Editorial

Eventos tão diversos quanto a Brexit, plebiscito que separa a Grãbretanha da União Européia, e o brutal atentado terrorista do Aeroporto de Istambul são sintomas isolados de uma mesma mazela: as feridas do processo acelerado de globalização. O mundo encolhe e se integra, levando as novidades a cada canto e propagando ganhos de qualidade, ao mesmo tempo em que se fragmenta e dispersa, criando e expondo diversidades e desigualdades econômicas, sociais e culturais. Toda grande transformação na história da humanidade encerra movimentos contraditórios com a emergência do novo que, no entanto, deixa rastros de resistência de segmentos e setores esmagados pela destruição criativa. Como a mais intensa, profunda e rápida transformação da história das civilizações, a globalização gera este movimento complexo e contraditório de modernização econômica e social, inovação tecnológica, e integração mundial, com tudo que tem de positivo, mas acompanhado de quebra de relações tradicionais, desestruturação nacionais e desorganiação de segmentos da sociedade e da economia que não conseguem acompanhar as mudanças ou ficam presos aos velhos paradigmas. A globalização é um processo histórico inevitável. Mais do que isso, é um movimento desejável de aproximação das nações, integração econômica, propagação de inovações tecnológicas, movimentação de capital de pessoas, e potencial de desenvolvimento econômico. Cabe aos Estados e às instituições globais a tarefa de organizar a transição de modo a minimizar os desequilíbrios e as mazelas sociais, evitando as feridas, feridas que estimulam alternativas retrógradas. Os dois eventos críticos desta semana mostram a reação dos degradados da globalização, na Grã-bretanha e no Oriente Médio, pelos caminhos perigosos e reacionários da direita populista e xenófoba da Europa e do fanatismo religioso e medieval do Estado Islâmico.