David Hulak

O Pensador.

O Pensador.

Prefácio por Umberto Eco.

“Um dia escrevi: Quando os homens não acreditam mais em Deus, isso não se deve ao fato de eles não acreditarem em mais nada, e sim ao fato de eles acreditarem em tudo”.

Quando minha amiga Teresa, vinda do Brasil para uma saison des vacanses, pois lá a Copa do Mundo havia sido cancelada, apresentou-me à sua revista virtual.

Fiquei pasmo com o conteúdo polêmico, psico-filosofo-político, gerados em uma província daquele país e não entendi alguns incongruentes dislates, incompatíveis com a seriedade daquele veículo de comunicação de massas sob o título Livre Pensar.

Esclareceu a minha querida amiga brasileira que os editores admitiram aquelas postagens justamente para tentar contrabalancear a sobriedade dos seus colaboradores e comentadores habituais.

Informou que, no entanto, não estava dando certo pois os seus milhares de leitores não acompanhavam aqueles contrassensos, pastiches de um verdadeiro pensador o Sr Millôr Fernandes. Como não perco a chance nem a minha indignação disse-lhe que imaginava ser algo parecido como o execrável Dan Brown que virou best-seller chupando tudo do meu Pêndulo.

Ante o olhar atônito de Teresa esclareci que me referia ao meu livro “O Pêndulo de Foucault” e não outras partes oscilantes de minha anatomia.

Mal Teresa havia partido recebo um e-mail do indigitado colaborador da Será? pedindo esclarecimentos sobre a minha obra. Stufo, respondi que ele fosse procurar no Google, último apanágio dos néscios.

Prefácio do autor.

Recebi um ultimatum dos editores dando uma última (claro!) chance para o Livre Pensar. Os milhares de leitores desta Revista não liam ou ignoravam o Livre Pensar. Vamos tentar mais uma vez, disseram, ante minha relutância por vaidade ofendida e por falta de assunto. O editor JR sugeriu várias coisas dentre elas um peremptório – escreva sobre Foucault. Então a ligação caiu, como vem acontecendo para gáudio dos que são contra todas as privatizações fiquei na dúvida.

Queria texto sobre o Pêndulo ou sobre o Michel Foucault, o pensador francês, homenageado por Eco – o Umberto e não a ninfa castigada por Hera para ficar se repetindo, como eu?

Eu havia lido o Pêndulo, saltando páginas confusas pois este não é escorreito, linear como o “Nome da Rosa”; de Michel, li apenas, por identificação e admiração a Erasmo, o “Histoire de la folie à l’âge classique”, além de artigos e umas entrevistas quando ele esteve no Brasil, nos anos setenta, no período de chumbo.

Fiquei com vergonha de ir ao Google após um iracundo e desforrado e-mail do italiano -e não da Ninfa- para não escancarar a minha nescidade.

Assim, só me resta livre pensar ignorando Eco e caído em Michel.

Para Foucault, a escola é uma das “instituições de sequestro”, como o hospital, o quartel e a prisão. “São aquelas instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos, formatar aquilo que pensam etc.”. Com o advento da Idade Moderna, tais instituições deixam de ser lugares de suplício, com castigos corporais, para se tornarem locais de criação de “corpos dóceis”. A docilização do corpo tem uma vantagem social e política sobre o suplício, porque este enfraquece ou destrói os recursos vitais. Já a docilização torna os corpos produtivos. A invenção-síntese desse processo.

Educação.

Desde que o Brasil acabou com a saúva, e não vice-versa, a maior unanimidade é achar que sem educação este país não sairá do brejo. Aécio, Dilma e Eduardo (notem a ordem alfabética e nenhuma tentativa de demostrar meu voto) concordam. Eu também. Mas como atingi-la universalmente. Via escola? Qual escola?

Hoje com toda a ciência, inclusive a social, essas instituições, em tese, não são como antanho lugar de punição, de suplício para a referida moldagem, mas lugares para a “docilização”

O meu Word não reconhece esta palavra, mas ela está grifada em texto de Foucault: “A docilização do corpo tem uma vantagem social e política sobre o suplício, porque este enfraquece ou destrói os recursos vitais. Já a docilização torna os corpos produtivos.”

Será? É caso de perguntar à rapaziada que quebrava os cinemas vendo Rock Around the Clock, aos mascarados do não vai ter copa e aos dissidentes dos Sindicatos de Motoristas.

Aprendi ontem que o significado de escola em grego é “lugar de ócio”. A fonte é confiável;” Diretas Coquetel, Grande Titá 305, pág. 29, 2014”

Acho que Domenico De Masi andou estudando o seu gregozinho e que uma nova pedagogia deveria lê-lo, bem como a Foucault.

Tá todo mundo louco, ôba.

Tem Copa não tendo. A presidenta aprovou, não aprovou, aprovou ou, digo melhor, não aprovou e não sabia; Joaquim Barbosa vai se aposentar, ôba…

Se algum outro néscio, como eu, topar pode ir acrescentando.

Será que Foucault leu Machado de Assis ou ouviu a deliciosa música de Sílvio Brito, http://www.vagalume.com.br/silvio-brito/ta-todo-mundo-louco.html ?

Será que ele, Michel e não Silvio, em passagem pelo Brasil, viu o filme de Leon Hirszman sobre a psiquiatra, antipsiquiatria, Nise da Silveira, a doce alagoana da Urca?

Com o que está rolando e com clientes inadimplentes pensei em voltar à terapia, mas será melhor tomar uma bolinha? Tem umas joínhas, joínhas, pois já tomei e estou desmamando.

O meu terapeuta é meu amigo e parceiro, Seu Michel? Ou será um tecnocrata do saber. Fala Michel:

Vou ou não vou? Me diga Seu Michel! E ele disse:

“O exercício de poder que se desenrola no interior da sessão psicanalítica devia ser estudado — e nunca foi. E o psicanalista — ao menos na França — se recusa a isso. Considerando que o que se passa entre o divã e a poltrona, entre o que está deitado e o que está sentado, entre o que fala e o que quer tirar uma soneca, é um problema de desejo, do significado, da censura, do superego, problemas de poder no interior do sujeito, mas nunca questão de poder entre um e o outro.”

Vôte, ôba!