Todo brasileiro que tenha escutado uma única vez as explicações do agora ex-Ministro da Saúde, Mandetta, da sua competente equipe técnica e de vários infectologistas, já entendeu que o isolamento social pode salvar muitas vidas. Como tem sido repetido à exaustão, é necessário atrasar a propagação do vírus, achatar a curva de multiplicação dos casos, para dar tempo de ampliar e aparelhar o sistema de saúde e evitar o seu colapso, com dramáticas consequências. Será que o Presidente da República não entendeu?
Mesmo tendo tido a oportunidade de ouvir pessoalmente, e com detalhes, a argumentação do Ministro da Saúde? Considerando as frequentes barbaridades dos seus pronunciamentos, é possível, sim, que não entenda tão simples equação, embora seja difícil imaginar que alguém tenha chegado ao cargo máximo da nação com tamanha limitação cognitiva. O mais provável, portanto, é que o senhor Jair Bolsonaro, mesmo sendo tonto, saiba muito bem que o sistema de saúde não aguenta uma aceleração dos casos com crescente demanda hospitalar e, particularmente, por unidades de tratamento intensivo. Sendo assim, a sua ostensiva crítica ao isolamento social é uma tentativa de desmoralização do Ministro da Saúde – concretizada com suas seguidas saídas às ruas, provocando aglomeração e abraçando pessoas – e constitui um ato criminoso, na medida em que estimula os brasileiros a ignorar as recomendações do Ministério e dos Governadores de Estado.
Enquanto estes tentam ampliar a estrutura dos serviços médico-hospitalares, com contratação de profissionais adicionais, compra e instalação de equipamentos, roupas especiais e máscaras, num esforço desesperado para salvar as vítimas do Covid-19, o presidente prefere apostar no caos e no colapso do sistema de saúde. A postura de Bolsonaro diante da pandemia é mais uma das irresponsabilidades deste patético presidente, um grave atentado à vida de milhares de brasileiros que podem não contar com atendimento adequado nos hospitais. Se ele não é tão obtuso como parece, ainda resta uma pergunta: Por que ele vem provocando esta confusão? Será apenas ciúme político do brilho do ministro? Ou faz parte de uma estratégia para provocar uma comoção social que sirva aos seus propósitos autoritários? Será mesmo que ele capaz de formular uma estratégia?
Teria preferido que o Mandetta tivesse trabalhado tenazmente nos últimos dez dias, e ganhado tempo precioso de combate ao tsunami (quando ele chega é aterrador, asseguro) que se anuncia. De mais a mais, que reforçasse junto à opinião pública a única verdade subjacente à narrativa: esse capitão é um monstro de ignorância e estultice. Mas ele cedeu à tentação de entrar no jogo político e de cavar o cartão vermelho. Perdeu a majestade do naufrágio. Não se podia mesmo esperar estadismo de um rematado baixo-clero mas que, bem ou mal, estava no bom caminho e sabia comunicar. Já esse novo traz algo de sinistro, para além da cara de agente funerário. Conheço um pouco seus padrinhos. São lamentáveis de uma ponta a outra. Do que se precisa é de um chefe de guerra, de um cara que fale sem teleprompter. Já esse capitão cairá de podre qualquer hora dessas. O filho mais novo talvez nos ajude nessa tarefa. Tomara que não leve o país junto.
Além dessas perguntas aparentemente sem respostas fáceis, me pergunto também o que leva alguns milhões de cidadãos, bombardeados por informações de outras experiências, informações científicas e informações do próprio ministro nacional, a duvidar de tudo isso e acreditar nos cinco minutos de fala desse imbecil ou criminoso (tanto faz!).
O Editorial possível, na triste situação desta semana no Brasil. Só que Presidente da República é as duas coisas juntas: obtuso e criminoso. O Editorial de 17/04/2020 não incluiu na análise o quadro de insanidade mental de Jair Messias Bolsonaro que foi bem apontado no Editorial de 27/03/2020. Psicopata não tem cura. Inteligência limitada não tem cura. Ignorância poderia ter cura, se aceitasse assessoria. Mas esse ignorante é um que acha que entende de tudo. A única estratégia que o Presidente consegue ter é tentar destruir qualquer liderança que ameace seu caminho até 2022. Esse é o ciúme que explica a demissão de Mandetta, quando este surgiu como liderança nacional por seu trabalho duro, respeito à ciência e ao establishment médico, e apoio ao SUS; é isso que explica a campanha dos bolsolavetes contra Dória, a ponto de irem gritar contra o governador na frente dos hospitais de campanha em construção, é isso que explica o acirramento dos ataques dos bolsolavetes a Rodrigo Maia, quando este Presidente da Câmara surpreendeu o público como liderança hábil e articulada. E, já antes, é o que motivava as molecagens várias do Presidente contra Sérgio Moro. A próxima a ser atacada pelos bolsolavetes é a Ministra Teresa Cristina. Traidor é qualquer um que não tenha vocação de puxa saco e possa lhe fazer alguma sombra. É isso que o motiva o capitão a manter mobilizados na destruição os seus apoiadores incondicionais, que ele ameaça colocar nas ruas: um “parlamentarismo das ruas” que lembra a estratégia adotada inicialmente por Hugo Chavez.