A Covid-19 vem ganhando força neste início de ano, resultado combinado do relaxamento dos cuidados e do isolamento social da população, e do surgimento, ainda incipiente, de uma nova cepa que, segundo Jarbas Barbosa, diretor da OPAS – Organização Panamericana de Saúde, tem maior poder de transmissão e pode ser mais danoso que o original.

Frente a essa ameaça, resta a vacina. Infelizmente, contudo, a vacinação dos brasileiros será muito lenta neste primeiro semestre, a julgar pelo que tem sido anunciado de importação e produção nacional de vacinas. O presidente Jair Bolsonaro não pode ser responsabilizado pela variedade do vírus, claro, mas tem culpa no agravamento da situação sanitária, pelas suas palavras levianas e pelas decisões políticas irresponsáveis na saúde pública.

Desta forma, lamentavelmente, nos próximos meses, o Brasil vai ser forçado a intensificar o isolamento social e implementar quarentena parcial, para evitar o colapso do sistema de saúde. Com isso, a economia tende a afundar, o desemprego a aumentar e a vulnerabilidade da população a acentuar-se.

Será, portanto, inevitável a retomada das medidas de proteção das pequenas e microempresas e do auxílio emergencial para os brasileiros que vão perder sua fonte da já tão minguada renda. O Estado brasileiro não pode gastar mais, considerando o nível de endividamento e de déficit primário, até porque o governo adiou as reformas estruturais que poderiam aliviar um pouco a crise fiscal. Mas vai ter de abrir o cofre, e aumentar mais ainda a dívida pública, suspendendo o Teto de Gastos durante a calamidade, para segurar o tombo da economia e conter o desastre social.

No segundo semestre, esperando que o processo de vacinação se acelere, a crise sanitária deve refluir, e o Brasil pode entrar num “novo normal”. Mas terá que lidar com um quadro de degradação fiscal profundo, que pode levar à desvalorização cambial, à fuga de capitais, a novas pressões inflacionárias e à estagnação econômica. Desafio do presente, empurrado para o futuro imediato.