A diretora de cinema, chinesa, Chloé Zao, levou o Oscar de melhor longa, domingo passado. Com Nomadland. A mesma obra ganhou os prêmios de melhor direção e melhor atriz. Este, para Frances McDormand. Seu terceiro Oscar. Agora, perde apenas para Katherine Hepburn. Com quatro Oscars.

O filme é profundamente americano. Trata da caminhada de uma viúva que mora num trailer. Viajando pelas veredas do país. Buscando trabalhos temporários. Não se considera homeless. Mas houseless. Na prática, como mostra o filme, uma nômade. Com toques de road movie. E de easy rider.

O trabalho da diretora chinesa sobre a epopeia social de americanos mostra um país em transe. Ao estilo Glauberrochiano. Com menos alucinação, evidente. É um canto ao desamparo na maior economia do planeta. Algo paradoxal numa sociedade de metrópoles. Mas são fissuras que o homem contemporâneo abre numa espécie de autorredenção.

Para além do valor estético e axiológico, a obra tem simbolismo político. É o encontro entre a cultura chinesa e a cultura americana. Uma diretora de cinema da China pensando artisticamente, sociologicamente, os Estados Unidos. Um charme.

Mostra como a realidade está acima dos preconceitos. Da visão distorcida dos que não enxergam o avanço das ideias.

Pois bem. Quarenta e oito horas depois desse evento, o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, fez afirmativa cândida. Disse ele: “A China inventou o corona vírus. Mas não sabe fazer a vacina que cura”. Está claro porque o governo naufraga na economia. E o país afunda na política.

Este governo está no século 18. É contra a ciência, na vacina. É contra o meio ambiente, na Amazônia. É contra a educação com liberdade, no ensino fundamentalista. É contra a paz, na liberação de armas de grosso calibre para a população. E é contra a China, o maior parceiro comercial do Brasil. Valha-nos, Santa Rita de Cássia.

Gilberto Freyre defendia que o homem luta com o tempo para evitar não a velhice, nem a morte, que ninguém as evita. Mas para atenuar a obsolescência. Há governos obsoletos. E os há modernos. Há ministros obsoletos. E os há modernos.

O moderno apenas moderno, na retórica, na visão obtusa, é efêmero. O moderno orgânico é transcendente. Projeta seus elos transformadores para o futuro. Freyre afirmava que nenhuma nação excede a brasileira na riqueza do conjunto de cultura. Tradições, originalidades, valores, inovação. Mestiço, moreno. Metarracial.

Nesse sentido, o homem pós moderno é um escultor de si mesmo. Escultura que apresenta novo tipo biossocial. O homem pós moderno é despreconceituoso e global. O Brasil cada vez se afasta mais da modernidade.