A confusão é maior do que pensávamos. Deverá terminar no domingo, 5 de agosto. Mas para iniciar-se outra confusão. A atual, conhecida como “quem quem”, porque ninguém sabe direito quem ficará com quem. Hoje, o blocão (DEM, Solidariedade, PR, PRB, PHS, Avante e PP) finalmente consagrou sua decisão. Mas ainda há partidos, como o PSB, que ninguém sabe com quem fica. E vice, nenhum dos cinco principais candidatos hoje ainda consagrou. Aliás, nem mesmo os candidatos estão definidos. O Rodrigo Maia anunciou a sua saída, o Aldo Rabelo (Solidariedade), que poucos sabiam que era candidato, também. Mas o PT continua a afirmar ser o Lula, embora poucos analistas acreditem. Esta confusão se encerrará no dia 5, e começarão as eleições. Outra confusão, pois não se sabe direito o que os candidatos propõem.
Os últimos movimentos dos partidos políticos brasileiros mostram que a era da ideologia morreu de uma vez. E, com ela, a noção de esquerda e direita. Retorna, com vigor, a categoria “ populismo”, e brilha a categoria “pragmatismo”. Mas a prova maior é a conversa do PT e do PSC do Bolsonaro com o PR. Não vingou, mas poderia ser um ou outro. O PT conversa com partidos “golpistas” e “não golpistas”, nos Estados, para tentar salvar-se da hecatombe. E tem chances de evitá-la. Pode eleger até quatro, ou mesmo cinco governadores.
As regras favorecem os membros da velha política: recursos, tempo de TV e duração da campanha eleitoral. A renovação deve ir para as calendas gregas, mais uma vez. Por isso mesmo não se escuta, a não ser de forma sintética e isolada, como que de rompante, propostas de governo. A divisão entre os partidos é outra: os que são contra as reformas e os que são a favor das reformas, os que são a favor da Lava Jato e os que são contra. O primeiro embate divide os partidos, o segundo não, quase todos são contra a Lava Jato. Salvo três representantes de partidos nanicos, que têm candidatos com força maior que seus partidos: Marina (REDE), Álvaro Dias (Podemos) e Bolsonaro (PSC). Juntos, não chegam a 30 deputados federais, sobre 531.
E nesse vazio ideológico, com a antiga esquerda absolutamente descaracterizada – “exquerda”, como define Cristovam Buarque – as alianças se sucedem por pura conveniência eleitoral. Não se discutem ideias, mas cargos e Money.
E nesse lusco- fusco, o final da semana passado sorriu para Alckmin. Afinal, ganhou a queda de braço com o Ciro, na adesão do blocão (DEM, Solidariedade, PP, PRB, PR, PHS e Avante). O cearense ficou em uma situação difícil. Não ganhou partidos tradicionais, nem pescou nas hostes do PT e adjacências. Resta-lhe talvez o PROS. Ficou isolado. Igualmente isolado ficou o Bolsonaro, com a recusa do PR e do PRTC aos seus “encantos”. Nem empresário, nem general como vice. Talvez uma mulher. Mas Janaína, a tresloucada, parece não se estar encantando com seus tiros e gritos. Como isolada está Marina. Zero de alianças. Tentou o PV, o PPS e o PSB. Nada. Deve sair uma chapa puro sangue, com Ricardo Paes e Barros, vulgo PB, como vice. Não atrai voto, mas prestígio.
O candidato do MDB, Meirelles, mostrou que não tem folego para ir longe. Preso no patamar do 1%. imagine, o homem que se auto intitula “salvador da economia brasileira” não decola. O Álvaro Dias também continua preso ao seu cantão do Sul, que lhe dá 5%, e nada mais. O PT, por sua vez, não consegue livrar-se da estratégia suicida que o Lula lhe armou. Finalmente, a indecisão e a divisão dominam o PSB. Em São Paulo quer-se o Alckmin, no Nordeste, o Lula, em Minas, o Ciro. Movimento ao qual se opõe radicalmente o líder do PSB no Norte, pois enfrenta seu primo, o governador Valdez de Góes, do PDT. A revisita a Joaquim Barbosa não parece ter futuro. O PSB vai ficar sem candidato, para melhor aderir a quem ganhar, dependendo de quem seja?
