João Rego e amigos

Diálogo entre máscaras (intrigantes), 2002 by Testimonio Antonio Marco

As redes sociais, ambiente onde as Fake News disseminam o ódio, alimentando, dia após dia, a irracionalidade, mantendo, por interesses escusos, a chama da polarização política, é raramente espaço para debates e troca de ideias civilizadas. Em meu perfil do Facebook, onde publico, além dos meus escritos, os Editoriais e artigos de colaboradores da Revista Será?, encontro frequentes agressões, principalmente dos bolsonaristas; como também recebia dos petistas, quando fui favorável à Lava Jato e seus efeitos impactantes sobre o PT. Entretanto, alguns espaços de civilidade se abrem, onde pessoas que pensam diferente conseguem dialogar. Trago para esta edição recortes de um debate em torno do que o artigo de Marco Aurélio Nogueira, “O nó tático.”, publicado na semana passada, provocou.

Recomendo, para quem não leu o citado artigo, lê-lo, clicando no título  “O nó tático”, o que o ajudará a se situar melhor no diálogo a seguir:

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Antônio Carlos Garcia Jr. Que forças democráticas? Um bando de ladrões e antipatriotas comandam os partidos políticos com a única intenção de saquear os cofres públicos.

Celso Ribeiro As forças democráticas da nação são aquelas que aparelharam o Estado e tentaram perpetuar a corrupção com a força tarefa recrutada na escória?

Celso Ribeiro Bolsonaro merece críticas. Todo governo merece. Porém a dose que vocês estão ministrando não tem o propósito de salvar o paciente, vocês querem matá-lo. Quem vocês pretendem ressuscitar?

Celso Ribeiro Ajudem a sepultar o que restou da corja petista que devastou o país por mais de uma década, com a sincera impostura de bandidos convictos da desfibrada e indolente capacidade crítica de um povo, mas uma vez enganado e traído.

Vera Maria Paprocki Abrianos Crise antidemocrática foi criada pelo STF do Brasil, que tudo pode e nada faz para o bem do povo e do Brasil!

João Rego Caros Celso Ribeiro, e outros que comentarem aqui neste post. Sobre suas inquietações, dentro do mais sincero espírito de enriquecer o nosso diálogo, tenho a dizer o seguinte:

1.) Há um enorme equívoco no movimento pendular do nosso eleitorado, que saiu em louca e histérica correria do abismo que o PT cavou com suas narrativas salvíficas, voltadas para a exclusão social – quando na cúpula, habitava uma súcia de corruptos, que fizeram da corrupção uma política de Estado; para outro abismo, tão danoso à nação, quanto o primeiro. O abismo do radicalismo de extrema direita, igualmente munido de narrativa salvífica – Deus, Pátria, etc. – prometendo governar contra “tudo que aí está”.

2.) Ambas as forças políticas aqui citadas trazem, subjacentes em suas narrativas, escusos interesses que, na prática, têm a semente da discórdia e de ações antidemocráticas, alimentando-se e fortalecendo-se de um ódio latente em cada ser humano, contra o Estado e suas inevitáveis forças que controlam e dão coesão à sociedade.

3.) Este ódio, latente em cada um de nós, é o alvo de ações de bem articulada estratégia, que usa as redes sociais para, disseminando Fake News, manter seu público em permanente estado de guerra contra aquele que pensa diferente. O PT se fortaleceu deste discurso do “nós e eles”, Bolsonaro também. Ou seja, a polarização política entre o lulismo e o bolsonarismo corrói o espaço democrático, próprio à diversidade de ideias, próprio ao enriquecimento coletivo, decorrente do conflito administrado de forma civilizada; enfim, próprio da democracia.

4.) O grande erro de Bolsonaro foi acreditar em seu demiurgo, Olavo de Carvalho, que desde o começo propôs que ele governasse sem a intermediação das instituições, direto com o apoio do povo. Nossa recente história democrática tem instituições bem consolidadas que, bem ou mal, colocaram na prisão um ex-presidente, que cumpriu pena, além de vários ex-governadores do Rio. Elas são fortes o suficiente para se autorregular e expelir aventuras golpistas ou antidemocráticas que tentem corroê-las por dentro, como fez Hugo Chávez na Venezuela.

5.) A atitude de Bolsonaro – absolutamente espantosa em meio à maior pandemia da nossa modernidade – é se defender de investigações que vão chegar aos seu núcleo familiar, atingindo-o. São processos que estão no STF, como o das Fake News, e na Justiça do Rio, do envolvimento de seus filhos com milicianos. Para isto, usa a narrativa de que não pode governar com o Congresso nem com o STF?! Ora, ele foi eleito pelas vias da Constituição, e deve governar por estes mesmos limites que a constituição impõe. E o limite fundante da democracia é o respeito entre os três poderes.

6.) E nós aqui, por que nos debatemos tanto, olhando aquele que pensa diferente como um inimigo, e não como uma possível fonte valiosa, que pode nos ajudar a corrigir a nossa compreensão sobre fenômenos políticos; fenômenos que regem nossa vida em sociedade, que regem nossas vidas?

7.) Porque somos vítimas dessas narrativas que constroem os mitos e seus discursos histéricos. No fundo, somos crianças desamparadas, em busca de um pai, com suas promessas, que aplaquem nossas angústias, nossos medos existenciais. Quanto mais simplista a minha visão de mundo, aquela de “nós e eles”, mais comodamente me tranquilizo, mesmo que seja uma visão frágil e falsa, pois com o meu ódio contra o outro eu a fortaleço, eu faço dela minha fortaleza, cimentada de ódio, medo e ignorância.

