“A vida é pouco e a dor é muito”, dizia Pessoa (In Articulo Mortis). Mas a dor fica e a vida segue. Aproveito a regra e seguem histórias de livro que estou escrevendo (título da coluna).
JESSIER QUIRINO, poeta. Contou história de vizinho, Nino da Padaria, que todo dia brigava com a sogra. Naquela manhã, acordou com o chinelo trocado, pisando em bosta de cururu, discutiu de novo com a velha e saiu de casa mordido. Ao sentar no banco da praça, uma cigana pediu para ler sua mão.
– Tou vendo aqui que o senhor não se dá bem com sua sogra.
– Isso tá na minha mão?
– Tá, sim. E tou vendo, também, que ela vai morrer logo.
– Por favor, minha senhora, olhe bem direitinho e diga se vou ser absolvido.
JOSÉ PASTORE, escritor. Em Paris, Eros Grau (ex-ministro do Supremo) lhe conta caminhada, indo a restaurante, com ministro da Suprema Côrte da França, Jean-Claude Colliard. E o francês
– Eros, você percebeu que ninguém me conhece aqui em Paris, e muito menos me cumprimenta? Sabe por quê? Porque eu não sou artista de televisão.
Pastore pensou no Supremo do Brasil. E começou a rir.
MARIA LECTÍCIA, a quem obedeço. Pouco depois da missa de trigésimo dia de dona do Carmo, sua mãe. Noite alta, sonolenta, pergunta
– Minha mãe já dormiu?
– Já.
– Obrigado.
MILLÔR FERNANDES, gênio. Na Lagoa Azul, de vez em quando, tem andada dos siris. Partem do mangue, vem se lavar no mar; e depois, usando palavras de Pessoa (Caeiro, no Guardador), para de onde vieram, voltam depois. No trajeto, com frequência, passam por dentro de nossa casa. Com ordem, aos funcionários, para não serem incomodados. Noite dessas, grito pavoroso. De Guga, mulher do arquiteto Paulo Casé, que sai do quarto com um siri pendurado na orelha. Dei um tapa e ele voou. Millôr completou a cena com esse comentário,
– Siri melhor quem siri por último.
SALMEN GISKE, construtor. Foram ao médico. Eliane entrou antes e pediu providências. Depois, Salmen. E o renomado mestre Sérgio Gondim foi logo perguntando
– Soube que está bebendo todos os dias.
– Não senhor.
– Como?
– Não. Estou bebendo todas as noites.
– Então é diferente. Me convide prá gente beber juntos.
E Eliane
– Não é possível. Isso é uma pouca vergonha!
Amigo, Zé Paulinho!
Cordiais saudações.
São nesses episódios do nosso cotidiano que experimentamos o verdadeiro – e gigantesco! – humor da alma nacional.
Bravo!!
Viva o Brasil!
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