Fui concebido e gestado num tempo bom. Depois de escrito, minha autora escolheu à dedo (ou melhor dizendo, eu é que fui escolhido por) uma madrinha que, com todo o gosto e zelo, preparou o enxoval. O projeto gráfico ficou bonito e valorizou meu corpinho de 116 páginas.
Foi então que surgiu a primeira pedra no caminho. A madrinha não se entendeu com os métodos e procedimentos do hospital escolhido para me dar à luz. Com prazo certo para vir ao mundo, a Cortez Editora mobilizou seus próprios designers gráficos. Aqui e acolá ficaram as marcas do bom gosto da madrinha. A capa ficou linda! Confesso até que gostei mais dela do que daquela de meu primeiro enxoval.
Finalmente, fiquei pronto para ser apresentado ao mundo. Primeiro, na Bienal Internacional do Livro em São Paulo no dia 28 de agosto de 2014. Porém, na véspera, a segunda pedra no meu caminho: faltavam-me as sete páginas finais. Não dava nem para aproveitar a capa porque teria que mudar a largura da lombada. Funcionários dedicados viraram a noite e conseguiram me levar completo, em 50 exemplares, para o burburinho da Bienal do Livro. Fui brindado com gostosos petiscos e proseco.
A terceira pedra no meu caminho não foi um contratempo maior do que os outros. Foi talvez o mais inusitado. Estava eu viajando de São Paulo para o Recife, multiplicado em 300 exemplares, em transportadora que trazia junto mercadorias de mais utilidade prática – geladeiras, fogões, fornos de micro-ondas – e eis que na rodovia Rio-Bahia fomos todos assaltados. Meus companheiros de viagem terão destino certo. E eu? Para onde me levarão os salteadores de estrada?
Tenho esperança, como livro clandestino, poder chegar a mãos que me valorizem.
Agora estou viajando de avião para ser apresentado a meus conterrâneos. Cortez acaba de avisar o acontecido na Rio-Bahia à minha autora. Vocês pensam que ele estava desesperado? Qual nada! Com seu bom humor à prova de qualquer apuro, deu risada, cogitando qual seria o meu destino.
Essa, aliás, não é sua primeira experiência com ladrões e livros. Há dez anos, a editora foi assaltada com destino certo: o cofre. Para desgosto dos assaltantes, a única pessoa que detinha o segredo já havia ido embora. Cortez não se alterou: “olha aqui, rapaz, você tem filho? Tem família?” À resposta afirmativa, saiu-se com essa: “então vá com Isabel até aquela prateleira e pegue uns livros infantis. Quem sabe esses livros possam ajudar seus meninos a ter uma vida melhor do que essa que você está levando”. Assim, em vez de dinheiro, os assaltantes levaram aparelho de fax, algumas calculadoras e livros, muitos livros. (Teresa Sales e Goimar Dantas. Cortez – A saga de um sonhador, São Paulo, Cortez Editora, 2010).
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O livro João Cabral e Josué de Castro conversam sobre o Recife está sendo lançado na Livraria Jaqueira nesse sábado, dia 13 de setembro, às 16 horas.
10 de setembro de 2014.
Parabéns pelo livro. E prazeroso evento de lançamento. Bjs
Parabéns, Teresa pelo novo livro. Gostaria de estar aí para lhe dar um abraço pessoalmente. Como serão levados os livros para a livraria hoje? Arrume escolta policial para acompanhá-los até a Livraria Jaqueira. Beijos mil.
Teresa: Em que tempos vivemos, diziam os ratos roendo não o seu livro, mas as bases da barbárie brasileira. Mas não será um sinal de progresso o fato de ladrões agora roubarem transportadora de livros? Se pelos menos os lessem… É claro que brinco (que mais fazer?), pois fica evidente que seu livro não era o alvo do assalto, mas apenas um inocente mal acompanhado. Boa sorte, Teresa, para você o seu livro. Seu relato me convence de que publicar livro no Brasil é algo que excede minha imaginação negativa.
Fernando