Editorial

As eleições presidenciais ainda estão distantes, principalmente considerando a intensidade e a velocidade dos acontecimentos políticos no meio da enorme crise social, econômica e política do Brasil. Por outro lado, pesquisa é apenas um retrato circunstancial do momento, fortemente influenciado por emoções, desinformações e memórias (e, principalmente, ausência delas).

Mesmo assim, é surpreendente, para não dizer assustador, o resultado da pesquisa da CNT/MDA divulgada esta semana sobre a intenção de voto para presidente da República; se as eleições fossem hoje, Luís Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro estariam, confortavelmente, no segundo turno. Assim, teríamos que escolher entre um líder populista que manipula e altera os fatos com maestria e desenvoltura, político condenado por crime de corrupção (e respondendo a vários outros processos), e um agressor raivoso, líder de uma cruzada reacionária contra os direitos civis em geral e intolerante propagandista da ditadura militar. Com promessas simplistas e discursos populistas, os dois polos desta pesquisa são um retrato da intolerância e da radicalização política do Brasil.

Embora o eleitor careça, até agora, de alternativas novas e confiáveis, é lastimável que ainda possa expressar a intenção de voto em Lula depois da avalanche de denúncias, inclusive de Antonio Palocci (principal quadro político do PT-Partido dos Trabalhadores), explicável apenas pelo mito criado em torno do seu governo, como se o ex-presidente não tivesse nenhuma responsabilidade pela crise que se abateu no Brasil nos últimos anos.

Esse é o discurso que ele está vendendo e que, pelo visto, convence: a crise do Brasil seria culpa do governo Temer e não o resultado do desgoverno que começou nos últimos anos do seu mandato e avançou na gestão da sua seguidora.

Mais inquietante e lastimável é a inclinação de tantos eleitores pela agressividade reacionária de Bolsonaro, que se limita a prometer repressão e desrespeito aos direitos civis. Tudo indica que Bolsonaro se beneficia da rejeição a Lula (50% do eleitorado) e do desencanto geral com os políticos, e parece ainda colher os frutos de uma crescente impaciência do cidadão com os excessos do politicamente correto que domina as redes sociais. No meio de uma tão grave crise econômica e social, o Brasil precisa de serenidade, de tolerância e responsabilidade governamental, tudo que estes dois candidatos não oferecem.