A corrupção é uma praga nacional que, felizmente, está sendo investigada e punida pela atuação combinada da Polícia Federal e do Ministério Público, embora ainda estejamos muito longe de atingir um nível de moralidade pública sólido no Brasil. Mas a corrupção torna-se mais grave e dramática quando está associada à fraude na fiscalização e na licença de produtos alimentares, como denunciado agora pela operação Carne Fraca, constituindo também um crime contra a saúde pública. Mais ainda, a corrupção dos fiscais do Ministério da Agricultura, a serviço de partidos políticos desperta dúvida sobre a qualidade dos produtos brasileiros e sobre a seriedade e o rigor do sistema de vigilância sanitária nacional. A ilegalidade e a corrupção das empresas que “compraram” licenças e autorizações ilegais, dos fiscais que “venderam” e dos seus padrinhos políticos estão provocando uma grave crise de credibilidade do mais moderno e competitivo setor do agronegócio brasileiro, num mercado global sensível e altamente exigente. É estranho e quase inexplicável que empresas globais, que exportam para mais de 150 países e que dependem da credibilidade dos seus produtos, se amesquinhem numa fraude absurda dessa natureza. Por outro lado, tudo indica que houve uma enorme desproporção entre os eventos criminosos e a sua divulgação pela Polícia Federal, provocando uma exagerada repercussão internacional negativa, e potencializando o descrédito do agronegócio brasileiro. A operação está fiscalizando 21, e interditou apenas 3, num total de 4.850 frigoríficos brasileiros que produzem e exportam carnes, aves e embutidos, a grande maioria submetida a rigorosas regras e controles sanitários internacionais. O prejuízo está feito, e os países importadores, mesmo com seus próprios sistemas de vigilância e controle, estão certos em suspender as importações e exigir explicações, mesmo porque devem oferecer confiança aos seus cidadãos e consumidores. Se as empresas e as instituições brasileiras têm a carne fraca e se envolvem em corrupção e ilegalidades, mesmo arriscando sua credibilidade, os nossos compradores externos demonstram preocupação e responsabilidade para com a sociedade. O prejuízo está dado. Mas, superada a desconfiança, o agronegócio brasileiro tem competência e qualidade para recuperar sua liderança no mercado internacional. A médio prazo, a descoberta e a punição da fraude poderão até mesmo reforçar a confiança nas instituições e nas empresas brasileiras.
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Seria importante que a Polícia Federal, que vem prestando bons serviços à sociedade brasileira, tenha aprendido a lição e que daqui para a frente se possa evitar esta espetacularização, em todas as frentes de trabalho e de investigação, para não prejudicar o país e nossa economia. Temo que esta atitude traga mais prejuízo e que possa comprometer a própria Lava Jato e novas e futuras investigações e penalizações!
Ética é pensar nas consequências. Fazer ou deixar de fazer, se e só se for para a felicidade de todos e o bem geral da nação. Ora, aceito isso, dá para sustentar que a operação Carne Fraca brilhou pela eticidade? As constatações em que se baseou, algumas eram dúbias ou equivocadas, típicas de quem não conhece o assunto. É exemplar a história do papelão. Segundo uma especialista ouvida pelo JN, a mistura de celulose aos produtos cárneos é impraticável, do ponto de vista organoléptico. O que qualquer leigo sabe de língua própria. Na verdade, tratava-se de uma questão de embalagem. Ademais, a operação parece ter-se baseado em apenas dois laudos técnicos, quando o universo de unidades de abate e processamento é enorme, se não me engano de mais de 5 mil. Sobretudo, a forma espetaculosa como se deu a divulgação da operação, com os mandados de prisão, as buscas e apreensões profusamente noticiados deixou todo mundo e o mundo todo convicto de que havia algo podre e muito podre no setor de carnes brasileiro.
Eu senti logo falta de uma matéria crucial é definitiva: um caso de alguém que, comprovadamente, comeu e morreu. Carne, salsicha, presunto, o que fosse. Um único e escasso caso. Até hoje espero. O que li e ouvi foi que os conservantes denunciados são, em princípio, normais e autorizados pelas normas sanitárias. E depois a TV mostrou gente da própria PF (de uma associação dos delegados e de outra dos peritos) desaprovando o modos operandi da operação. E as autoridades aturdidas, tentando mostrar que estava muito longe disso.
Não adiantou e não adianta. Um caso assim, uma vez criado, gera uma situação de pânico, de paralisia dos negócios. Se ele durar dois meses, vai sobrar prejuízo para muita gente: para os frigoríficos, que não terão como estocar a produção “boiante”; para os empregados que já estão sendo despedidos; para os granjeiros que não conseguirão reter, sem sacrifício de capital, animais em ponto de abate; para o governo, que perderá arrecadação; para a receita cambial do país. Em suma, para todo o país. Há uma estimativa de US$ 1,5 bilhão. Uma ninharia para um país num mar de rosas como é o Brasil…
O resumo da ópera é que a intenção era nobre: descobrir casos de propina envolvendo empresas e fiscais. Mas tanto é verdade que só a intenção não basta, que os resultados, as consequências foram um desastre para nossa sociedade. Mais dez ou quinze boas ações dessas, e o Brasil se acabará. A começar pela PF e o Judiciário, de cujas boas intenções as pessoas começarão a duvidar. Afinal, haverá quem se pergunte, cada força-tarefa quer mesmo combater corrupção, ou apenas competir, mostrar que também consegue posar para a posteridade, ao lado de seu leão abatido?
Excepcional o comentário de Luiz Alfredo e não há reparos a fazer. A última linha diz tudo sobre o fator mais preocupante. A necessidade de sair bem na foto ao lado de uma cabeça empalhada – no caso de um boi – para mostrar aos sobrinhos, pode ter consequências funestas para a credibilidade da corporação. É problema geracional.
Já nem falo do mal para o Brasil pois fica até difícil de calcular o quanto perderemos. Aqui na Europa muitos pensam que nossos hospitais estão abarrotados de gente contaminada. Daí se vê o absurdo. Décadas mais tarde, ainda se associa o Angus steak à doença da Vaca Louca. O que não dizer de nosso rito mais convivial?
Como atenuante acho que as rusgas econômicas tendem a se resolver com mais pragmatismo do que as politicas que sustentam narrativas. Isso porque se do lado exportador temos nosso desengonçado Brasil, do importador temos interessados em preservar a fonte, tementes do esfarelamento de estoques e volatização de parcerias suadas. Isso talvez abrevie a agonia.
Assino em baixo e sem reservas
Cliquei “like” para o Editorial, ainda que esteja entre os que são mais críticos da irresponsabilidade desta operação “carne fraca” (nome que até parece de uma operação sobre tráfico de prostitutas para o mercado europeu). Sim, houve corrupção, mas não houve “carne podre”. A PF agora ficou com mania de celebridade. E o sensacionalismo prevaleceu também na grande imprensa (com poucas exceções), quando os jornalistas tomaram sem checar a versão da PF. Como é que a PF faz uma operação dessas e não envolve técnicos na matéria sanitária? E os jornalistas, porque não ouviram técnicos da área antes de falar em “carne podre”? Por tudo isso, acho que tocou nos pontos certos foi Luiz Alfredo Barroso. Comentário responsável.