A intensa e cotidiana publicidade dos governos em todos os níveis e através dos diversos meios de comunicação tornou-se banal e corrente, aceita como absolutamente normal, tanto quando a propaganda para vender Coca-cola ou carros da Volkswagen. Ninguém parece fazer a mais simples e óbvia pergunta: os governos estão vendendo o que quando gastam bilhões para veicular suas mensagens publicitárias nos veículos de comunicação? Dados levantados pelo jornalista Fernando Gallo, do Estado de S. Paulo, mostram que o governo federal vem gastando R$ 1,5 bilhões por ano com publicidade, metade dos quais através das empresas estatais e metade pelos ministérios e, principalmente, pela Presidência da República. Os Estados não ficam muito atrás: São Paulo vem gastando cerca de R$ 244 milhões por ano. E não seria exagero estimar que União e Estados juntos gastem mais R$ 2 bilhões de reais por ano com publicidade. Os governos explicam que a publicidade governamental tem como objetivo “levar à população informações de utilidade pública para assegurar seu acesso aos serviços a que tem direito e prestar contas sobre a utilização dos recursos orçamentários”. Mentira. A publicidade governamental, inclusive das estatais, é pura e descarada propaganda política tentando mostrar, muitas vezes de forma claramente enganosa, as supostas realizações do governante. Do mesmo jeito que a Coca-Cola tenta convencer da qualidade do seu produto, a publicidade governamental procura, com caros e sofisticados apelos e manipulações visuais, ganhar o eleitorado para as próximas eleições. Na sua maioria constitui fraude político-eleitoral utilizando o dinheiro público que poderia e deveria ser usado em projetos de desenvolvimento. Sem falar que parte da publicidade governamental ajuda a cooptar órgãos de comunicação de massa e veículos privados das redes sociais.
Estão vendendo o que? – Editorial
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Perfeito o texto. Deveria existir leis que proibissem qualquer mandatário a gastar milhões com propagandas de obras ainda no papel ou em andamento. Só poderiam fazer a publicidade quando fossem entregues à população e se as mesmas não tivessem sofrido qualquer intervenção pelos tribunais de contas. Deveriam ser avaliadas também as propagandas institucionais, que a meu ver são muito fantasiosas e mostram irrealidades, como se tudo funcionasse as mil maravilhas. Talvez assim, o povo pensasse melhor em quem votar.