O Dia da Mulher é um marco simbólico no calendário, para estimular a discussão sobre as desigualdades de gênero, e alimentar a luta do movimento feminista contra o machismo e o sexismo dominantes na sociedade. Nos últimos 50 anos, principalmente depois da revolução cultural dos anos 60, houve avanços significativos no combate ao preconceito e às desigualdades de gênero. O movimento é lento, irregular e contraditório. Em todo o mundo, e também no Brasil, as mulheres vêm ocupando, de forma crescente, uma posição destacada na vida pública e social e no mercado de trabalho, embora continuem recebendo, em média, apenas 74,5% dos salários dos homens, mesmo tendo maior nível de escolaridade (19,2% das mulheres que trabalham têm o superior completo, entre os homens este percentual cai para apenas 11,5%). Mas as desigualdades persistem, e a mulher continua sendo vítima de agressão à sua dignidade de forma grave no Brasil que, segundo a OMS, tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Entretanto, no que se refere à qualidade de vida e ao acesso aos serviços públicos (principalmente educação, saúde e habitação), a desigualdade entre mulheres dos segmentos sociais médio ou alto, e as mulheres pobres, é maior, muito maior mesmo, que a desigualdade entre homens e mulheres dos mesmos segmentos. As mulheres mais escolarizadas e com maior qualificação profissional conseguem melhores empregos e, se ganham menos que os homens pela mesma função, ganham muito mais que as mulheres com baixa escolaridade e qualificação, que sequer conseguem atuar na mesma atividade profissional. A desigualdade é muito maior entre as mulheres de alta e baixa renda que entre os homens de alta e baixa renda. Segundo o IBGE, em 2010, o rendimento médio das mulheres com os 20% maiores rendimentos equivalia a 20,5 vezes o rendimento das mulheres com os 20% menores rendimentos, relação que, entre os homens, cai para 14,1, vezes. Em grande medida, a liberação da mulher de renda média e alta tem sido viabilizada – tempo livre para estudar e trabalhar – pela contratação das mulheres de baixa escolaridade e qualificação, para os serviços domésticos, incluindo o cuidado dos seus filhos, serviços domésticos que, via de regra, não são partilhados pelos seus parceiros. Em certa medida, por mais que seja paradoxal e cruel, a desigualdade social (alimentada pela diferença em escolaridade e qualificação) favorece a redução das desigualdades de gênero, nos segmentos da população (homens e mulheres) de maior escolaridade e renda.
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Verdades. Porisso é que feminismo p’ra mim, desde adolescente, foi a busca por igualdade de oportunidades, independente de gênero. Talvez eu seja ponto fora da curva, mas como profissional, basicamente economista e às vezes tradutora, jamais encontrei obstáculos que pudessem legitimamente ser atribuídos ao fato de eu ser mulher.
Fiquei estarrecido com as manifestações mal calibradas que vi aqui na Europa por ocasião dessa data, cujo mérito prefiro não comentar. Mas até jornais de inegável credibilidade e de imensa riqueza editorial caíram na armadilha da demagogia fácil ao vocalizar fatos isolados que, no meu entender, estavam longe de evidenciar machismo ou sexismo.
O “El País”, por exemplo, dedicou amplo espaço para divulgar a história de uma mulher da Nicarágua que foi sacrificada numa fogueira por conta de ritos sinistros perpetrados por uma comunidade esquecida do mundo. O que poderia perfeitamente ter sido feito contra qualquer ser humano que, porventura, tivesse virado alvo. Em suma, não foi porque ela era mulher.
Em suma, acho esse debate inócuo e nunca vi mulheres de real valor se abraçarem a certas bandeiras para lavrar reivindicações cartoriais. Totalmente patética mesmo é a troca que algumas fazem de mensagens lacrimosas em que se atribuem glórias e feitos martirizantes. Tenho 45 anos de serviços prestados à causa feminina e não vejo mérito na histeria.
, I