8.) Pronto. Aí o militante chegou ao nível perfeito dos mentores dos algoritmos que alimentam de conteúdo falso as redes sociais. É o que defino como um sujeito capturado por uma ideologia. E é importante lembrar que esta captura não ocorre pela via do intelecto, ela é tecida pela via do afeto. Por isso é tão difícil dela se libertar. Quanto com mais raiva nos debatemos, mais emaranhados e imobilizados ficamos.

Bem, fico por aqui, pois tudo que falei, de forma bastante resumida, venho escrevendo há anos. São reflexões extraídas, com esforço, da ciência política, do estudo das religiões, da filosofia e da psicanálise. Pois de tudo que apontei acima também já fui agente e vítima – admito com o arrependimento que só o tempo nos permite perceber.  Tento cortar as minhas amarras da ignorância, pois claro que também as tenho, com as afiadas lâminas da razão e do conhecimento.

Upc Junior João Rego, Considero-o bastante para não acusá-lo do que tenta apontar aos outros.

Há sim uma inegável polarização, até com algumas atitudes radicais de parte a parte. Entretanto sua análise padece de conteúdo, ao afirmar que os que defendem o atual presidente o fazem por ideologia. Isto não é verdade. É possível que exista “radicais de direita” crentes apenas no conservadorismo, mas certamente não é a maioria. A maioria, se é que você não enxerga, quer uma mudança radical na política brasileira, por não acreditar mais em nenhum dos antigos atores políticos atuais, e para isto se apoiaram no que a eles efetivamente se opõe (Bolsonaro).

Boa parte deste público acreditou na promessa “socialista democrática” . Entretanto ela foi uma grande mentira que só favoreceu a corrupção e o beneplácito de uma elite, como se diz no Nordeste, “de pau oco”.

Gostaria de vê-lo dissertar com tanta eloquência sobre os governos Paulo Câmara e Geraldo Júlio, muito mais próximos do que o presidente Bolsonaro. Estes tem tomado posições bastante polêmicas sobre os pernambucanos, e não vejo uma linha sequer no veículo “SERÁ” sobre o assunto. Ou será que fazes parte do extremismo que condenas? É a máxima comunista em prática “acuse-os do que praticas”

Luiz Lima Quem criou o caos? Bolsonaro ou os seus opositores, que ainda não se conformaram que perderam a eleição, e tentam a todo modo prejudicar o seu governo. Nós respeitamos os governos de esquerda durante 16 anos. Vou lembrá-los que eles não estão contra Bolsonaro, estão contra o Brasil.

Celso Ribeiro Caro amigo João Rego,
A brilhante defesa que você faz do estado democrático de direito, tão bem elencado em sua narrativa, elenca princípios indiscutíveis e que devem fazer parte do ideário de todo cidadão.

Vejamos porém o que ocorre hoje com os três poderes da república, pilares fundamentais do estado democrático de direito. O STF e STJ, órgão maiores do Judiciário, nunca têm tempo de julgar e finalizar todos os processos que transitaram, com manutenção da pena, em segunda instância. Têm tempo, porém, para em curto espaço de tempo pautar duas reuniões plenárias para decidir sobre a legalidade da prisão em segunda instância. Na primeira vence a tese da prisão. Na segunda vence o texto constitucional do trânsito em julgado, que significa pôr em liberdade notórios chefes de quadrilha e seus cúmplices. Tem os juízes do STF um bom argumento: “esse é o princípio constitucional.” Quando Dilma foi afastada da presidência da república, por crime de responsabilidade, o juiz do STF que presidia a sessão, resolveu, num acordo com membros do Legislativo, não lhe cassar os direitos políticos por oito anos, como preceitua a Constituição Federal. Onde estava aí o zelo pelo que determina a Constituição Federal?

O legislativo, para não ir muito longe, engavetou recentemente a Emenda Constitucional que permitiria a prisão em segunda instância. Todos nós sabemos que ela não irá a plenário. Quando o homem do povo, aquele que, diante da pandemia, não tem recursos nem mesmo para comprar sabonetes para lavar as mãos, vê vereadores assinando termo de posse dentro da cadeia, e deputados federais abanando gordos contracheques, onde consta uma excrescência intitulada de “ajuda paletó”, dentre outras, ele é tomado de um profundo desprezo por esta instituição e por aquela…
Bolsonaro, representante do Poder Executivo, foi eleito presidente com 57 milhões de votos. A despeito de haver celebrado publicamente reconhecido torturador da ditadura militar, dirigido ofensas a parlamentares, reagido a provocações com um destempero emocional e um linguajar inapropriado para um chefe de estado, não representa ameaça alguma à democracia, com atos concretos. Falar bobagens é uma coisa, fazê-las é outra. Ele não é o presidente que eu gostaria que fosse. Não votei nele. No entanto, se Haddad vencesse as eleições, nós estaríamos hoje novamente reféns de uma quadrilha de saqueadores insaciáveis.
O Executivo, hoje, é o poder da república que menos contraria as disposições constitucionais.

João Rego Pessoal
Acho que este nosso diálogo está em bom nível. Claro que é impossível, aqui num post do Facebook, esperar que um convença o outro a mudar de opinião, o diálogo não é isto. Diálogo é quando as partes que pensam diferente conseguem, no embate das ideias, sair com uma nova percepção do que tinham antes, mesmo que pequena.

Gostaria de ter a autorização de vocês, debatedores, para publicar este nosso diálogo na Revista Será? www.revistasera.info.
Devemos mostrar que é possível divergir com civilidade.

Um abraço

Celso Ribeiro João Rego, você é uma pessoa admirável. Confesso que quando discordo pontualmente de algumas das suas observações, fico me perguntando: será que não estou enganado?
Continue escrevendo com o brilhantismo de sempre, em defesa dos seus grandes ideais. Abraços.

 

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