Editorial

Há três anos numa profunda depressão econômica (queda de quase um quinto do PIB-Produto Interno Bruto), e convivendo com uma inflação superior a 700% ao ano, desabastecimento agudo e altos índices de violência, a Venezuela está afundando no pântano do populismo. A Venezuela do populismo bolivariano apresenta hoje indicadores sociais (índices de pobreza e de desigualdade de renda) piores que os registrados no final da década de 90 do século passado, segundo recente pesquisa realizada pelas universidades (ENCOVI – Encuesta sobre Condiciones de Vida de Venezuela): em 2016, a Venezuela tinha 82% de domicílios pobres e 52% extremamente pobres. Numa situação dramática de degradação e caos social, e diante do fortalecimento da Oposição – que tem ampla maioria na Assembleia Nacional e lidera as grandes manifestações contra o Governo – o presidente Nicolás Maduro radicaliza seu discurso, intensifica a repressão, utilizando inclusive os “coletivos” bolivarianos (milícias chavistas armadas), com dezenas de manifestantes mortos nas últimas semanas, e isola-se politicamente. O Governo tentou retirar o poder do Parlamento através de uma manobra jurídica do Tribunal Supremo de Justiça, ameaçou distribuir armas para 500 mil militantes bolivarianos, e acaba de decidir a retirada da Venezuela da OEA – Organização dos Estados Americanos, que, segundo sua anacrônica retórica populista, seria uma instituição de mercenários a serviço do imperialismo. Esta atitude do governo Maduro, destruindo as pontes que poderiam viabilizar uma saída política e negociada da crise da Venezuela, empurra o país para o abismo e um confronto político de consequências imprevisíveis. A postura de Maduro lembra a frase de um jogador de futebol que, após uma partida (frase também atribuída a Groucho Max e a vários ditadores da América Latina): “O nosso time estava à beira do abismo, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente”. Como, infelizmente, a insensatez é a conselheira mais frequente do populismo, o presidente Maduro parece preferir jogar-se ao precipício junto com a nação a negociar uma saída política para a crise da Venezuela.