O Populismo – Charge de autor não localizado.

 

Eles estão próximos. No populismo. Na visão conjuntural, de curto prazo. Na politização do substantivo, das decisões. Ou seja, nada de reformas estruturais. Que custam popularidade. E subtraem votos.

Vamos aos exemplos. Lula, no segundo mandato, alcançou aprovação popular superior a 70%. E não fez a reforma da Previdência. Afinal patrocinada por Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Dez anos depois. Mas Lula tolerou investimentos insustentáveis da Petrobras. Pelo menos quatro refinarias foram vendidas ou tiveram projetos desativados.

Por sua vez, Bolsonaro dispende todo esforço político em favor da permanência do auxílio emergencial. Após descobrir elevação de popularidade na concessão das parcelas iniciais de R$600,00. Até celebrou acordo com o Centrão. Ele que, na campanha, baseou sua caminhada com discurso anti-deputado. Anunciando repugnância a entendimento com parlamentares. Mas não apresenta projeto para discutir a reforma administrativa.

É evidente o temor do político diante de possível reação das corporações. Bolsonaro quer, desesperadamente, recursos para estender, no tempo e no espaço, o auxílio social aos pobres. Mas, nem tal desespero, o fez enfrentar os privilégios dos barões da administração pública brasileira.

O que une Lula e Bolsonaro no Bolsolula ? Ou no Lulanaro, tanto faz ?

O gosto de poder. É penoso. Porque poder é política. Mas a política tem um substrato ético. Que a inspira. Segundo Aristóteles, política é o bem comum. Não é a reeleição do príncipe.

Política é caminho. Poder é destino. Poder e política tem aspecto comum. No lidar com o povo, com políticas públicas, com viabilidades orçamentárias, com normas legais, com relacionamento inter institucional. Quando decisões tomadas, no poder, miram o benefício do Príncipe, são distorcidas. Deixam de executar políticas sustentáveis. Que garantiriam benefícios à população. E viabilizariam a existência fiscal do Estado. Duradouramente.

Na prática, o ex presidente e o atual presidente foram seduzidos pelo verão de taxas passageiras de aprovação popular. Tanto Lula quanto Bolsonaro navegaram a superfície enganosa do mecanismo clientelista. E ficaram na espuma do varejo. Mero aumento eventual de demanda. Sem correspondência na mudança de estruturas sociais. Na transformação tecnológica. Sem aumento sustentável de produção. Sem elevar a produtividade. Sem ampliar a escolaridade.

Mas, o tempo bolsonarista traz estranhas turvações. De revogado passado em processos de governança. Militarização de quadros decisórios federais. Interinidade no ministério da Saúde durante pandemia. O ministro da Justiça indo a tribunal para tratar de assuntos singulares. Vagas de excelências vitalícias gerando disputa e rebaixada prestação de serviço entre membros da PGR e da AGU. E, last but not least, agressivo desrespeito às práticas democráticas.

Nesses tempos obscuros, outra estranheza é a reprodução de milícias. A novidade agora é a milícia administrativa do prefeito Crivela. Que pretende impedir que o cidadão seja entrevistado sobre a qualidade de atendimento nos hospitais cariocas.

No espaço público, atitudes e comportamentos são imitados. Por isso, é tão relevante a presença de políticos exemplares na vida pública. Porque geram modelos. Que são reproduzidos. Se o modelo é republicano, fortalece a República. Se o modelo é populista, amplia o populismo. Se o modelo é autoritário, alarga o autoritarismo. E se o modelo é populista autoritário, o regime beira o abismo político.

Os custos do populismo autoritário são imensos. Porque começam na ausente exemplaridade ética. Passam pela crise fiscal e crescente endividamento público. E alcançam a instrumentalização do Estado, desembocando na exceção.

Temos duas etapas para garantir a via democrática: 2020 e 2022.