Em debate recente no Seminário de Tropicologia, Clemente Rosas citou o ex-governador Marco Maciel numa critica dos pessimistas: “O otimista pode errar. O pessimista já começa errando”. No seu entendimento, as previsões pessimistas tendem a ser desmobilizadoras dos decisores e das pessoas, levando a uma postura derrotista, como se já não houvesse muito o que fazer diante de um futuro negativo. Neste caso estamos tratando da reação e postura dos decisores e não da previsão. E, no entanto, ao contrário do que se poderia deduzir do pensamento de Marco Maciel, o otimista, errando ou acertando na sua antecipação de um futuro favorável, pode levar ao relaxamento dos decisores, como se o destino já estivesse traçado: “Vai dar tudo certo!” ou “No final tudo se resolve” são frases típicas de otimistas que não ajudam em nada a enfrentar os obstáculos e se preparar para as ameaças. Não é raro encontrar um otimista que, diante das advertências sobre as mudanças climáticas, dá um muxoxo e diz: “quando chegar a hora, a tecnologia resolve. Afinal, tem sido sempre assim”. Ocorre que as previsões de mudanças climáticas, mesmo controversas, sinalizam para um possível futuro negativo constituindo, desta forma, uma advertência, um alerta para que os decisores reajam e possam evitar que cenário se concretize ou, pelo menos, que o mundo se prepare para seus impactos.
Na verdade, o que é relevante não é tanto a previsão, otimista ou pessimista, mas as decisões que são tomadas diante delas. Em outras palavras, o resultado de uma reflexão técnica sobre tendências futuras, independentemente do viés de enfatizar sinais positivos ou negativos, depende, em última instância, dos decisores. Existem previsões que se auto-realizam pelo efeito que exercem sobre os decisores, imobilizando-os pelo derrotismo ou pela confiança que tudo vai dar certo. Mas existem algumas previsões que, pelo seu pessimismo, funcionam como advertência e que não se realizam precisamente porque mobilizam os decisores para reações contra os fatores que o determinam. Dizer, neste momento, que a situação do Brasil é dramática e que, caso não sejam feitas reformas substantivas, o país vai para o desastre e o caos, pode ser uma análise pessimista. Mas, se explicita o que estaria provocando esta ameaça, o pessimismo pode ser mobilizador e, não, paralisador, indicando o que se deve atacar para evitar o anunciado colapso.
Entretanto, do ponto de vista técnico, não deve haver otimista nem pessimista. Nenhuma análise, em qualquer área do conhecimento, pode partir, a priori, de uma posição otimista ou pessimista que, digamos, enviesa a interpretação, esconde, mesmo que não intencionalmente, os aspectos negativos ou positivos, dependendo do caso. Quando alguém diz – eu sou otimista – deve ter elementos e argumentos sólidos para antecipar uma trajetória futura favorável, com predominância de tendências e variáveis positivas. Mas, o otimista, em princípio, corre o risco de comprometer a sua análise com a subestimação de eventuais sinais negativos (não consegue ou não quer ver) ou superestimação dos sinais positivos.
Sem ser pessimista nem otimista, a análise técnica pode estar correta ou incorreta por, eventualmente, ignorar ou não perceber alguns aspectos que, desta forma, levam a conclusões frágeis ou equivocadas. A discussão, portanto, deve se centrar nos aspectos considerados na análise, ajudando, desta forma, a aprimorar a compreensão e enriquecer as conclusões. No caso do Brasil atual, o mais difícil é perceber algum sinal favorável no comportamento dos decisores (e mesmo nas tendências eleitorais) que não parecem se importar com as avaliações (otimistas ou pessimistas), preocupados com seu próprio destino e não com o futuro do país. Em última instância, previsões, otimistas ou pessimistas, ambas costumam errar bastante simplesmente porque o futuro é altamente incerto. Mas o que importa mesmo são as interpretações e as mensagens que transmitem para os que devem tomar as decisões e as iniciativas.
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