Não houve golpe no dia 7 de setembro. Na verdade, não havia condições de Bolsonaro virar a mesa e atrair as Forças Armadas. Para isso teria de provocar um clima de violência e caos social no país, que provavelmente pretendia começar na terça-feira. Mas foi um primeiro ensaio de golpe. Por pouco, os milicianos de Bolsonaro não invadiram e atacaram o STF e o Congresso, o que poderia desencadear um grande tumulto de consequências imprevisíveis. Chegaram a romper uma primeira barreira policial, mas foram detidos em seguida.
Na sua movimentação e discurso, Bolsonaro queimou as pontes que permitiriam um recuo, e agora deve estar conspirando para lançar um segundo ataque. Se não for detido, o Brasil vai conviver com este clima de guerra, de novas batalhas, até as eleições, destruindo a economia e fragmentando mais ainda a sociedade brasileira.
A reação dos presidentes do STF e do TSE foram muito duras e contundentes, os pronunciamentos dos presidentes das duas casas do Congresso foram moderados, mas importantes, os partidos ensaiaram uma mobilização, mas parecem ainda assustados com a capacidade demonstrada pelo presidente de atrair seguidores e botar gente nas ruas. Não falta nenhum elemento para a abertura de um processo de impeachment, ou mesmo para a cassação do seu mandato. Não apenas pelas agressões e ameaças às instituições, mas pelo crime eleitoral de campanha antecipada e pelo crime contra o patrimônio público, com a utilização da estrutura do Estado para a sua participação nos eventos de Brasília e de São Paulo.
A isso soma-se o crime de responsabilidade pela tentativa de tocar fogo no país. O fato de Bolsonaro contar com tantos apoiadores, e cerca de 20/25% de intenção de votos, dificulta, mas não obstaculiza o impedimento. Ele está destruindo o Brasil e tem alto nível de rejeição. É verdade que a abertura do processo de impeachment pode desencadear novas batalhas. Mas estas virão de todo jeito, e para salvar o país é necessário tomar a ofensiva. O entrave é o presidente da Câmara de Deputados, que guarda na gaveta centenas de demandas de impeachment. É um absurdo este poder excepcional que tem o presidente da Câmara. Os políticos e partidos de oposição que entendem a gravidade da situação deveriam exercer uma forte pressão sobre ele, exigindo a imediata abertura do processo de impeachment. Ao mesmo tempo, devem acelerar a formação uma grande Frente Democrática, para opor-se às futuras provocações bolsonaristas.
Concordo: até a tentativa de golpe de 7 de setembro ainda podia se justificar uma posição de “deixar sangrar” até as eleições, de evitar a paralisia de uma discussão de impeachment. Mas desde 7 de setembro ficou claro o quanto o conflito permanente e a incerteza que Bolsonaro gera estão prejudicando a economia. Então? Vamos deixar pairando essa “espada de Dâmocles” do golpismo de Bolsonaro? Pelo visto é esse o resultado da carta de Temer, desgraçadamente.