Nos seus descontrolados discursos e mensagens quase diárias, o presidente Jair Bolsonaro agride o Brasil com uma interminável lista de posições e propostas descabidas e absurdas sobre assuntos que não conhece, e sem medir suas consequências politicas e diplomáticas. Ele foi eleito presidente da República, mas continua se comportando como o medíocre e irresponsável deputado, declarando e propondo o que lhe vem à cabeça, tão limitada quanto antiquada e insensata. “Já ouviu a última de Bolsonaro?, perguntam-se os amigos, citando as mais recentes declarações estapafúrdias do homem que deveria dirigir a nação. Infelizmente, o que poderia ser piada é um grosseiro e persistente ataque ao bom senso e à razão, coleção de disparates que compõe um “Festival de Absurdos que Assolam o País”, que nem sequer tem o humor do FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assolam o País, organizado por Stanislaw Ponte Preta com os ridículos dos censores e delegados da ditadura militar. Os mais velhos lembram: “Estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão”.
Nesta semana, o presidente se superou. Numa única frase, conseguiu cometer três graves agressões ao bom senso e à responsabilidade pública. Apresentou como nova motivação para indicar seu filho para a Embaixada dos Estados Unidos a busca de parceria para a exploração dos minérios em áreas indígenas demarcadas no Brasil. Como se fosse pouco o absurdo de pretender explorar minérios em áreas indígenas já ameaçadas pelo garimpo ilegal, o presidente deseja entregar essa missão a empresas norte-americanas. Para esta tão difícil negociação com os gringos, não precisaria mesmo de um embaixador competente, bastaria Eduardo Bolsonaro, com seu inglês macarrônico e sua experiência na fritura de hambúrgueres.
Na sua mais recente barbaridade verborrágica, Bolsonaro agrediu o presidente da OAB, Filipe Santa Cruz, com alusões desrespeitosas à imagem do seu pai, Fernando Santa Cruz, jovem militante de esquerda preso, torturado e assassinado em 1974 nos porões da ditadura militar, cujo corpo está até hoje desaparecido. Segundo depoimento de um ex-delegado do DOPS, o corpo de Fernando Santa Cruz foi incinerado no forno de uma usina de açúcar em Campos dos Goytacazes. Além da forma debochada e grosseira como trata caso tão sensível da história do Brasil e, particularmente doloroso para o atual dirigente da OAB, o presidente da República demonstra uma lamentável intimidade com a violência da ditadura militar, quando diz saber, por vivência própria, como desapareceu Fernando Santa Cruz.
O presidente Jair Bolsonaro envergonha o Brasil com suas declarações estapafúrdias e ameaça a estabilidade e o desenvolvimento nacional com suas propostas despropositadas sobre meio ambiente e direitos humanos, demonstrando total despreparo para governar a nação. Não fossem os projetos de reforma do Ministério da Economia que, diga-se de passagem, avançam apesar do desinteresse e mesmo da resistência do presidente, o Brasil já teria mergulhado no caos e na anomia social. Jair Messias Bolsonaro faria um grande bem à nação brasileira se voltasse à sua insignificância política, quando compunha o baixo clero da Câmara de Deputados, de onde poderia continuar soltando sua verborreia leviana e insensata, sem comprometer o futuro do Brasil.
Só senti falta de uma referência positiva ao embate do Ministério da Justiça contra a impunidade dos poderosos, a qual teima em persistir, a despeito da indignação da imensa maioria da sociedade.
O abismo entre o presidente e seus ministros técnicos é algo absurdo. Esses homens são uns heróis ao conseguirem, mesmo com tanta luta contra, implantar uma nova e moderna agenda econômica ao Brasil. É incrível a dicotomia entre as liberdades econômicas que estão sendo implantadas e o namoro do presidente com a autocracia.
Um belto texto e eu concordo que a maior parte da atuação e sobretudo as falas do Presidente Bolsonaro são um retrocesso civilizatório. Meu problema é:que fazer? Até me lembrei que na minha tenra juventude uns mentores mandavam o pessoal da UJC ler “Sto diélaiet?” Quem lembra? Só velhinho. Porque eu acho que ficar debatendo as falas do Presidente dá força a ele, e quem fica atacando toda e qualquer coisa que vem do governo, qualquer tentativa de fazer algo positivo ou razoável, até mesmo a reforma da Previdência, faz uma maldade política contra o povo e 12 milhões de desempregados. A oposição é fragmentada, não há uma estrategia da oposição. Eu não quero que nenhum bolsonarista ganhe algo na eleição do ano que vem, ao mesmo tempo não quero nada a ver com gente anti-bolsonaro que está ao mesmo tempo atacando a reforma da Previdência. (Não que eu ache que tal reforma vai mudar grande coisa daqui pra frente, já está precificada, como dizem os economistas.)
Subscrevo o comentário. Mas, como só estudei três semanas de russo, e aprendi apenas o alfabeto cirílico, peço a tradução de “Sto diélaiet?”
Não é o famoso “Que fazer?”. Ou é?
Sim, é o “Que fazer?” de Lenin, que o PC recomendava aos jovens comunistas no período stalinista, pré-Kruchev. Muito antes de comunistas democráticos como Marco Antônio Coelho e Armênio Guedes terem alguma influência. É só que eu lembrei o título, um bom título. Pois o texto é linha dura e isolacionista, foi publicado primeiro na Alemanha no início do século XX e ataca os socialdemocratas como oportunistas por defenderem reformas. Imagino que mais tarde pode ter ajudado a ascensão do nazismo. Eu não devia ter mencionado. P’ra mim ecoa como grave erro político. Pois a ascensão do nazismo depois da I Guerra Mundial começou perseguindo socialdemocratas na academia. Paul Klee jamais foi comunista, só para dar um exemplo do meu artigo na “Será?” que mostra esse comecinho do nazismo. Eu estudei russo quase 2 anos, em parte quando estava na ONU (que davam 50 dólares a mais no salário por mais uma proficiência em língua oficial da ONU, e eu já tinha inglês, francês e espanhol). Mas aí veio a queda do Muro de Berlim e achei que já não valia o esforço a pena: os russos iam todos aprender inglês. E para traduzir os clássicos a gente já tinha o Boris Schneiderman.