Dessa forma, o ex-governador de São Paulo cresce, em tempo de TV (pode ter cerca de 40% do tempo), em alianças (mais que uma dezena de partidos), em recursos financeiros (cerca de 40% do total de 1,7 bilhão do fundo publico de campanha eleitoral). Ganha uma força que não se imaginava há uma semana.
A questão é se o apoio será real. Afinal, o novo “líder do centro democrático” precisa provar que cresce também no gosto do povo, nas intenções de voto. Para isso vai ter que vencer sua ausência de carisma. O teste virá nas próximas pesquisas eleitorais. Irá permanecer em torno de 7%? Tudo indica que não. Mas, será um voo de águia ou de galinha?
Além do mais, os ventos podem mudar. Alckmin, festejado por reformistas e democratas que andavam ansiosos por um líder que neutralizasse os extremos, que não fosse o maluco do Ciro, pode ter surpresas amargas. As operações de combate à corrupção chegam cada dia mais perto. Seus auxiliares começam a ser presos, e fala-se que já tem quem se balance para a delação. Mas a pedra no caminho do ex-governador de São Paulo é a proximidade de sua imagem da do Temer. O Midas ao inverso. Com isso, o grande risco de Alckmin é seguir a mesma trajetória do candidato do MDB em 1989. Muitos analistas lembram que Ulisses Guimarães tinha o maior tempo de TV, recursos em abundância (atravessava o país de norte a sul em jatinho) e uma capilaridade extraordinária, pois seu partido tinha a quase totalidade dos governadores. Mal passou dos 4% de votos.
E quais as chances dos adversários de Alckmin?
Bolsonaro e Marina acreditam que podem encarnar o sentimento de indignação dos eleitores. Sem estarem presos na Lava Jato, e sem se misturarem com a classe política tradicional, sinalizam que são puros. Messiânicos, cada qual ao seu estilo. O primeiro é o campeão da agressividade e do autoritarismo. A acreana é a extrema ternura. Seu obstáculo maior, afora o tempo minúsculo de TV, que mal lhe permitirá dizer “meu nome é Marina”, é a linguagem bonita, mas empolada, que o povo mal compreende. Por outro lado, não conta com a simpatia do empresariado e dos meios de comunicação. É impressionante o silêncio que os grandes veículos fazem em torno de seu nome. No entanto, tem propostas interessantes, e uma visão moderna da política e do país. O militar, ao contrário, é o atraso em pessoa, e também não tem tempo de TV, nem a simpatia da mídia, embora alguns empresários se sintam à vontade ao seu lado. Imagina que o contato com as redes sociais será suficiente, esquece que a maioria dos eleitores não habita as redes sociais. Como irão assegurar presença no segundo turno? Não se pode esquecer que, estando na frente, sofrerão ataques de todos os lados, com poucos meios de responder.
Ciro está, aparentemente, se desmilinguindo. Pouco tempo de TV, sem grandes alianças, e uma língua que ninguém segura. Como peixe, morre pela boca. Insulta deus e o diabo, de militante dos direitos humanos a procurador da República. A tendência é fazer companhia a Álvaro Dias.
Resta o candidato do PT. Na opinião da maioria dos analistas, o Fernando Haddad. Que está menos enrolado, tem uma imagem de politico preparado, competente, homem de diálogo e culto. Parece mais um tucano do que um petista.
Sobre o resto não vale a pena gastar tinta, como diriam os velhos jornalistas. Boulos pode surpreender, ganhando do Álvaro Dias. Meirelles pode surpreender ao inverso, continuando no 1%.
Com um quadro desta natureza, a eleição será decidida em torno de cinco nomes: Bolsonaro, Marina, Ciro, Alckmin e Haddad. Caso não ocorra nada de muito novo (tal como Lula candidato, Joaquim Barbosa de volta), qualquer um dos cinco pode chegar ao segundo turno. Hoje, Bolsonaro e Marina têm mais chances. Ciro é quem tem menos. A mídia e o empresariado acreditam em Alckmin, e os petistas estão certos de que seu candidato não estará ausente. Mas as campanhas eleitorais ainda não começaram de verdade, e muitas águas turbulentas ainda podem remexer completamente o xadrez.
Teremos a velha dicotomia, imperante há mais de 20 anos: tucanos x petistas?
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