Editorial

Recentes pesquisas estão a indicar que o nível de aceitação do Presidente Interino pela população aproxima-se ao daquele da Presidente Substituída. E as queixas pelos recuos e contemporizações do Dr. Michel Temer revelam-se crescentes. Cabe-nos, portanto, na linha essencialmente questionadora desta Revista, propor uma reflexão a esse respeito, começando pelo reconhecimento de que o Governo atual, para ser bem avaliado, deve ser decomposto em duas fases: a primeira, que pode durar mais uns dois ou três meses, e a segunda, que vai daí até a próxima eleição, em 2018.  Nesta primeira etapa, enquanto o impeachment da “Presidenta” não estiver consumado, o chefe temporário do Executivo tem grandes limitações: precisa tomar providências urgentes, para deter a queda da economia nacional no abismo – o que tem feito satisfatoriamente – e encaminhar reformas estruturais indispensáveis ao futuro do país, para o que depende do Congresso.  E para contar com o Congresso, precisa conciliar.  O Congresso é o que é, com grande parte dos seus componentes sob suspeita de “malfeitos”, e não se pode elidir essa realidade.  Por outro lado, ninguém pode deter o avanço da Operação Lava Jato, e as insinuações de que estaria havendo esforço do Governo atual nesse sentido soam enviesadas. Na medida em que eventuais componentes da Administração se forem evidenciando envolvidos em ações criminosas concretas, cabe ao Presidente “liberá-los” para que façam suas defesas, caso a caso.  Os núcleos de poder do Governo estão razoavelmente ocupados por gente competente e, até o momento, insuspeita. Entretanto, a excessiva leniência de Michel Temer diante das pressões das várias facções fragiliza ainda mais o delicado equilíbrio político do governo. A nação atravessa uma das maiores tempestades da sua história, as vagas batem na proa do governo a cada semana, a cada gravação.  Um comandante precisa ter pulso firme e determinação, nessas horas, sem deixar de apontar a nau no rumo certo – mesmo que o vento esteja desfavorável e a escuridão assustadora. Sem segurar com firmeza o leme, o barco aderna a cada suspiro e com ele a nação atônita perde o rumo e a esperança.