Um triste dia para o processo de unificação europeia. Um triste dia para a globalização. Os britânicos votaram 52% a 48% para sair da União Europeia. Verdade que a Grã-Bretanha é de longa data um de seus membros mais céticos e nem é membro da Zona do Euro nem do Tratado Schengen sobre livre movimentação de pessoas intra-União Europeia. Mas a margem de derrota do bom senso surpreendeu: mais de 17,4 milhões votaram por “Brexit”, cerca de 16,1 milhões por “Remain”, com um elevado índice de comparecimento às urnas. Os técnicos haviam apresentado boa quantidade de argumentos racionais sobre as desvantagens de deixar a União Europeia, inclusive os perigos de desmembramento da própria Grã-Bretanha. Economistas haviam advertido que “Brexit” causaria danos consideráveis à economia britânica. E não é simplesmente que parte das operações na City poderia migrar para Frankfurt ou Paris, na medida em que Londres deixaria de ser a porta de entrada em língua inglesa para os mercados de 27 países. Mas a razão perdeu para os sentimentos, para a raiva anti-elite, o nacionalismo antiglobalização, os preconceitos contra imigrantes, a retórica de “um Reino Unido independente”, soçobrou na ideia de independência manipulada pelo populismo à direita. Londres e as cidades maiores, bem como a Escócia, favoreceram a permanência. As cidades menores votaram pela saída.
Ainda não se pode saber com clareza o impacto sobre a União Europeia e se a saída da Grã-Bretanha vai levar outros países a convocar referendos. Para além do voto, a saída de fato é um processo demorado. Significa negociar a separação da maior zona de comércio do mundo, de mais de 600 milhões de habitantes, negociar o rompimento de acordos sobre a livre circulação de mão de obra, capital, bens e serviços. A saída tem implicações sobre o sistema legal britânico, que incorpora um imenso conjunto de regulações europeias as mais diversas, desde segurança de produtos, regras sanitárias, até privacidade digital. É possível que nesse longo processo de separação seja possível atenuar os prejuízos econômicos. Mas não apagará a mancha de xenofobia e de irracionalidade raivosa do populismo de direita que marcou o dia 23 de junho de 2016.
Tragédia, tragédia. A extrema direita se fortalece com a ilusão da ¨volta ao passado¨, da época do grande imperialismo, que se acabou e pode hoje quebrar o país. O sentimento de abandono dos que ficaram na UE vai ter repercussão no UK. Não serão mais europeus.
Lamentável, mas não de todo surpreendente. Eles também têm seus grotões. Desesperador pode ser o rastilho de pólvora que essa insanidade deflagrou. A começar , em tese, pela reabertura de controles entre as Irlandas – uma simbologia nefasta. Logo veremos escoceses, catalães e bascos se enredar no sectarismo de quem não hesita em sacrificar o panorama para apenas se enxergar nele. Um retrocesso dos mais dolorosos.
Agora como integrante da família Facebook, postei em minha página um depoimento de De Gaulle em que ele falava do caráter singular dos ilhéus e do mundo britânico em particular. É premonitório, para dizer o minimo.
Sempre insisto junto a meus clientes: olhem abaixo da linha da água do iceberg. Ao discernir o código genético recessivo, dá para entender que ninguém deixa de ser alcoólatra com o verbo.
Vejo periodicamente grandes fracassos de joint ventures envolvendo culturas diferentes pelo pouco caso que se faz de afirmações como a de De Gaulle. Muitos dirigentes acham que m contador esperto vale mais do que um antropólogo.
Adesões insinceras, melhor não tê-las. Voilà!