Editorial

A tragédia ambiental do litoral nordestino, provocada pelo derramamento de toneladas de óleo bruto, denuncia uma combinação nefasta e inaceitável de incompetência, amadorismo e omissão política.

Incompetência: A esta altura dos acontecimentos, não se sabe a origem e a causa do óleo jogado no Oceano Atlântico. Ou é muita incompetência, ou estão escondendo alguma coisa. Teoria da conspiração à parte, não parece razoável que não se tenha ainda informação suficiente para explicar o fenômeno, e identificar a fonte ou os responsáveis pelo derramemto de mais 900 toneladas de óleo bruto no Oceano Atlântico. Com a qualidade e a sofisticação dos equipamentos de comunicação e monitoramento da movimentação naval, e com a potência dos sonares e sensores, não dá para imaginar a desinformação sobre um fenômeno desta escala.

Amadorismo: A prioridade agora é proteger e limpar as praias, os mangues e as áreas de proteção de corais. Parece grotesco, contudo, que a retirada de 900 toneladas de óleo pesado das praias do Nordeste seja feita de forma tão primária e amadorística, com mãos, espátulas e baldes. Podemos nos emocionar com as iniciativas dos voluntários, arriscando a sua saúde para coletar o piche, mas é inadimíssel a realização de uma operação artesanal, diante da escala do problema, e considerando os avanços excepcionais da tecnologia e da engenharia. Não parece razoável que o mundo não tenha ainda desenvolvido barcos coletores e equipamentos sugadores de porte equivalente ao tamanho da mancha de óleo espalhada pelo litoral.

Omissão: Os líderes e a imprensa internacional, que reagiram de forma quase histérica quando das queimadas na Amazônia, parecem ignorar este desastre no ambiente marinho do Brasil. Nenhuma oferta de apoio técnico e financeiro para acelerar o processo de proteção e limpeza das praias, mangues e corais do Nordeste brasileiro. Mesmo o Greenpeace, que se manifesta criticando o atraso do governo brasileiro na operação de contingenciamento, não tomou nenhuma iniciativa de mobilização mundial, para uma ação coletiva global de proteção e recuperação das áreas afetadas pelo desastre.

Diante deste quadro lamentável, o Nordeste está sendo vítima de um desastre de incalculável prejuizo ambiental e econômico, que persistirá mesmo depois da limpeza das praias, por conta dos resíduos depositados nos mangues e nos corais. Alguém tem que pagar por este dano ao meio ambiente, e pelo seu enorme custo econômico e social.