Sérgio C. Buarque

Com argumentos risíveis e até panfletários, o futuro Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, tenta dar um verniz intelectual às aberrações políticas do presidente eleito Jair Bolsonaro em política externa e, principalmente, em relação às mudanças climáticas. Mesmo antes de assumir a presidência, Bolsonaro recomendou que o Itamaraty suspendesse o convite brasileiro para sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 25), que deverá ocorrer em meados do próximo ano. Grave sinalização de que o futuro governo pode mesmo levar adiante a sua intenção de retirar o Brasil do Acordo do Clima, assinado por 195 nações do mundo para definição de metas de redução do efeito estufa que revertessem a dramática tendência de desagregação ambiental. Pior é que a intenção de romper o acordo foi a principal justificativa do presidente para a suspensão do encontro no Brasil,  já que, como disse, não gostaria de anunciar a drástica decisão no solo brasileiro.

Na contramão da História, o futuro governo brasileiro se junta ao boçal presidente Donald Trump, que, na sua arrogância primária, simplesmente duvida das pesquisas de quase todos os renomados cientístas do planeta. Para o ministro Araújo, as conclusões dos cientístas sobre as mudanças climáticas não passam de um plano dos “marxistas culturais” para sufocar as economias ocidentais e favorecer a liderança mundial da China. Agitando a paranoia de uma grande conspiração mundial contra o Ocidente e o cristianismo, o futuro ministro das relações exteriores afirma que o “climatismo é basicamente uma tática globalista de instilar o medo para obter mais poder”. O chanceler brasileiro parece atormentado pelo fantasma dos comunistas, esta espécie em rápida extinção no ecossistema político global e nacional.

Pela extensão territorial, pela base econômica e, principalmente pelas grandes reservas de biodiversidade, o Brasil tem uma enorme importância no ecossistema global, e vinha exercendo um papel relevante nas negociações diplomáticas que levaram ao Acordo de Paris. O rompimento do acordo do clima provocará um grave dano à imagem internacional do Brasil, já manchada pelos discursos autoritários do candidato Jair Bolsonaro. E, bem ao contrário do que pensa o presidente eleito, esta decisão vai estreitar bastante as oportunidades do Brasil no comercio exterior, cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade dos processos produtivos. O que, aliás, tem sido dito com bastante clareza por lideranças agropecuárias, incluindo a futura ministra da agricultura de Bolsonaro.