Editorial

Toda a razão tinha Tom Jobim, ao afirmar que o Brasil não é para principiantes.  Pois até os veteranos e experimentados têm dificuldade em compreender atitudes como a recente, do nosso Ministro da Justiça Torquato Jardim, ao declarar que o Estado do Rio não controla a sua Polícia Militar, e que esta, de alguma forma, pactua com o crime organizado.  Ora, o Ministro não é nenhum neófito.  Sabe que uma “grave perturbação da ordem” – que é o mínimo que se pode dizer de tal situação – é motivo de intervenção federal, segundo o art. 34, inciso III, da nossa Constituição.  E que esta é medida privativa do Presidente da República (art. 84, X), ouvidos os Conselhos da República (art. 90, I) e da Defesa Nacional (art. 91, § 1º, II).  Em suma, um imbróglio político dos mais embaraçosos.  Então, por que fez tal declaração? Responda quem souber.  Se tem provas do que afirmou, não há outro caminho senão apresentá-las, para que o inevitável, penoso e traumático processo de intervenção tenha curso.  Se não, cometeu uma leviandade que impõe ao Presidente a sua pronta demissão do cargo.  E como se isso não fosse o bastante, uma senhora ministra pretende ganhar o dobro do limite legal de remuneração dos servidores públicos federais, afirmando equiparar-se – por incrível que tal comparação pareça – aos trabalhadores escravos.  E a Presidência da República, até o momento em que este texto é escrito, guarda obsequioso silêncio sobre tudo, e mantem-se inerte, desgastando-se ainda mais profundamente ante a opinião pública.  Anomia? Ataxia?  Pusilanimidade?  O que será?