obrigado pelo carinho de sempre,
Fernando
Belíssimo texto, Dr. Fernando.
Este vai p/ o meu Facebook e para mais algumas dezenas de amigos.
Como interiorano de Pernambuco, também nutria fortíssima admiração e respeito pelo Dr. Oswaldo.
Ah, se nossa terrinha tivesse tido um Oswaldo, dedicando sua vida à promoção de suas potencialidades!!
Abraço,
Alexandre Marinho
Prezado Alexandre,
Nossa Garanhuns bem que está precisando mesmo de uma boa sacudida. Sem menosprezar o legado de meu avô Euclides Dourado e de meu tio Luís Souto Dourado, a história se faz com um olho no futuro.
Uma cidade com o potencial da nossa há de merecer políticas que contemplem o milhão de brasileiros que dependem dela para estudar, cuidar da saúde e se distrair. Chegaremos lá.
Muito obrigado pela visita a essa página. E abrace em meu nome o ex-deputado Zé Chaves, outro que sabe ser amigo dos amigos e, comigo particularmente, sempre foi atencioso como poucos.
Abraço,
Fernando
Muito boa a homenagem ao nosso querido Osvaldo, que deixa aqui, um legado enorme.
Querido Filinto,
Da última vez que nos vimos, na festa junina do Pinheiros, falávamos também dessa outra grande figura que foi seu pai. Se nosso homenageado de hoje ajudou a inserir Petrolina no mundo, Dr. Moraes foi um embaixador intinerante de Penedo e um cruzado da amizade.
Como o tempo voa, amigo.
Abraço,
FD
Parabéns! Osvaldo é realmente isso, homem largo, de gestos e gostava de cultivar amigos assim como você, ele fará muita falta e deixa uma lacuna grande na politica Pernambucana, tão carente de homem do tipo de Osvaldão.
Obrigado, Paulo.
Vindo de você, fico honrado que tenha identificado verossimilhança entre o que escrevi e o líder de cujo convívio você tanto privou.
Quanto à semelhança aludida, agradeço, mas ela me surpreende deveras.
Isso porque, no geral, sou tido – merecidamente – por turrão, grande amigo de poucos, intransigente com os que não o são, e nada inclinado a mudar.
Mas registro o incentivo pois, bem sabemos, nessa vida quase sempre ainda dá tempo para tudo.
Abraço,
FD
Dourado,
Adorei seu depoimento .
Poucos privaram da intimidade da família ,para poder desnudar com tanta elegância e verdade a “alma” sertaneja deste grande brasileiro.
Tio Osvaldo ,nos deixou um legado de trabalho e perseverança .
Vc ,com suas palavras ,nos deixa saudosos …
Abc amigo,
Duca
Duca,
Em nossos mais de 30 anos de amizade e de andanças por tantas partes do mundo, vejo em você a síntese das qualidades da família: inteligência, companheirismo, combatividade (bote bom de briga nisso), solidariedade e, no seu caso pessoal, uma agudeza de percepção do mundo que nos cerca que me deixará sempre perplexo e de que Lavínia vem sendo testemunha agradecida.
Seja no Brasil, Turquia, Peru, Israel, Alemanha, Cambodja, Marrocos ou Hong Kong, sempre encontramos uma tarde para nos emocionar com a grandeza de espírito das almas elevadas e contemplar, perplexos, os andrajos pérfidos a que pode chegar o ser humano. E você, um homem de raiz – como seu pranteado tio e saudoso pai – consegue sempre transcender o óbvio e dali ver mais longe, interpretando o mundo com vivacidade e, sobretudo, bom humor.
Do legado que Dr. Oswaldo deixa para tantos, me coube herdar o brilhantismo de sua inteligência e a chama de sua amizade incondicional. Um legado pré-testamentário e tanto.
Abraço e obrigado por tudo,
FD
Muito bom e, sobretudo, muito justo
Obrigado, Marcos.
Em se tratando de grandes homens, sua trajetória de vida o habilita a transcender o escrito acima sobre Dr. Oswaldo, mesmo porque você viveu de perto com um símbolo da História de nosso País.
Nesse contexto, fico feliz que laços sólidos – como meu querido tio Ivan – unam nossas famílias desde bem antes das encruzilhadas dramáticas dos últimos 50 anos. E, sobretudo, que a todas elas tenham sobrevivido.
Abraço,
FD
Olá Fernando,
Leio, logo endosso! Parabéns pela crônica genuína sobre este grande timoneiro do Sertão do São Francisco, Oswaldo Coelho. Foi um dos grandes catalisadores na dinâmica do desenvolvimento da irrigação, da agroindústria, da produção, exportação e da modernidade em Petrolina, municípios circunvizinhos, no Semi-Árido e no Sertão.Um obstinado líder e honrado representante de Pernambuco, o Sertão já está saudoso.
Um forte abraço,
Acho que suas palavras fazem justiça a Dr. Oswaldo, meu amigo. Especialmente vindas de você, uma pessoa que conhece profundamente os dramas do desenvolvimento na região e que acompanhou da Sudene tudo o que houve de relevante na região nos últimos 30 anos. É um valioso depoimento de reforço.
Abraço,
FD
Fernando:
O texto é muito bem escrito, como se diz no sertão, “do fundo do coração”.
Deixará lacunas, sem dúvida.
Abraço,
Gilda Kelner
Obrigado, Gilda.
Abraço,
Fernando
Fernando,
Uma redação sensível precisa mais que inteligência, precisa de alma.
E estas qualidade amigo, você tem em abundância.
Identificar respeito e gratidão, palavras hoje em extinção em nosso vocabulário, nos faz sentir saudades do tempo em que nossos políticos tinham de fato, um comprometimento com sua terra e seu povo.
Abraço.
E.T. Papai adorou o artigo, considerando uma justa homenagem.
Querida Lourdes,
Obrigado pelas suas palavras. Você e sua família são sempre de uma gentileza superlativa comigo e de uma generosidade que não mereço. Mas acolho com alegria seu depoimento, até por sabê-la filha de outro grande timoneiro que merece a admiração unânime de nosso estado e país.
Um abraço,
Fernando
Comentar o seu comentário (vida profícua) é tarefa fácil: BRILHANTE! Grande privilégio tê-lo conhecido de tão perto. Osvaldo é realmente isso, homem largo (dito pelo Paulo).
Privilégio também é tê-lo como amigo e quase primo.
Grande abraço.
Flávio,
Pelo que me diz respeito, obrigado. Suas palavras são sempre positivas e atestam o primo atencioso que você sempre foi. Apenas cumpri um dever de justiça que tinha para com minha consciência de cidadão.
Quanto a Dr. Oswaldo, acredito que médicos são pessoas bem posicionadas para aquilatar o impacto das lideranças na qualidade dos serviços de saúde e nas carências da população.
Como genro de médico, cunhado de médico, pai de médico e, ademais, sendo você próprio um médico brilhante, acredito em sua autoridade para discorrer sobre o valor de um homem público.
Abraço,
FD