O sociólogo Sérgio Abranches conceitua o sistema de governo do Brasil como presidencialismo de coalizão, recurso do chefe do executivo para contornar a fragmentação partidária e formar uma maioria política no Congresso. Para a montagem desta coalizão, os presidentes recorrem a vários mecanismos de acordos e cooptação de parlamentares e partidos de diferentes ideologias e força de representação, muitos legítimos e até programáticos (como em qualquer sistema parlamentarista), mas, outros, baseados no clientelismo e até mesmo na compra direta de adesão e apoio. O Centrão foi sempre peça chave no presidencialismo de coalizão, dando apoio ao presidente que oferecia em troca os cobiçados prêmios em cargos ordenadores de despesa. O presidente Jair Bolsonaro se elegeu criticando a prática de negociação de apoios, denunciando a “velha política” e prometendo governar sem concessão à ganância de cargos dos partidos no Congresso. No primeiro ano de governo, Bolsonaro cumpriu a promessa, evitando o presidencialismo de coalizão e inaugurando outro modelo de governo, o presidencialismo de colisão, como chama Gustavo Krause, recorrendo a ataques e grosserias contra a oposição e os adversários políticos. Mesmo assim, e sem qualquer disposição e habilidade para a negociação política, o governo conseguiu o apoio do Congresso para projetos altamente polêmicos, incluindo a aprovação de algumas reformas constituicionais. Agora, contudo, quando despenca a aprovação pela população ao seu governo e surgem os processos que podem evidenciar crime de responsaabilidade e, portanto, ameaça de impeachment, o presidente Bolsonaro esqueceu seu discurso e se abraçou com o Centrão e com a velha política, na busca de proteção no Congresso. Com o Centrão e parte dos corruptos de sempre, Bolsonaro está formando a sua nova versão do presidencialismo de coalizão. O Brasil vai ter que aguentar agora a combinação perversa de uma coalizão presidencial oportunista e corrupta, com o estilo arrogante do presidencialismo de colisão.
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