Luciano Oliveira

Jornaleiro.

Como diria Roberto Carlos, “o show já terminou”. A “bolha da copa”, é verdade, só estoura no próximo domingo, com a grande final, mas devo confessar uma defecção: pulei fora antes, com a derrota do Brazuca para a Bélgica, deixando lá dentro Galvão, meu amigo de quatro em quatro anos, na companhia de Casãogrande e Ronalducho. Sei que é uma sacanagem, e que restam ainda belas partidas de futebol a serem vistas, e as estou vendo. Mas, sem o Brasil, já não é a mesma coisa. Foi bom enquanto durou. Tão bom que poderia ter durado mais. Mas no meio do caminho tinha uma pedra, e tropeçamos. Enquanto vejo uma partida e outra, fico me divertindo com os profetas do dia seguinte, aqueles que anunciam as desgraças da véspera. Está todo mundo agora descobrindo os “erros” de Tite, tão óbviosdepois que aconteceram, que a gente fica se perguntando por que não foram previstos.

Tenho ouvido análises inteligentíssimas sobre, de um lado, o brilhantismo da tática da Bélgica contra o Brasil; e, de outro, sobre a estupidez da tática do Brasil contra a Bélgica. Como em boa parte das vezes não consigo ver nada daquilo no jogo a que acabei de assistir, me sinto um mentecapto. Enfim, talvez eu realmente não entenda nada de futebol. Eu e Nélson Rodrigues, que nesse assunto preferia acreditar na existência de um senhor chamado Sobrenatural de Almeida. Por exemplo. Logo no começo do jogo, num escanteio a favor do Brasil, a bola resvala na cabeça de Miranda, encontra o joelho de Thiago Silva e, em vez de entrar, bate na trave. Exatos cinco minutos depois, num escanteio a favor da Bélgica, a bola resvala na cabeça de um atacante belga, encontra o ombro de Fernandinho e é desviada para dentro do gol. Gol contra! Bem, aí bateu um descontrole no time brasileiro, que avançou demais antes da hora (estávamos apenas aos 12 minutos de jogo…), e possibilitou aquele contra-ataque fulminante que resultou no segundo gol. O descontrole, claro, poderia ter sido evitado. Mas me digam: que esquema tático poderia ter previsto ou evitado aqueles dois azares em dois escanteios?

Aliás, não gosto de gols de escanteio. Para começo de assunto, são feios. Aquele monte de gente se agarrando e se empurrando lembra aquela montanha de jogadores uns em cima dos outros em jogos de rugby. No meio daquela confusão com todo mundo correndo em direção ao gol no momento em que o escanteio é cobrado, a sorte – ou o azar – é quem termina decidindo o resultado do lance. Um brutamontes tem mais chances do que um craque. Ainda que tenha sido um craque, Zidane, que tenha feito dois gols de cabeça em cobranças de escanteio naquela final Brasil X França em 1998 – aquela da “bilôra” (olhaí outra prova da existência de Sobrenatural de Almeida…) de Ronaldinho. Me digam: Zidane fez aqueles dois gols porque era um craque ou porque teve sorte? Aliás, que me lembre (ajudem-me, Fernando e Clemente!), aquele supertime brasileiro de 1970 não fez nenhum gol assim no México, fez?

E domingo próximo teremos uma final de arrepiar: França X Croácia. Quanto à França, tudo bem. Quanto à Croácia, não conheço nenhum analista que tenha previstoque ela chegaria a essa final de Copa do Mundo. Chega. E chega depois de um jogo contra a Inglaterra ganho na prorrogação. Foi a terceira prorrogação dos croatas em três jogos seguidos – o que, na prática (já que cada prorrogação dura 30 minutos), significa dizer que a Croácia já jogou uma partida a mais do que sua adversária nas duas últimas semanas… Se ganhar no domingo, terá sido (como virou moda se dizer depois que a expressão de tornou marca registrada em programas do tipo Luciano Huck…), uma “vitória da superação”. Ugh!

Assim que o Brazuca caiu fora da Copa, adotei a França como meu time. Uma velha história de amor me liga àquele país, onde vivi por cerca de cinco anos e onde tenho uma “família adotiva” que estará domingo próximo na frente da televisão gritando: “Allez les bleus!” Já eu… Bem, devo confessar que depois da vitória da Croácia contra a Inglaterra, “entre les deux, mon coeur balance” – como diz uma velha cantiga infantil do país gálico. Vamos ver.

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Daqui a quatro anos tem mais. Até lá, como diria o mesmo Roberto Carlos, “vamos voltar à realidade”. E a realidade… Ufa!