Pernambuco é diversidade. Basta ficar na praça do Arsenal, no Carnaval. Desfilam maracatus, blocos, metais, percussão, frevo. Na poesia, você sente o lirismo de Carlos Pena:

“Madame, em vosso claro olhar, e leve, navegam coloridas geografias, azul de litoral, paredes frias, vontade de fazer o que não deve ser feito, por ser coisa de outros dias, viva num instante muito breve, quando extraímos sal, areia e neve de vossas mãos singularmente esguia”.

Você pode também ouvir o calcáreo de João Cabral, em Escola das Facas: 

“Junto da pedra que o tempo rói, pingando como um pulso, inroído, o metal canhão parece eterno absoluto. Porém o pingar do tempo pontual, penetra tudo”.

Ou você pode ainda escutar o xenhenhém de Ascenço Ferreira:

“Sertão – Jatobá ! Sertão – Cabrobó ! Cabrobó ! Ouricuri ! Exu ! Lá vem o vaqueiro, pelos atalhos, tangendo as reses para os currais … Blém, blém, blém, cantam os chocalhos dos tristes bodes patriarcais. E os guizos fininhos das ovelhinhas ternas: dlim, dlim, dlim … E o sino da igreja velha: bão… bão … bão … o sol é vermelho como um tição ! “.

Hoje, indo para o azul de Suape, pensei e repensei essa diversidade. E, de repente, veio o óbvio: Pernambuco é igualmente unidade. Unanimidade. Suape. Todo governo, nos últimos quarenta e cinco anos, investiu no Complexo. Uma parte do investimento com recursos fiscais próprios.

Era uma manhã de março de 1975. O então governador, Moura Cavalcanti, convoca para uma reunião Gustavo Krause, Anchieta Hélcias e eu. Assunto: um projeto que vinha sendo defendido por Anchieta. José de Anchieta Moreira Hélcias. O mais pernambucano dos alagoanos. E o mais alagoano dos pernambucanos. Saímos da reunião com o sim de Moura para tocar os projetos setoriais. O plano diretor, contratado a uma empresa privada, estava sendo analisado pela equipe do projeto.

Antes de continuar, devo acentuar a participação de dois executivos importantes do projeto. Duas ausências presentes. Presenças afetivas e morais. Erasmo Almeida e Luis Siqueira. Erasmo projetou, licitou e executou os acessos rodoviário e ferroviários. O sistema de abastecimento de água com Bita e Utinga. A unidade de energia de 69 kv. Tudo nos prazos. E na correção gerencial que era o selo de Erasmo. O outo companheiro era o geólogo, Luis Siqueira. Uma máquina para trabalhar. E atencioso no tratar. Rigoroso. Ético.

Uma de suas atuações foi na identificação de imprecisões do plano diretor. Pressionado, me trouxe o assunto. E eu disse: não pague a fatura. Fui ao governador. O governador havia sido contatado por autoridade federal. Perguntou-me sobre o assunto. Ele disse: não pague. Só depois da correção.

Outro episódio, que sugere a complexidade do projeto, foi a desapropriação da área do Porto Industrial. São 17 mil hectares de terra. Levamos a Moura a aerofotogrametria do terreno com as locações de infraestrutura. E destacamos o aspecto sensível da questão fundiária. Ele virou-se e perguntou: – Cadê o decreto de desapropriação, Luiz ?

Em 2016, estou na Fundação Joaquim Nabuco. Supervisionando ações no solo sagrado do engenho Massagana. Soube que a empresa Suape programava a construção de um memorial. Ora, Suape e Massangana são vizinhos. Na riqueza pobreza da Zona da Mata. Então, fiz uma visita à diretoria da empresa. Que recebeu bem a proposta. Mas eu terminava meu mandato.

Hoje, voltando de Suape, recordei a conversa que acabara de ter com o atual presidente, Marcio Guiot. Gestor seguro. Demonstrando clareza com a questão ambiental. E sensibilidade com a paisagem social dos moradores da área do Complexo. Do alto do décimo andar do edifício administrativo da companhia, olhei o horizonte que de lá se descortina. Orgulho partilhado com tantos. O verde é a cor dominante da operação portuária. Um porto ecológico. Ali está um Pernambuco azul, verde, liquido, pétreo.  Plural e singular.